sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Aprender a não-aprender: crise nas universidades - Parte II

Primeiro dia de aula, uma quinta-feira qualquer. Uma pessoa se apresenta como coordenardor do curso e docente de uma disciplina. Ela simplesmente faz uma leitura do cronograma para o ano, faz uma breve apresentação do curso. Inicia um discurso que diz que filosofia não é para todos, que muitos certamente desistirão, e outras coisas desistimulantes. Ou seja, ao invés de encorajar os alunos com casos de sucesso - pois realmente o curso é desgastante - fomos injetados com um coquetel de negativismo.

Depois de 30 minutos o professor-coordenador perguntou se alguém tinha alguma dúvida em relação ao curso e dispensou a classe. Disse que não precisaria vir no outro dia pois as aulas somente começariam para valer na segunda-feira seguinte.

Na segunda-feira, o professor entra na classe com 20 minutos de atraso. A aula quase chega a ser empolgante, só não é assim porque o professor decide encerrar a noite com 45 minutos de antecedência em relação ao término da aula.

Durante o ano muitas vezes foram assim, e outras tantas os professores nem ao menos compareceram em sala-de-aula. Os alunos simplesmente iam assistir a aula e eram avisados que não haveria aula pois o professor iria se ausentar. A revolta era intensa, afinal pessoas enfrentavam ônibus, trânsito, e trajetos imensos para chegar até a faculdade apenas para saber que estavam dispensados.

Nós não fomos reembolsados pelas despesas de transporte pelos dias em que os professores se ausentaram sem sermos previamente avisados.

Além disto, houveram muitas palestras para substituir a grade comum. Nenhum professor conseguiu cumprir com o seu cronograma. Outros alteravam o mesmo sem consultar os alunos. Isto implica numa série de problemas.

No começo de um semestre letivo, um professor apresentou, em seu cronograma, a leitura de três textos de três livros diferentes. Eu comprei os três livros. Um mês depois ele simplesmente abandonou o texto de um dos livros por problema na grade. Fiquei com o livro em casa sem o utilizar para fins acadêmicos naquele momento (sendo que sua compra poderia ser adiada). Isto não ocorreu apenas por uma vez.

Conforme o semestre se aproximava do seu fim e a maioria dos professores não tinham dado atividades o suficiente para a composição de uma nota final, houve uma enxurrada de trabalhos de uma única vez, que exigiam diversas leituras de textos diferentes simultaneamente. Ora, como é possível alcançar uma nota alta, visto que não é possível se concentrar em um único trabalho de forma concisa e organizada? Não há tempo para se realizar um bom trabalho.

Houve uma vez que um professor anunciou uma avaliação dentro da sala-de-aula. Os alunos (cujo perfil vocês podem conferir na primeira parte deste post) pressionaram o professor para que a prova fosse com consulta do material disponível (livros e cadernos). Ele cedeu a pressão. O minímo que se espera de uma prova de filosofia é algo que faça você desenvolver um pensamento crítico em relação a um tema. Pois saibam todos que as questões não exigiam racíocinio algum e nem mesmo da memória fotográfica, visto que a prova era com consulta. Segue exemplos para mera ilustrações: 1) Quem descobriu o Brasil? 2) Qual o ano em que o Brasil conquistou sua primeira copa do mundo no futebol? Enfim, o professor ficou feliz com o desempenho dos alunos, pois quase todos tiraram dez.

Em uma outra ocasião um professor nos solicitou para entregar um trabalho num determinado dia durante o intervalo. Eu cheguei ainda na primeira aula, procurei o professor para entregar o trabalho mas ele não quis receber pois aquele não era o horário combinado. Acontece que, para variar, o professor das aulas que seriam ministradas antes do intervalo teve que se ausentar. Além disto, depois do intervalo não haveria aulas. Ou seja, era só entregar o trabalho e ir embora. Mas o professor fez com que todos os alunos ficassem confinados na faculdade até a hora do intervalo, para somente então pegar o trabalho. Quando chegou a hora do intervalo o professor não apareceu. Fomos na secretária e a informação é de que o professor estava na sua residência - que era próxima da faculdade. A atendente ligou para a residência do professor, que estava dormindo, e ele orientou a mesma a recolher os trabalhos naquele momento, algo que poderia ter sido feito desde que chegamos na faculdade. Para quê isto? Por que ele não fez isto logo na primeira aula, quando ainda estava na faculdade? Enfim, o professor não cumpriu com a sua parte do acordo.

Para finalizar, o ultimo semestre acabou no dia 5 de Novembro, praticamente dois meses antes de acabar o ano.

Contra fatos não há argumentos. Eu nem preciso falar muito para apontar quais são as falhas neste sistema de ensino a qual vivemos. Os professores são assalariados, vivem num regime capitalista. O que importa é apenas o dia do pagamento, ensinar é apenas mais uma profissão. Muitos de nossos futuros professores hoje são alunos e enxergam exatamente o mercado do ensino como um mercado onde possam trabalhar. Uma opção válida para ganhar dinheiro. Os professores de filosofia se dizem filósofos, mas não é verdade. Ou são historiadores de filosofia ou são como os antigos sofistas, que cobravam um alto preço para transmitir o seu conhecimento e técnicas para apreender a enganar os outros e a si mesmo.

E o maior absurdo é que eu tenho uma disciplina na grade que se chama ética, pode isto?

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