quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Tempo e Movimento para Aristóteles

Comentário sobre o livro XII da Metafísica de Aristóteles.

Antes de iniciar a nossa reflexão acerca do tema, vale dizer que Aristóteles entende por ato tudo aquilo que é, e por potência tudo aquilo que pode ou não vir-a-ser. Ato é aquilo que é imediato e já está realizado como, por exemplo, uma árvore. Potência é aquilo que poderá transformar o ato em outro ato, por exemplo, um lápis em ato é uma potência da árvore em ato, e mesmo a árvore é uma potência da semente em ato.

Visto os conceitos acima podemos afirmar que todas as coisas são em ato e potência. Também podemos definir que o movimento é o ato de um ser em potência, enquanto potência. Ou melhor, quando um Ato está se potencializando.

Como para que exista um movimento eterno é necessário que exista um príncipio eterno que seja causa deste movimento, a única exceção é o que Aristóteles chama de Ato Puro, conhecido também como Primeiro Motor, Bem, Deus, Causa Primeira ou Motor Imóvel. Seria um absurdo pensar que o movimento é infinito em si mesmo e, portanto, é necessário uma causa primeira que desse origem ao movimento. O Ato Puro não é potência de nada e nem a realização de potência alguma, ele é imóvel – pois só o imóvel pode ser causa absoluta do imóvel – e é eterno, visto que o movimento é eterno, e para que assim seja é necessária uma causa primeira que também seja eterna. Além disto o Ato Puro pensa apenas a si mesmo – é pensamento de pensamento – e não tem ciência de nossa existência.

Logo chegamos ao seguinte pensamento: como algo imóvel pode gerar movimento?

Como metáfora vamos imaginar o quadro Monalisa de Leonardo Da Vinci. Ele foi pintado há muitos anos e está exposto no Museu de Louvre. O quadro, depois de pintado, ou seja, em ato, passou a ser eterno, imóvel e não tem conhecimento de nada que acontece ao seu redor, entretanto ele gera um movimento nas pessoas que se locomovem de todos os países do globo terrestre para contemplar a sua existência, ainda que o quadro exista apenas para ele mesmo.

Como desejamos todas as coisas que são belas e boas (e daí a palavra formoso, ou seja, que tem formas), estas coisas atraem a nossa vontade – gerando um movimento – sendo que elas mesmas não se movimentam. Outra forma de elucidar a nossa explicação é dizer que é o objeto do amor que move o amante, pois o amor mesmo é imóvel e existe apenas em sua própria contemplação.

O movimento se dá no tempo. O tempo é uma determinação do movimento, ou seja, é a sua medida conforme o antes e depois, que provém da alma ou da consciência eterna do tempo.

Uma pessoa no escuro só se dá conta que o tempo passa se ocorrer um movimento em sua mente.

Recentemente cientistas calcularam que se o planeta Terra atingisse a temperatura de -273ºC (o chamado Zero Absoluto) ela iria parar de se movimentar. Para Aristóteles não seria somente o movimento que iria parar, mas também o tempo.

Isto nos leva à evidente conclusão: o movimento e o tempo compartilham das mesmas propriedades - os dois são eternos e incorruptíveis.

Concluindo a exposição dos fatos, Aristóteles afirma que o movimento se dá através do processo ato – potência – ato. E o movimento está intimamente ligado ao tempo, visto que para o filósofo de Estagira é impossível que um exista sem o outro, sendo que sua relação se dá justamente na coexistência e dependência direta entre ambos: o movimento só pode ocorrer no tempo e o tempo só existe se ocorrer o movimento.

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