quarta-feira, 2 de abril de 2008

Cenas de Sexo: Prostituição Mental

Era uma vez um senhor muito educado e bem vestido chamado "Máquina". Tinha mais ou menos 14 anos quando o conheci. Fiquei encantado com a sua onipotente presença, com a sua grave voz e com as suas promessas para um futuro muito próximo.

Não resisti aos seus encantados e logo extendi minhas mãos para ele. Calorosamente ele me recebeu. Disse que eu era promissor e que coisas boas me aguardavam.

Enquanto caminhávamos, ele apontava o seu dedo para todas as coisas e dizia: "É tudo meu. Vocè também será parte disto!". E sorria. Seduzido, acabava por retribuir o sorriso de volta. Sonhava de olhos abertos sobre o que o futuro me reservava através das orientações de meu tão estimado tutor.

Finalmente chegamos em um estabelecimento e o sr. Máquina disse: "como todo o resto, também é meu. Fique aqui que eu já volto." Claro, por que não?

Então chegou uma pessoa engravatada e me falou: "vista este uniforme e fique atrás do balcão". Claro, por que não?

Somente depois de quatro anos o sr. Máquina reapareceu, sorrindo como sempre. Ele me disse: "Demorei?", e eu "De maneira alguma!", ancioso pelo meu reencontro com o homem que transformava a água em vinho. "Então me acompanhe" - disse o sr. Máquina.

Desta vez ele me levou para um prédio muito alto. Quando chegamos no ultimo andar, ele me levou para a janela e me fez observar a imensidão de nossa cidade. Estava apaixonado. E então ele me disse: "É tudo meu".

Apenas assenti com a cabeça. O sr. Máquina se aproximou, me pegou por trás, massageando os meus ombros, e sussurrou em meu ouvido: "Quanto você cobraria?" e eu, espantado, questionei: "Você me quer?" e ele, maliciosamente: "Claro que te quero". Nem pensei com o cuidado que a questão merece, apenas respondi, envergonhado: "Apenas algum dinheiro".

Então ele me pegou pela mão e me levou até um computador, dez andares para baixo de onde estávamos. "Sente-se, meu jovem".

E então começou...

Variável para cá, subtração de lá. Soma dois, abate 3, eleva o expoente, faz a divisão. Levanta, senta e recomeça tudo de novo: (x.x+3):5², logo 8+3³.7+3y(x².x³), e assim numa sequência se fim. Pensa, pensa, pensa e repensa, repensa, repensa. Deu errado, dá certo. Engano, minto, sou prostituido, engulo em seco e fábrico dinheiro. Sou humilhado, meus ouvidos estão tinindo palavras chulas: bolsa, valores, ações, redução, meta, feedback, conta, prestação, atraso, serviço, lucro, prejuizo, e eu já falo um idioma que não compreendo.

Sou estuprado mentalmente, sem interrupções. Fisicamente, os meus dedos são práticos, a minha bunda esquenta a cadeira e quando sou chamado as minhas pernas se movimentam sem hesitar. Já não penso mais por mim mesmo, se é que penso, já não sei mais quem sou.

Chega! Me cansei!

"Sr. Máquina, poderia falar contigo um instante."

"Sim?" - sua voz já não é mais tão sedutora para mim, já fui tão usado que nada mais me intimida.

"Quero sair daqui. Quero minha liberdade de volta. Lhe agradeço pela chance, mas gostaria que o senhor me dê dispensa."

"Claro, meu filho. Eu lhe entendo. Porém como você irá pagar o aluguel de minha casa? Como irá entrar em minhas danceterias? Como irá assistir a minha televisão? Como irá se alimentar com os meus produtos? Como irá conversar com as minhas pessoas? Se sair daqui, você estará fora das minhas propriedades, fora do meu sistema."

Fico em silêncio.

"Meu filho, vou fingir que não tivemos esta conversa. Volte para o seu lugar".

Quanto caminho em direção a porta, observo que homens gigantes engravatados estão me esperando com um sorriso malicioso. Vagarosamente me dirijo em direção à eles.

Quando passo a porta, todos eles me pegam e me estrupam infinita vezes. Agora minha mente é apenas um rombo gigante, um vazio imenso, e não dói mais. Podem vir que eu não ligo.

Só me dêem o meu dinheiro e aproveitem o quiser de mim. Eu amo o Sr. Máquina e eu amo fazer parte do sistema.

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