terça-feira, 21 de abril de 2009

Castigo Verde: Você Tem o Que Merece

Na tarde do dia 17 de Março de 2009, participei como coadjuvante de mais um episódio caótico em São Paulo: fiquei ilhado após um tempestade torrencial que parecia não ter fim. Não foi a primeira vez, não foi a segunda e certamente não será a ultima.

Meu espírito rebelde não permite que eu simplesmente feche os olhos para a questão, pois o meu sentimento de vergonha e humilhação é maior do que a minha racionalidade. Outra vezes já comentamos neste blog sobre algumas atitudes simples que poderiam ajudar, e muito, a resolver uma boa parte dos pontos de alagamentos que se formam após alguns instantes de chuva forte em nossa região.

O problema é que ninguém lê este blog - ao menos, não com criticidade e com a proposta de refletir perante a questão. Claro que estou generalizando o ponto, porém a maioria prefere ler a coluna do futebol, da novela, da fofoca e do glamour.

A região do Grande ABC, a qual sou residente, ficou emerge debaixo de água e ainda assim a capa dos principais portais de internet estampam a morte de Clodovil Hernandes. O que esperar de um país assim? Enquanto estive preso nas quase 5 horas, num trajeto que normalmente levaria em torno de 25 minutos, em meio à escuridão de uma rua sem luz, escutei, indignado, na rádio Bandeirantes que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um pronunciamento oficial sobre a morte do comediante Clodovil.


Mas e a chuva, senhor presidente? Como é que fica a questão das enchentes? Por favor, me dê ao menos uma palavra! Nós só estávamos nas ruas porque tinhámos que trabalhar! Eu queria ficar em casa, pode acreditar, mas dependo dos 66% do que resta do meu salário para sobreviver - pois os outros 34% eu deixo com vocês para resolverem estes problemas sociais que vocês não resolvem! Ontem eu só queria ficar um tempinho a mais com a minha familia, antes de iniciar a minha sina novamente, mas não foi possível!

Ontem, senhor presidente, enquanto estava encurralado por uma centena de veículos parados nas ruas alagadas e escuras, fiquei com medo, pois um monte de vândalos estavam assaltando os motoristas que estavam parados logo ali ao meu lado! Então me dê uma palavra, senhor presidente, por favor! Diga que você vai dar um jeito nisto! Diga que irá ligar para o nosso governador de merda, o tal do José Serra, médico que não sabe nada de engenharia, e fale para ele consertar esta bagunça logo que nós, cidadãos, não aguentamos mais!

Não adianta investir somente em obras. Precisa haver um programa de conscientização ambiental de massa! Vamos usar esta porcaria da televisão para invadir os intervalos com propagandas de como cuidar do lixo, como evitar a utilização de sacolas plásticas, de quando ir ao mercado levar suas próprias sacolas, de como jogar o lixo para calote e afins.


Na segunda-feira a noite (16/03), nas ruas de São Caetano do Sul, uma das regiões mais afetadas no estrago do dia 17 de Março, observei uma série de lixo amontuado nas calçadas. Milhares de sacolinhas de plástico aguardando serem apanhadas para os caminhões de lixo. Se naquele interim um chuva bem superficial caísse, aquelas sacolinhas nadariam até o bueiro mais próximo, que ficaria entupido e água da chuva ficaria sem possibilidades de evasão, logo surgiria um ponto de alagamento.

De fato, estão surgindo pontos de alagamentos que eram desconhecidos de nós. Se antes apenas ruas que formassem uma espécie de concha ficavam alagadas - sem investimento de drenagem - hoje observamos avenidas planas como uma infinita piscina olímpica, afinal o lixo não deixa a água escorrer e surge um acúmulo inédito.


Lembro que uma vez eu estive falando sobre isto com uma pessoa e ela disse "mas eu uso mesmo a sacolinha, pois ela é prática e reaproveito para algum uso, senão o que irei fazer com ela? Se está tendo alagamento o problema não é nosso, é do governo a qual destinamos o dinheiro de nossos impostos!". Ou seja, você tem o que merece! Se você não se vê como parte do problema, então merece ficar ilhado e submerso!

Neste caso só posso desejar que o próximo castigo verde atinja aqueles que simplesmente dão as costas para o problema, não por vingança, mas para que abra os olhos da próxima vez que eles forem alertados!

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