sexta-feira, 18 de junho de 2010
José Saramago
Se a vida passa como o vento, Saramago foi o vendaval de nosso tempo. Maior expoente da literatura mundial, na data de hoje o meu escritor predileto deixa de respirar. Seu coração não mais bate, mas o nosso toca uma canção mais lenta, mais triste, mais obscura e mais melancólica.
Não sei mais o que dizer, nem sei com quem falar. Falo da morte de Saramago para as pessoas, mas elas logo desviam o assunto: está havendo copa do mundo. Pobre destas que não conhecem as douradas obras deste nobre português. Pobre de nós, que não mais teremos os seus livros para apreciar.
Saramago tem lugar sacro em minha estante de livros. É um dos escritores que eu mais li. Um herói da literatura. Um cara que deixou obras que eu venho lendo desde a minha juventude, quando o descobri, e que me encanta a cada página com o seu estilo irônico e irreverente, com suas provocativas sentenças e com seu estilo uniforme de escrever.
Saramago foi um daqueles escritores cujos livros te levam para fora do mundo. Suas ideias te levam para uma galáxia fora deste planeta e te deixam imerso por horas sem fim num universo de reflexão. Seu trabalho é notável e admirável. Nunca nada antes foi realizado com tanta qualidade.
Nem bem terminou o dia e já sinto saudade desta figura que eu nunca vi em minha vida. Sinto que lhe conheço por ter percorrido, como uma criança que acabou de ganhar o tão sonhado brinquedo, sua obra. Se eu soubesse que seria o último, teria lido Caim vagarosamente, para que as palavras de Saramago pudessem durar por toda a minha existência. Mas acabou. Acabou de forma inesperada, como são todas as mortes.
Um aperto no coração faz com que minhas palavras saiam de forma incoerente, picadas. Hoje estou em silêncio, tristonho, redundante e pensativo... Ainda ontem havia lido palavras escritas pelo próprio mestre em seu blog, que assim diziam:
"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma."
E acabou assim, sem nenhuma despedida, sem deixar uma mensagem para seus fãs, sem nada. Este vazio dói. Estou buscando por uma mensagem de "adeus" do mestre português, porém não encontro. Ao contrário, Saramago planejava escrever mais coisas. Morreu cedo, aos 87 anos. Muito cedo. Ele era daqueles homens que eu achava que morreria depois dos 130 anos.
Mas a vida é isto aí, se resume a nascer, morrer e deixar um legado para que jamais seja esquecido. Pobre Pilar, que não verá mais nenhuma dedicatória nos livros jamais escritos de Saramago. Eu espero que chegue o dia em que a dama espanhola escreva sobre o seu falecido marido e que nos presenteie com um pouquinho mais de sua vida e de suas ideias, pois estamos carentes de Saramago.
Queremos um pouco mais de Saramago. Não pode simplesmente terminar assim. Bem que eu queria que a Morte tirasse uma folga e não levasse este homem agora, que Saramago estivesse a salvo no mundo que propôs em seu romance Intermitências da Morte.
Saramago sai deste plano e entra num universo composto de outros tanto grandes, como Fiódor Dostoiéski, Franz Kafka, Herman Hesse, Léon Tolstói, Ernest Hemingway, Fernado Pessoa, Albert Camus e Jorge Luis Borges. Neste local estão aqueles que nós, os vivos, chamamos de escritores eternos, aqueles que escrevem obras atemporais.
Esta é uma perda para a qual a literatura jamais se recuperará. Hoje é um dia triste para quem gosta de um bom livro. Hoje é o dia em que o grande dos grandes mestres da escrita caiu para nunca mais levantar.
Obrigado, José Saramago, por todos os bons momentos que você me proporcionou enquanto lia os seus livros e por todas as reflexões apresentadas que ajudaram a compor o meu intelecto e até mesmo a minha personalidade. Obrigado, José Saramago, simplesmente por ter existido em meu tempo. Obrigado, querido mestre. Nós sempre te amaremos.
José de Sousa Saramago
+ 16 de Novembro de 1922 — 18 de Junho de 2010 +
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