quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Aristóteles no Divã: Sobre a inveja


No livro Retórica Parte II - Das Paixões -, Aristóteles, como um bom psicólogo, pretende demonstrar quais são os meios que surjem e cessam as paixões, fontes de onde se retiram os argumentos retóricos, sendo que retórica é a técnica de convencer o interlocutor através da oratória.

No capítulo Da Inveja, Aristóteles identifica quem são os invejosos e o por que são assim.

Logo no início Aristóteles afirma que as pessoas geralmente sentem inveja daquelas pessoas que são iguais ou parecidas consigo em aspectos como idade, classificação social, proximidade, reputação e quantidade de bens.

Ele também classifica igualmente invejosos aqueles que têm quase tudo o que desejam, justamente por que estes acreditam que as pessoas que lhe cercam estão interessadas apenas em aproveitar as suas aquisições. Os ambiciosos também são considerados invejosos por que nada basta a si mesmo, como por exemplo aqueles que se dizem sábios que estão sempre ambicionando por mais sabedoria e invejam aqueles que a possuem.

Ao acompanhar esta leitura podemos dizer que todas as coisas que buscamos podem originar a inveja, pois consideramos que somos dignos sempre de termos aquilo que buscamos, pois este algo que buscamos servirá principalmente para elevar o nosso estado de superioridade ou diminuir nosso estado de inferioridade.

Só sentimos inveja de pessoas que podem se rivalizar conosco, que são concorrentes em potencial e para reafirmar esta sentença Aristóteles diz que não é possível sentir inveja de alguém que morreu há dez mil anos atrás, ou que é muito menos ou muito mais do que nós, o que é bastante evidente e conclusivo.

A inveja se origina também para aqueles que nos envergonham por algum motivo, geralmente quando conquistam algo que também é nosso objeto de desejo. Isto ocorre por pensarmos como uma pessoa que se rivaliza contigo pode ter adquirido algo e você não. Esta inveja surge da frustação de saber que algo não está certo. O teu ser entende que alguma coisa errada aconteceu e que o equilibrio foi quebrado.

Também existe inveja quando você tinha algo que o outro tem neste momento, que é o caso daquele que gastou demais quando inveja aquele que soube economizar. Novamente algo de estranho ocorreu e isto não passa imperceptível em nossos sentimentos. A mesma inveja surje quando observamos um casal extremamente apaixonado e não estamos vivendo a mesma situação. Ainda que você um dia já tenha estado daquele lado, algo lhe diz que é você que deveria estar naquela situação, pois é algo que esta a lhe fazer falta justamente por ser um sentimento muito bom que passa muito rápido e os teus sentidos querem continuar a senti-lo constantemente.

Além da análise profunda que Aristóteles faz da sensibilidade do ser humano, podemos observar as diversas possibilidades para construir uma excelente retórica com base em seus argumentos que cobrem os mais diversos sentimentos presentes no ser. É importante salientar que Aristóteles tem o seu texto muito atualizado para qualquer época justamente por não datar ou tratar de acontecimentos históricos, sendo que estes textos são altamente direcionados para alma.

Concluimos então que a inveja é uma paixão presente nos seres justamente por ambicionarmos sempre o bem maior, sendo que a concorrência indireta nos graus de proximidade – e possibilidade de rivalizar – é tão humana que nos basta um texto de mais de dois mil anos para nos encontramos e refletirmos.

5 comentários:

  1. nossa muito bom o teu texto...
    gostei muitooo...

    parabens...

    bjux...

    lukka...

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  2. Ótimo texto Evandro, obrigado por ter me ajudado a compreende-lo. Gde abraço.

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  3. Muito obrigado por seu comentário, Raoni! Fico feliz por te ajudado e espero que você volte outras vezes!

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  4. Evandro, por acaso voce teria o resumo do texto semelhante a esse, sobre o tema:"Da emulação e do desprezo", também de Aristóteles? se a resposta for positiva, por favor me envie? Abraço.

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  5. Olá Raoni! Este texto ele é bem curto (tem apenas quatro parágrafos). Se quiser que eu mando ele inteiro, me envie um e-mail - basta clicar em cima do meu nome neste comentário que você será redirecionado para o meu perfil do Blogger, lá tem um link chamado E-mail). Caso você precise de uma análise deste texto, me avise que eu publico até o final de semana - visto que eu tenho uma que fiz alguns anos atrás, porém está em papel e preciso passar para o PC.

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