quinta-feira, 25 de junho de 2009
Por que Agnóstico, e não Ateu?
A partir do momento que o ateísmo busca responder aos mesmos problemas de origem extrasensorial através da razão ou da natureza, entendo que aqui também formamos uma religião. Além do quê, sistematicamente, ateus valem-se de argumentos semelhantes para responder à determinados assuntos, isto porque foi criado uma atitude ateista de se pensar e, portanto, uma espécie de estatuto de como negar á Deus. Neste caso, Richard Dawkins pode ser considerado uma espécie de pastor do ateísmo fudamentalista - !!! - (sendo que da mesma forma que ele crítica o cristianismo em seus livros, há livros que criticam toda a sua obra - e não são religiosos, mas professores de Oxford, por exemplo).
O ateísmo por padrão é um movimento materialista, visto que a matéria precede à todas as coisas (opinião, raciocínio e intelecto). Neste caso, a física precede a metafísica, o que nos leva a seguinte conclusão: o corpo precede a mente. Platão chegou a explorar este tema no diálogo Leis. A verdade é que não há como provar a sentença que diz que a matéria precede a consciência, e por isto o ateísmo cai no mesmo ciclo das religiões: provar algo que está para além do conhecimento.
Se o ateu admitir que a consciência precede a matéria teria que afirmar que há algo de metafísico e verdadeiro no mundo. Em vias de fato, é isto que muitos pensadores fizeram ao longo da história, a começar pelo próprio Platão e Aristóteles, que sugeriu um Primeiro Motor como causa inicial. Esta, talvez, seja a principal queixa de Berkeley: negar Deus em tudo, menos no princípio. Isto porque é praticamente impossível explicar o início de tudo.
Talvez iremos chegar no dia em que conseguiremos explicar o início da vida (a teoria do Big Bang é muito respeitada nos dias atuais), porém isto ainda não seria suficiente para provar a inexistência de Deus ou da vida pós-morte. Já há teólogos, inclusive, que valem da ciência para enaltecer ainda mais as qualidades divinas do Deus onipotente.
Além disto o ateísmo se vale de dois métodos para negar Deus: a razão e a ciência. O primeiro está em crise desde os escritos de Imannuel Kant, além do que a razão é traiçoeira e sempre insiste em nos enganar (faça uma simples divisão de dez por três e veja onde você chegará). O segundo está sempre em mutação e nunca nos trás verdades duradouras: ano após ano surgem conhecimentos mais seguros que negam os anteriores, e isto num ciclo sem fim (recomendo os livros de Thomas Kuhn à respeito da vunerabilidade das descobertas científicas). É comum que filósofos científicos digam que a cada nova descoberta uma falsidade seja substituida por outra um pouco menos falsa. Através de genealogia, observamos uma centena de exemplos que confirmam isto. Os próprios físicos obedecem à axiomas (postulados) inquestionáveis em suas investigações.
Uma vez Bertrand Russel, num ensaio conhecido como "Sou ateu ou sou agnóstico?", dizia justamente sobre a dificuldade de tomar um partido. O filósofo disse que ele realmente acreditava que não havia nenhum argumento que provasse a inexistência de Deus, porém ele também não poderia provar que os deuses de Homero (Zeus, Thor, Odin, entre outros) não existíssem também. Neste caso, o simples absurdo de não poder provar nada a respeito deste assunto já lhe traria uma inclinação ateísta, porém ele continua a se considerar agnóstico, visto que para ser ateu ele também precisaria valer apenas da imaginação.
Ainda assim, isto não prova que não há algo fora deste mundo, pois o universo que as religiões transitam é o metafísico, e isto está para além do escopo de qualquer ciência ou razão. De modo geral para os religiosos é mais fácil um acontecimento divino alterar o ponto de vista descrente do que o contrário, pois Deus, da forma que é pensado, poderá se revelar, visto que sua inexistência jamais poderá ser provada.
Ou seja, da mesma forma que a ciência espera, um dia, desbancar a crença em Deus, os religiosos esperam que, um dia, Deus apareça e converta os não-crentes.
Novamente entramos num ciclo sem fim de discussões sem fim. Como o ateismo não é conclusivo para explicar questões do além-mundo, permaneço agnóstico, e não ateu.
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Acredito que existe uma certa confusão entre a compreensão do "Agnóstico e Ateu", O "Agnóstico" é interpretado pelo "povo" como "Alguém que não acredita em Deus até o momento em que é provado a sua existência" ao invés de se baseiar em "Alguém que acredita que a questão da existência ou não de um poder superior (Deus) não foi nem nunca será resolvida", e o Ateu como "alguém que não acredita em nada" que seria "posição filosófica absoluta de que não existem deuses, mesmo sem provas".
ResponderExcluirPorém toda essa discussão nunca nos leva a uma conclusão, por fim, isso torna-se hiper-realismo? Uma discussão sobre "Deus" que não se tem provas sobre a sua existência, e o ateu sendo contrário e defendedo a inexistência do que provavelmente não existe ou existe, meio confuso a minha explicação.
Mesmo que Deus apareça de uma forma "surrealista", pelo menos para mim será um choque momentâneo, pois continuarei fazendo as minhas coisas, trabalhando, sobrevivendo, etc, como um robô do capitalismo...
É o mesmo que um Alien com a cara do Bozo poder aparecer dos céus e destruir o planeta, enfim, entender esse mistério todo é fritar nossos neurônios.
Mas acredito seriamente, que a mente humana é limitada, tal como alguns animais não enxergam, outros são deficientes... Talvez com a evolução nossa mente e sentidos comece interpretar melhor o nosso mundo, tal como racicionar para criar uma roda era uma coisa complexa milhões de anos atrás, talvez hoje ainda não possuimos a inteligência necessária para ver o óbvio.
Olá Marcel! Tudo bem?
ResponderExcluirSeu dourado comentário está perfeito e acrescenta muito no conteúdo dos posts desta série. A sua definição para este complexo dilema está excelente e eu não mexeria em nenhuma vírgula.
Ao contrário, só tenho a acrescentar algo que eu passei recentemente. Da mesma forma que você disse que o povo acredita que o agnóstico não acredita em Deus até o momento da revelação, existem ateus que insistem em dizer que agnósticos são ateus sem coragem de negar à Deus publicamente, uma vez que o próprio ato da dúvida sugere à negação.
Eles estão errados em querer considerar o agnóstico um ateu justamente por que não temos evidências da existência ou inexistência. Eu, particularmente, desacredito grande parte da bíblia cristã, porém ela foi escrita por homens. Isto não quer dizer que não exista um Deus ou mesmo mais de um.
Talvez os ateus que enquadrem agnósticos nesta categoria confudem à negação do cristianismo com a negação de uma entidade superior.
Quando à discussão da existência/inexistência superior ser hiper-real é algo complicado de responder. Hiper-real é um multivirtual que ofusca o que há de verdade por debaixo do pano. Só que se existe a possibilidade de não haver Deus, não há hiper-realismo uma vez que estamos diante do não-existir. De fato, este é principal argumento ateísta.
Só que a partir do momento que a existência de Deus também se torna possível, justamente por que seu objeto de estudo está para o metafísico, falamos de uma realidade não atingível. Aqui também não se aplica o hiper-real, pois não temos a possibilidade de conhecer.
Agora quando você introduz os escritos sagrados, as pessoas que acreditam e a história divina, aí sim temos uma discussão hiper-real, pois partindo do pressuposto que tudo seja evidência (seja forte ou seja fraca), a dúvida surge apenas devido a perca de referêncial para afirmar ou negar.
Veja que a questão é muito complexa. Porém você tem razão: somos limitados e podemos entender melhor as coisas quando evoluirmos o nosso espírito. Mas sabe qual é o momento que isto acontece? Quando surge a dúvida, e não a afirmação como muitos pensam!
Abraços!
Realmente é uma questão muito complexa. Confesso que o assunto sobre o "Hiper-real" é um tanto confuso para mim, me confrontei com essa palavra pesquisando sobre o filme "Gummo" e por meio deste cheguei ao seu blog.
ResponderExcluirObrigado por esclarecer esse assunto e concordo com você que a evolução/mudança só acontece quando surge a dúvida, o questionamento. Só que a dúvida e o questionamento não é algo confortável para a maioria das pessoas.
Vou ser breve nesse comentário, pois quero ler outros posts do blog, poderia comentar mais sobre o assunto, mas é muito complexo, também não tenho tal conhecimento, experiência de vida e educação pra dar um comentário conciso.
Abraço!
Caro Evandro,
ResponderExcluirChegando no seu blog através da comunidade sobre o filme "Donnie Darko" do Orkut, devo dizer que gostei muito de vários posts - especialmente daqueles que versam sobre a película. Especificamente sobre a questão agnóstico ou ateu, a referência ao texto de Bertrand Russell foi muito feliz, ainda que ele mesmo não tenha uma resposta muito definida. De qualquer forma, a discussão me lembrou um outro posicionamento possível, que tem lastro em alguns autores influenciados por Russell: falo daqueles que compuseram o Círculo de Viena, chamados de "positivistas lógicos". Para Moritz Schlick e companhia, que organizaram uma filosofia com atitudes essencialmente antimetafísicas (ainda que, como dito por Rudolf Carnap, não houvesse uma "agenda" antimetafísica, sendo que apenas o tema não se coadunava com os princípios adotados pelo grupo), a resposta talvez seria: bom, primeiramente, devemos definir o que se entende por d-e-u-s. Deus. Que ela define, num campo semântico? Há alguma possibilidade dela poder ser utilizada numa frase com significado (meaningful statement)? Num artigo chamado "Positivism and Realism", publicado no livro "Logical Positivism", de A.J. Ayer, Schlick afirma, versando sobre a questão metafísica: "The denial of the existence of a transcendental world would be just as much metaphysical proposition as its assertion; the consistent empiricist does not therefore deny the transcendent, but declares both its denial and its affirmation to be equally devoid of meaning". Para complementar, em seguida: "I am convinced that the main resistances to our viewpoint stem from the fact that the difference between the falsity and the meaninglessness of a proposition is not heeded. The proposition ‘Talk of a metaphysical external world is meaningless’ does not say ‘There is no metaphysical external world’, but something toto coelo different. The empiricist does not say to the metaphysician: ‘Your words assert something false’, but ‘Your words assert nothing at all!’ He does not contradict the metaphysician, but says: ‘I do not understand you’".
Sinceramente, pela própria experiência lógica, estou mais inclinado a esta terceira visão - mesmo correndo o risco de ser atacado em várias frentes igualmente racionalistas - fazendo uso de um outro inspirador do Círculo, Ludwig Wittgenstein: em "Tractatus Logico-Philosophicus", escreveu o autor que, "sobre aquilo que não se pode falar, deve-se calar". Sobre aquilo que não se pode falar logicamente, deve-se calar.
Uma vez mais, parabéns pelo trabalho desenvolvido.
H.D.C.
Olá H.D.C.
ResponderExcluirMuito grato por seu comentário técnico e filosófico que só contribui com o trabalho.
Concordo com o seu ponto, talvez seja por isto que tome uma posição agnóstica. Sua frase final já foi uma de minhas prediletas e me abriu a mente para um mar sem fim de reflexões. Wittgenstein é um velho conhecido deste blog.
Refleti sobre esta sentença num post antigo, espero que você retorne e possa dar uma olhada e (quem sabe?) contribuir ainda mais com o seu conhecimento:
http://www.evenancio.com/2008/04/wittgenstein-o-fim-da-filosofia.html
Até breve!
Abraços,
A verdade, óbvia, inegável, é : se os crentes estiverem errados, nada acontecerá com eles ao "morrerem", pois terão morrido felizes, acreditando em Deus, em vida além da "morte", etc, mesmo estando errados; já os ateus, se estiverem errados, quando "morrerem", vão sofrer um bocado, no mínimo por verem o quanto foram tolos, afirmando por toda vida algo que era falso, e por terem incentivado outros à mesma crença. Sem falarmos na situação espiritual ruim em que poderão se encontrar...
ResponderExcluirBem... sabedoria mesmo é não se arriscar afirmando algo que não pode provar e que pode lhe trazer consequências ruins depois, se estiver errado... Eu, se tivesse dúvidas quanto a uma vida além desta e quanto a um ser maior, criador de todas as coisas, não me arriscaria a posicionar-me ateu. Preferiria classificar-me "agnóstico",por exemplo, o que não é a mesma coisa e é bem mais sábio... E, por favor, que nenhum ateu diga que pode "provar" a não existência de vida além desta e de um ser ou uma inteligência maior, criadora do Universo, da vida, chame-o Deus ou outro nome...
Gostei, Parabéns!!!!!
ResponderExcluirGostei, Parabéns!!!!!
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