sábado, 3 de novembro de 2007

Heidegger e a angústia


Embora eu já tenha introduzido a minha visão de angústia, vamos falar um pouco sobre a visão deste sentimento para Martin Heidegger, talvez o ultimo grande filósofo de nosso tempo, não que não houveram, posteriormente, outros grandes pensadores (como Michel Foucault, Jean Paul Sartre e Jean Baudrillard), mas justamente por que Heidegger foi essêncialmente filósofo enquanto os outros navegaram também em outros oceanos, como a psicologia, a sociologia, a literatura, as artes, etc. De certa forma Heidegger influenciou toda a filosofia contemporânea, visto que ele é o principal responsável por trabalhar a fenomenologia e o existencialismo - embora ele negue ser um existencialista seus questionamentos e os objetos de suas reflexões se enquandram no contexto existencial.

Heidegger diz que a angústia pode ser de três tipos: angústia patológica (ôntica); angústia que surge derivado de uma causa (ôntica); angústia que vem do nada (ontológica).

A angústia ôntica é aquele que tem sempre uma causa no intra-mundano, podemos ilustrar como uma angústia que tem origem em consequência das decisões que você ou outrem tomam e que reflete de alguma maneira em seus pensamentos, ou então de alguma alteração quimíca que desperte a angústia dentro de si. Ou seja, ela sempre tem origem no mundo exterior e sempre tem uma causa para existir. A angústia ôntica é curável nos diversos modos de distração, tão evidentes nesta dimensão, como televisão, música, computador, etc, o que lhe leva à um estado de felicidade simulada e ajuda a tornar a vida mais suportável, porém te leva para algo que Heidegger chama de vida inautêntica, que, tristemente, se trata do homem vivendo a sua vida fugindo de si mesmo. É por isto que Heidegger considera a angústia ôntica como superficial.

Em contrapartida, a angústia ontológica - que é a do ser enquanto ser - surge do nada. É apenas um vazio que está dentro de si que não tem nenhuma causa ou que é causa de si mesma. Ela simplesmente passa a existir. A angústia é um sentimento, logo você consegue identificar quando está angústiado, pois você sente o vázio no peito, dói, e você tem a sensação que, mesmo tudo estando bem, alguma coisa está errada, que algo está por vir. Heidegger diz que isto é vivenciar o ser dentro si, que é você se aproximar do seu Dasein (o ser-aí, ou o ente que está aberto para o ser - não há definição, visto que o definir algo é colocar um fim, e o ser é muito amplo). Quando você atinge o estado de angústia ontológica você pode seguir dois caminhos: 1) você pode transformar a angústia ontológica em angústia ôntica, procurar uma explicação (uma causa) e se distrair para fugir daquilo que você é. 2) você pode aceitar a angústia ontológica, vivenciar o ser e o Dasein, se conhecer (processo de humanização) e atingir um estado de conhecimento de si mesmo que permita viver uma vida autêntica de tal forma que você decide que não quer ser igual aos outros, que mesmo que você não seja feliz ao menos você é o que é, e este processo de realização lhe assegura uma sensação de bem estar indescritível e lhe uma nova visão sobre as coisas.

Para Heidegger, tudo acontece no futuro. O passado já foi, não é possível pensar no presente, então o que resta é o futuro. Sendo assim toda a orientação do ser é para o futuro, possibilitando você decidir qual caminho deseja seguir constantamente. Esta relação é explorada de forma acentuada em sua inacaba obra "O ser e o tempo".

Posteriormente iremos falar mais de Heidegger e o percurso que ele desenvolveu para construir a sua filosofia, por hora isto é apenas uma introdução para iniciar o interesse na leitura deste tremendo filósofo. Heidegger é extremamente abstrato, logo você se sente perdido em seus textos e vai tirando suas próprias conclusões através da intuição, o que força o seu intelecto a compreensão destes textos. Ainda em vida Heidegger disse que o único que o havia compreendido era Jean Paul Sartre (e como prova, a principal obra de Sartre se chama "O ser e o nada" e este nada representa simplesmente a angústia ontológica de Heidegger).

Um comentário:

  1. parabensss pelo que voce escreveu me ajudou muito no seminario que apresentei sobre heidegger e o sentido do ser.
    obrigado!
    grande abraço
    Marcela Granconato

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