Recentemente, uma pessoa que trabalha comigo viu uma série de livros em minha mesa e perguntou: "Você não se cansa disto? Tem tanta coisa para fazer, vá viver a vida!". Na hora nem prestei muita atenção, porém após algum tempo eu cheguei a me sentir ofendido, e, momentos depois, voltei atrás e pensei que talvez esta pessoa pudesse ter razão.
Afinal, para quê serve ser inteligente? Este questionamento parece um absurdo a primeira vista, e chega me lembrar até uma parte de "A Hora da Estrela" de Clarice Lispector, onde uma mulher pergunta para a protagonista: "Você é feliz?" e, ingenuamente, ela responde: "Para que serve ser feliz?".
Não distribuem medalhas para aqueles que tem um conhecimento a mais em relação ao normal. Ao contrário, muitas as vezes esta busca incessante pelo conhecimento trás muitas dores, conflitos e confusões.
O mundo, tal como ele é, não dá valores para questões morais, éticas, debates políticos, discussões sobre o sentido do verdadeiro e do real. A única coisa que realmente importa é o status e a aparência física. Pouco importa se você é casado, se têm cinco filhos e problemas de depedência química. Desde que tenha boa aparência e um bom carro, as portas se abrirão para você.
As mulheres estão à procura de homens musculosos e imbecis, os homens buscam mulheres com um corpo bonito e imbecis. Pessoas inteligentes, mesmo que bonitas, são descartadas porque a inteligência é vista como uma deficiência cerebral - meninos e meninas inteligentes só servem como amigos que devemos explorar quando possível.
Não preciso nem dizer quão absurdo parece este cena! Sinceramente eu não consigo entender. Será que eu deveria abandonar as minhas idéias e aquilo que eu acredito para cutuar o meu físico e apagar parte de meu cérebro para engressar na sociedade?
Não! Resistirei à sedução do mundo, combaterei a máquina e me manterei em minha caverna, isolado e condenado à eterna condição de anormal, de estranho e de louco. E bananas para você que me diz "Largue estas coisas e vá viver a vida"! Eu prefiro viver uma vida autêntica do que viver uma mentira! Eu vivo uma única realidade! Fique você sozinho com a sua hiper-realidade e viva sem se conhecer!
Dizem que sou louco por pensar assim
Se eu sou muito louco por eu ser feliz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Se eles são bonitos, sou Alain Delon
Se eles são famosos, sou Napoleão
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Se eles têm três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, não é feliz
Eu juro que é melhor
Não ser o normal
Se eu posso pensar que Deus sou eu
Sim sou muito louco, não vou me curar
Já não sou o único que encontrou a paz
Mas louco é quem me diz
E não é feliz, eu sou feliz!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Composição: Arnaldo Baptista / Rita Lee
Embora seja verdade que a aparência tem cada vez mais peso (e talvez isso seja mais natural do que se pensa), não acho que houve um julgamento assim tão profundo da pessoa que lhe falou: "Vá viver". As pessoas têm diferentes conceitos do mundo e o medem de acordo com o seu próprio. Logo, se eu gosto de beber e fico feliz assim, vejo num enclausurado leitor de livros uma pessoa infeliz "porque não bebe". Este, por sua vez, tem pena da ignorância e futilidade daquele. Não necessariamente ambos sejam felizes, mas possuem maneiras diferentes de ter momentos felizes.
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