terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Aprender a não-aprender: crise nas universidades - Parte I

A máquina, finalmente, chegou ao sistema de ensino superior. Claro que isto não é novidade porém, num período anterior, a máquina estava escondida por trás do sistema das aparências. Agora desfila entre os campus universitários de batom, vestido vermelho e salto alto.

Eu queria fazer um curso superior. Na primeira faculdade a máquina sentava na cadeira da frente, na de trás, na do meu lado esquerdo, em meu lado direito e também ministrava as aulas. Desisti de querer aprender.

Passado alguns anos eu ainda queria fazer um curso superior. Procurei aquele que satisfaria a minha alma e que, até então, considerava que seria o mais diferente possível: professores estranhos, alunos estranhos, curso estranho - todos unidos pela estranheza de ser o que se é. Resolvi cursar licenciatura em filosofia.

Iniciei o curso com muita empolgação, mas logo viria as primeiras decepções. Ainda no primeiro dia de aula, no momento da apresentação dos alunos, o coordenador do curso perguntou porque cada um havia escolhido filosofia. Segue algumas respostas:
"Escolhi filosofia porque eu quero pirar!"
"Era o curso mais barato da grade."
"É porque estou desempregado. Como fiquei sabendo que agora filosofia vai ser disciplina obrigatória em todas as escolas de ensino médio, vejo o curso como uma oportunidade de trabalhar como professor." - Detalhe: São Paulo não aderiu a esta lei e a notícia foi divulgada pouco depois do meio do ano de 2007. Logo, o aluno desistiu do curso.

Depois de diversas respostas como estas pensei seriamente em desistir do curso, mas era apenas o primeiro dia. Minha relação seria somente entre eu e o corpo docente. Decidi que não iria fazer amizade e polemizar durante as aulas.

E a máquina? O que tem haver com isto? Pois bem, não poderíamos ter um processo de seleção mais rígido? Lógico que não, afinal, com um processo rígido, como poderia lotar uma classe com 60 alunos? No máximo ficaria uns 10 alunos, sendo bem generoso.

Quer saber como são as aulas de filosofia? Celulares tocando o tempo inteiro, muita conversa em grupos na sala-de-aula, show de exibicionismo, gente que baixa a cabeça na mesa para dormir, etc. Quando o professor provoca uma discussão surgem argumentos fracos e, muitas vezes, banais. Ou seja, o curso de filosofia é igual ao que você faz, seja marketing, turismo ou engenharia. O sistema está em ruínas.

E, como a máquina não se satisfaz com pouco, agora temos filosofia online - via EAD: Ensino à Distância - e você poderá fazer praticamente tudo atrás do computador. Sendo assim a máquina abriu 3000 (Três Mil) vagas! Sou a favor do EAD, mas não existe experiência nenhuma nesta metodologia, sendo assim não seria um exagero fazer 3000 cobaias (Obs. O curso EAD e presencial é praticamente o mesmo preço)?

Mais uma coisa, nesta universidade se, ao término de um semestre, você não tiver pago ele integralmente, será proibido de cursar o semestre seguinte. A máquina intimida.

Na segunda parte iremos focar mais no sistema de ensino, onde os professores não estão motivados a dar aulas - a única preocupação é receber o sálario. Talvez por que a máquina diga: "aprove todos, gere receita e no final do mês você terá a sua recompensa".

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