quarta-feira, 28 de maio de 2008

Aristóteles: Movimento Dialético

Como podemos observar no livro I da Metafísica, Aristóteles recorre a própria história da filosofia para comprovar a sua linha de raciocínio que está baseada nos quatro tipos de causa que são: a essência ou essencial natural da coisa; a matéria ou substrato; o princípio do movimento; causa final ou a finalidade da coisa em si.

Acompanhando o texto do próprio Aristóteles é impossível separar os seus conceitos de causas de toda a história da filosofia, justo que é o próprio movimento dialético de seu pensamento que formula toda esta rica história de afirmação, dúvidas e negação.

Claro está para nós que os primeiros filósofos, os chamados pré-socráticos, em sua grande maioria, estavam unicamente preocupados com um destes tipos de causa, que é a causa material.

Para estes primeiros o reconhecimento desta causa estava a contento e as dúvidas cessavam ali.

Porém o próprio decorrer da história da filosofia os levaria a propor uma nova forma de investigação, já que obviamente resumir toda uma explicação à apenas uma causa material não serve para sustentar argumento algum que não gere uma massa excessiva de questionamentos, e por isto mesmo, passível de dúvidas. Somente com a causa material é impossível gerar qualquer conhecimento certo.

Mesmo antes de investigarem uma nova causa, os próprios pré-socráticos não estavam de acordo com eles mesmos. Cada um defendia sua própria tese de princípio sobre as demais teses. Tales ficou com a água, Anaxímenes negou e veio com a sua proposta de princípio ao falar do ar, assim também foi com Heráclito e Empédocles. A própria história da filosofia mostra que um argumento consistido apenas de causa material não se sustenta de forma alguma, o que gera uma infinita oposição.

Mas então surgem alguns pensadores, o que de certa maneira não demoraria acontecer, começam a raciocinar numa linha pensando, por exemplo, como a água de Tales pode se tornar homem, visto que a água por si só não tem a capacidade de se tornar homem. Enfim, surge, naturalmente, o questionamento pela causa do movimento, e destas investigações surge, conseqüentemente, toda uma negação da filosofia anterior e a construção de novas linhas de pensamento.

E eis aí o movimento dialético acontecendo.

É na própria realidade que o homem encontra a imposição de seu pensamento, já que analisando linhas passadas chega-se sempre a dúvida. Se pudermos afirmar isto, podemos dizer que a própria história da filosofia pressupõe um convite para filosofar de dentro da filosofia.

Quando falamos de filosofia e não sobre a filosofia somos colocados no centro de um novo universo, digo novo porque a dúvida sugere que algo diferente e sustentável deva ser construído, e podemos visualizar conceitos e pensamentos em qualquer direção a qual nos direcionamos. E quando isto acontece é certo afirmar que a história da filosofia está sendo reconstituída através de um ponto de vista filosófico, quando não, a própria história da filosofia está sendo reconstruída numa espécie de retroalimentação, onde o próprio objeto fabrica o seu próprio alimento. É como afirmar que a própria história da filosofia tem vida própria e se estende por si mesma e para seu próprio deleite, visto que é este movimento dialético, as quais participam todos os homens, que escreve as próprias páginas da história.

Esta relação pode ser mais bem estabelecida ao pensar que o movimento dialético é derivado direto da história da filosofia. Tanto é que Aristóteles diz que é inevitável que os homens passassem a questionar o tipo de causa do movimento, sugerindo assim que as lacunas de um pensamento gerarão dúvidas e deverão ser reconstruídas para se estabelecer, pois as circunstâncias levam a este constante movimento.

Estranhamente, ao concordar com a linha de raciocínio de Aristóteles podemos dizer que o homem está subordinado à própria condição do movimento dialético que faz com que ao analisar um pensamento A somos obrigados a formular um pensamento B, sempre que o mesmo não está a contento.

Parece-me que todos os pensamentos que não se preocuparam com aquilo que Aristóteles viria a chamar de quatro tipos de causas, não conseguem de nenhuma maneira se sustentar.

E mesmo aqueles que têm um raciocínio mais conceituado com o de Aristóteles negam a filosofia de seus anteriores e são negados pelos seus posteriores, gerando uma fórmula contínua e infinita da firmação de um pensamento e sua conseqüente negação.

Mesmo quando uma linha de pensamento sobre um objeto tem em vista a sua essência, sua matéria e o movimento que lhe constitui como objeto, se a finalidade não for pensada, ou no caso de não haver finalidade, esta filosofia não se sustenta.

É aplicando estas causas ao longo da história da filosofia até Aristóteles que podemos observar o quão certo ele está, já que a história da filosofia é a própria história do movimento dialético, onde a evolução do pensamento passa gradualmente por todos estes conceitos e estão intrinsecamente ligados pela necessidade de se explicar o real ou a verdade das coisas.

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