O objetivo deste post é apresentar um estudo sobre a obra "Pedagogia da Autonomia", de autoria do pensador brasileiro Paulo Freire. Este estudo estará dividido em três partes, sendo que cada parte representa um capítulo do texto.
Para quem não conhece Paulo Freire, recomendo-o fortemente, não somente pelo grande pensador que é, mas pela devota paixão que ele transmite em seus textos e em suas falas. Freire é um pensador que cativa e empolga, que propõe ações emergentes, que não se contenta com a inércia e prega mudanças revolucionárias em âmbito da educação, sendo que estas mudanças devem partir de uma movimentação das massas organizadas pela principal frente de sua filosofia: os educadores.
Não irei apresentar um quadro cronológico ou os principais fatos de Freire, pois existem referências que já fazem isto de maneira eficaz. Sendo assim, recomendo os seguintes links para conhecer melhor a vida e obra deste filósofo:
Wikipedia - Português
Wikipedia - Inglês (Estranhamente, há mais conteúdo que a enciclopédia em português e demonstra com mais ênfase a influência de Freire ao redor do mundo.)
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No capítulo I - chamado Não há docência sem discência - Paulo Freire recapitula a sua idéia de um educador crítico-progressista como resposta à um educador conservador, que em sua atividade de apenas retransmitir o conhecimento, faz com que aqueles que são educados tenham a sua capacidade de aprender e tomar uma posição crítica, em relação as coisas, atenuadas, e, até mesmo, a criativadade do próprio educador.
Freire reforça a opinião que mais importante que o conhecimento transferido é a forma com que se dá esta relação entre educando e educador no processo de ensino-aprendizagem e aprendizagem-ensino, visto que esta é uma relação de duas vias, visto que o professor aprende ao ensinar e o aluno ensina ao aprender.
Para esta forma de conservadorismo, Paulo Freire denomina educação "bancária" e a solução para a mesma seria uma educação "problematizadora". Entretanto, independente da corrente a ser seguida, o autor expõe nove pressupostos básicos, que ao seu ver, são indiscútiveis e fundamentais na concepção de educador.
1) Ensinar exige rigorosidade metódica:
É responsabilidade do educador não esgotar o aprendizado apenas no retransmitir de um saber. Há de se tornar o aprendizado como a construção do novo, onde se produz novos saberes de forma crítica, e os próprios educando são colocados como objetos de reconstrução do saber aprendido, e, inserido o educando como ser que pode e intervém no mundo. A isto Paulo Freire denomina "Pensar Certo", ainda que se erre ao pensar, é neste método que se encontra a verdadeira forma de ensinar.
2) Ensinar exige pesquisa:
Ao ensinarmos algo, ensinamos aquilo que buscamos e questionamos, não só ao mundo, mas a nós mesmos, justamente para estimular nossa "curiosidade epistemológica".
3) Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos:
Tão importante quanto a curiosidade do educador, de origem epistemológica, é a curiosidade do educando, de origem ingênua. Para despertar uma postura crítica e investigativa por parte do educando, é necessários respeitar o contexto social a qual ele se encontra e estimular uma criticidade à respeito dos problemas que ele se encontra como, por exemplo, sobre as desigualdades sociais frente a sua realidade.
4) Ensinar exige criticidade:
A ponte que se faz entre a curiosidade "ingênua" para a curiosidade "epistemológica" se dá através de uma superação, e esta superação vem da críticidade de opinião do educando ao aproxima-lo dos objetos de aprendizagem. Para ambas as curiosidades, a sede de saber é a mesma, contanto, estudiosos vão adiante ao procurar entender a origem desta curiosidade, enquanto o restante fica apenas se questionando. Ao derrubar esta barreira, fica evidente a produção de um conhecimento motivado pela crítica.
5) Ensinar exige estética e ética:
Paulo Freire coloca a necessídade de que educadores devem caminhar sempre dentro da ética. Tomar partido de um lado, seja ao endeusar ou ao demonizar, seria uma transgressão, visto que existe a necessidade de respeitar a natureza humano. O ato de ensinar não deve ser apenas um exercício técnico, pois isto também seria transgredir a ética e ferir o que há de humano nas pessoas, afinal educar é formar.
6) Ensinar exige a corporeificação das palavras pelo exemplo:
O educador deve, acima de tudo, representar a sua opinião também nos fatos da vida. É inviável um processo de verdadeiro aprendizador onde o professor expõe uma idéia e pratique uma contrária, visto que isto pode ser caracterizado como hipocrisia, sendo que o educador é uma figura eticamente e moralmente correta. Nos dias de hoje percebemos esta hipocrisia ao nos depararmos com pessoas que se dizem preocupadas com problemas ambientais, porém continuam usando sacolinhas de plástico e andando com veículos altamente poluentes. O discurso não reflete a sua realidade.
7) Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação:
Havemos de respeitar a opinião alheia, afinal, "pensar certo" é criar críticas que possam ser dialogadas, e não que visem diretamente a polêmica. Sendo assim, toda a forma de discriminação deve ser repudiada.
8) Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática:
Visto que ambas as curiosidades, tanto a mais ingênua quanto a mais epistemológica, é necessária que esta ultima se aplique a realidade ao fazer uma reflexão sobre a prática, visto que ao fazer apenas episteme corremos o risco de nos distanciarmos em demasia. Neste contexto, uma aproximação é necessária entre o objeto conhecido e o o real para promover uma atitude crítica de aprendizado por parte do educando.
9) Ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural
O educando deve-se assumir como ser social e histórico, que tem uma importância enorme nas relações entre si e os demais, o que não significa necessariamente estar acima, e nem mesmo excluir os outros. Esta assunção deve ser motivada pelo educador, que tem a responsabilidade de possibilitar que o aprendizado aconteça e que se descubra a possibilidade de ensinar, seja através de experiências informais ou de gestos contextualizados, que podem colocar fim às barreiras do aprendizado.
Enfim, finalizamos esta primeira parte aqui. Na sequência irei adentrar dentro do segundo capítulo para, posteriormente, fazer uma revisão da obra toda como um todo, além de rever certos conceitos que, por ventura, estejam errados.
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