Desde os primórdios, o homem tem a necessidade de explicar aquilo que ele não entende. Inicialmente ele recorreu à religião, criando deuses e mitos para explicar como funcionava o universo. Posteriormente (e muitas vezes paralelamente), não satisfeito com as explicações míticas, o homem passou a adotar a ciência como uma forma de encontrar verdades. Porém, dado o fato, surgiu uma série de implicações com o simples fato de tentar se explicar algo. Basicamente, o problema encontrado e que resisti até os dias de hoje é: como explicar algo que não gere um outro problema?
Este problema é chamado de Regressão Infinita de Justificativas, que consiste basicamente em justicar a justificativa da justificativa da justicativa, e assim infinitamente. Para efeitos de demonstração vamos á um pequeno diálogo:
X - "Por que você chegou atrasado hoje?"
Y - "Porque estava um trânsito terrível!"
X - "E por que o trânsito estava tão congestionado?"
Y - "Porque tombou uma carreta na Via Anchieta!"
X - "E por que a carreta tombou?"
Y - "Porque o motorista perdeu o controle."
X - "Por que perdeu o controle?"
Y - "Devia estar com sono."
X - "Por que? Por que?"
Este diálogo sofre de Regressão Infinita de Justificativas, e todas as ciências. para provar algo, sofrem deste mal. Aristóteles dizia que as premissas de uma ciência devem ser indemonstráveis, ou seja, não necessitam de justificativas. Só tomando estas premissas como verdadeiras poderíamos chegar à algum lugar.
Passado os anos, houve uma tentativa de solução para este problema no movimento chamado Positivismo, que dizia que a evidência empírica é o fundamento do conhecimento seguro. Na prática, isto significa que o que você vê na prática, ou em um experimento, pode ser considerado real, afinal contra fatos não há argumentos. O que é é e não precisa de mais nenhuma explicação.
Porém neste modelo também temos problemas. Basta voltarmos à Aristóteles e encontrar em um de seus ditos o problema de tomar o experimento como solução para a ciência: "Tem coisa mais evidente do que afirmar que a Terra está parada?". Realmente podemos afirmar através da experimentação (empirismo) que a Terra está parada. Se ela estivesse em movimento, quando saltássemos sem sair do lugar, a queda se daria num ponto diferente de onde se originou o movimento. Ou seja, é evidente que a Terra está parada. A experiência mostra que quem se move é o sol. No ínicio da manhã ele sobe e a noite ele desce.
Sendo assim há um conflito entre a confiança dos sentidos contra a confiança da razão. A evidência deixou de ser uma solução e passou a ser mais um problema para ser resolvido.
Outra coisa que intrigou um filósofo chamado David Hume foi "de onde vem esta certeza que temos sobre o futuro?". Ou seja, como podemos ter certeza que amanhã realmente irá amanhecer e que após as 20:00h estará tudo escuro? Como sabemos que se soltarmos uma pedra de nossas mãos ela irá cair? Resposta: O entendimento das coisas é aquilo que aprendemos a aceitar por hábito. Esta crença que nos permite imaginar como é o futuro surge através deste hábito, vivência e/ou aprendizado. Enfim, não se trata mais de lógica, de razão pura, mas de uma razão psicológica, conhecido como Carga Teórica de Observação, que permite que com um mínimo de conhecimento você consiga assumir certas coisas como verdade (como saber que após as 08:00 surge um dia clareado pela luz do sol).
Saiba, então, que nenhuma teoria científica é capaz de tratar diretamente da natureza, e eis aí o abismo que as separam. Perceba que uma teoria pode ser confrontada apenas com outra teoria. Cada teoria é formada de diversas representações de como acreditamos serem as coisas. Basta pegar como exemplo o átomo: ele é apenas um modelo, uma construção - invenção - teórica e não há como ser provado. Ele nem ao menos existe no mundo real, apenas no mundo representativo e estrutural. Quando uma teoria que se vale de átomos é formada, se supõe que os átomos existam, pois só a partir daí é possível caminhar (se não cairá novamente na Regressão Infinita de Justificativas).
Podemos, então, dizer que a ciência explica o mundo através de representações de como acreditamos serem as coisas, porém não pode provar nada.
Mais um exemplo: Existe a gravidade? Não sabemos! O que podemos afirmar é que existe a Teoria da Gravitação Universal! Na época que Isaac Newton apresentou sua teoria ele foi muito criticado. Diziam: "Você está louco? Depois de tantos avanços você me diz coisas sobra uma 'força externa no mundo'? Quer nos levar novamente para uma era mítica?". Sendo que Newton respondeu: "Eu mesmo não sei exatamente o que é esta força, só sei que toda vez que eu cálculo dá certo". Ou seja, esta força não representa o mundo real, mas apenas mais uma estrutura, que por sinal é provisória, assim como toda a ciência, basta ver que a Teoria da Relatividade vem para derrubar a física newtoniana, assim como a física quântica surge para derrubar a física einsteiniana.
Então como pôde a ciência evoluir? A solução foi adotar axiomas (afirmações que você aceita como verdadeiras, mesmo sem saber se elas realmentes são) e seguir adiante. É como um jogo de xadrez: você aceita as poucas regras como verdade sem ao menos questionar e cria manuais e estruturas complexas para desenvolver a melhor partida, com inúmeras possibilidades.
É engraçado se você pensar que um cara faz todos os cálculos necessários para projetar uma máquina que transporte tantos quilos de pessoas pelo ar (o tal do avião) e ele mesmo não sabe o que é aquilo que ele está calculando! Está apenas utilizando estruturas já desenvolvidas que possibilitam chegar a algum resultado! Você questiona "Como é possível, em essência, este treco voar" e ele diz "Sei lá, só sei que calculei, deu tudo certo e está aí voando!".
Agora, com tantos problemas, por que é que a ciência hoje é vista como onipotente e detentora das únicas verdades? Por uma questão meramente política e sócio-econômica! Todos os grandes laboratórios de ciências naturais (biologia, química e física) estão por trás de grandes indústrias, que criam falsas necessidades que são resolvidas somente pela ciência. O processo de endeusamento da ciência é como parte do próprio processo de marketing de um produto. Mas isto fica para outro post.
Salve admirável mundo novo de maravilhas e inovações!
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