quarta-feira, 28 de maio de 2008

MGF: Costumes Contra Direitos

Claro está que para pessoas que convivem contaminadas pela cultura ocidental e norte-americana a prática da MGF (Mutilação Genital Feminina) é abominável justamente por ferir todos os códigos de violação dos seres humanos. É tão condenável como o estupro e outros crimes de atentado ao pudor.

Afinal esta prática, literalmente, fere as pessoas. Fazem as mesmas sangrarem e geram implicações tanto psicológicas, como complicações de saúde, chegando até mesmo à morte.

E tudo por causa de uma idéia e um costume.

Crianças inocentes de 6 a 10 anos de idade, que mal podem opinar sobre alguma coisa, são vitimas de um costume grotesco e selvagem. E o que as pobres podem alegar, já que são praticamente propriedades de seus pais?

Pronto, a opinião deste lado do prisma está dada. Agora vamos para o lado oposto.

Pois bem, um costume é algo que já faz parte da cultura de uma sociedade e é algo comum e aceito por todos. O próprio artigo afirma que as mulheres que convivem em meio a esta cultura são solidárias à prática do MGF. Elas se orgulham de serem mutiladas e sentem mais vivas e mais bonitas. E, já que eles aceitam esta prática, quem somos nós para falar o contrário?

Já que somos contra, basta que não pratiquemos estes atos, como é de praxe. Mas não. Como seres humanos dotados de inteligência, temos que ficar nos importando com os outros. É quase a mesma coisa que você perguntar para um colega como ele vai, ele responde que esta tudo bem, e você diz que não, que não está tudo bem, e começa a enumerar todas as coisas que estão erradas na vida de seu colega (mesmo que para ele esteja tudo bem).

Costardi, em seu livro “Um condomínio chamado família” diz o seguinte sobre o homem: “Cuidar de si já não basta para aquele que acredita que seu papel é cuidar do outro, freqüentemente deixando de investir em suas necessidades para dedicar-se ao sádico e alienante exercício de administrar aquilo que não é de sua competência.”

É a nossa cruel natureza. Vamos abrir ONGs, sair às ruas, e defender com as facas nos dentes e punho cerrado idéias do que é melhor para os outros. Como se a nossa vida já não tivesse diversos problemas para serem resolvidos, vamos tentar resolver a vida dos outros. No caso deste texto, vamos tentar resolver os problemas de cultura de uma sociedade, que eles não vêem como nada demais, e estabelecer a nossa cultura de MacJobs, Coca-Cola e Jeans como padrão, pois ela é a melhor para nós, e o que é bom para mim eu quero para você.

Existe um antigo documentário chamado Xingu que demonstrava o cotidiano de uma tribo indígena da Amazônia. Em um determinado momento mostrava uma criança sendo surrada como parte da iniciação da transição para a vida adulta. O que falando parece ser uma cena cruel, no documentário parecia muito bonito. Um homem de verdade estava sendo formado. Um guerreiro. E desde cedo ele iria aprender a suportar a dor.

E mesmo parecendo ser uma prática distante de nossa realidade, tenho uma experiência legal para ser compartilhada a respeito disto. Eu fiz, á cerca de dez ou onze anos atrás, por cerca de quatro meses, um curso preparatório para ingressar no exército brasileiro numa instituição chamada ASA (Academia Superior de Armas). Como eu trabalhava durante a semana, tinha que fazer aulas de educação física lá na Comarca do Ipiranga. Houve uma vez, que enquanto treinava, haviam diversos soldados enfileirados lado a lado. Então surge um superior e começa a dar fortes tapas nas caras dos soldados, e enquanto vai agredindo este pelotão vai gritando dizeres como: “Isto é para vocês aprenderem a apanhar e não chorar (tapa), pois se caírem nas mãos dos inimigos (tapa) serão agredidos (tapa) e torturados (tapa) para revelarem informações de seus colegas (tapa). E vocês devem aprender a conter a dor (tapa)”.

Alguém já leu sobre isto no jornal? Creio que não, mas existe alguma diferença no texto sobre MGF? São os direitos humanos sendo violados novamente, mas será que esta cultura que se cria dentro do exército de agredirem os seus companheiros não é válida para um contexto de guerra?

Pegando a idéia da MGF, temos que balancear as duas idéias. Acredito que cada um deve fazer o que bem quiser de sua vida, desde que não interfira na vida dos outros, sendo assim creio que a MGF deve ser prática, desde que as pessoas que sofrem a mesma estejam de acordo, e caso não estejam de acordo, não deve haver retaliação por parte da sociedade, e as leis devem existir para proteger os dois interesses.

Temos aqui no Brasil, como exemplo, uma seita chamada Santo Daime. O Santo Daime é uma bebida que tem em sua composição o cipó jagube, que ao ser mistura com a folha, ativa os poderes alucinógenos da chacrona. Ao beber, as pessoas entram em transe e começam a ver coisas. Enfim, é uma composição que tem efeitos similares a outras drogas ilícitas, porém o Brasil, que tem uma política rígida contra as drogas, permite que a bebida seja comercializada em pró da cultura e da crença que está por trás do Santo Daime.

Este é o caso em que as leis se permitiram que a cultura se mantivesse intacta. E que beba o Santo Daime quem quiser.

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