terça-feira, 27 de maio de 2008

Sócrates X Sofistas: Comparações

Para iniciar esta dissertação, me sinto no dever de fazer uma breve apresentação de ambas as partes. De um lado temos nada menos do que os Sofistas, grandes mestres da retórica e da arte de persuasão; se julgam detentores do conhecimento e fazem parte, de certa maneira, da elite da sociedade helena, especificamente em Atenas. Eles vem das regiões da Jônia e da Magma Grécia direto para o centro cultural do mundo naquele momento, trazendo com eles toda a bagagem de onde nasceu a filosofia. Eram movidos pelo dinheiro, e transmitiam sua sabedoria a qualquer um que estivesse disposto a pagar o preço, uma espécie de professor remunerado ou pedagogo.

Do outro lado temos nada mais nada menos que Sócrates, o grande dos grandes, ateniense nato. O homem que desafiou toda uma geração e deixou ao mundo uma maneira singular, e talvez a mais influente forma, de fazer filosofia ao questionar o nosso próprio conhecimento acerca das coisas.

Sócrates, que se considerava ignorante à cerca das coisas, surpreso com a revelação do Oráculo de Delfos, que lhe dizia que ele era o mais sábio de todos os homens, resolveu sair em busca da confirmação desta sentença com o método que caracterizaria toda a filosofia dali por diante: o questionamento.

Em plena Pólis, durante o decorrer dos dias, Sócrates questionava o primeiro cidadão que estava passando em seu caminho a respeito das dúvidas que lhe assolava, e percebia que ninguém conseguia lhe responder com clareza.

Quando questionado sobre a virtude, Mênon acredita que a resposta é simples de ser respondida, porém Sócrates o convence que a resposta não é verdadeira porque ela deixa lacunas em aberto e não responde a questão em toda a sua plenitude. Tanto é que Mênon encerra o diálogo dizendo: “De fato, Sócrates, eu ainda não posso, de acordo com o que procuras, alcançar uma virtude cuja unidade se encontre em todas, assim como nos outros casos já vistos.”

Sendo assim, recorria então aos sábios de sua época, incluindo os sofistas, para questionar acerca das coisas a qual os questionados eram especialistas e percebia que os mesmos não conseguiam responder sobre a questão, eles apenas davam voltas acerca do assunto, e acabavam sendo ridicularizados em público, já que Sócrates nunca se satisfazia com as respostas destes sábios.

Foi aí que Sócrates entendeu que ele era o mais entre os homens justamente porque ele, ao menos, sabia que nada sabia. Já os outros não sabiam nada. Apenas enganavam ou eram enganados com conhecimentos falsos.

Sendo assim, um primeiro contraste que podemos nos assegurar é que Sócrates se considera um ignorante a respeito das coisas, já os Sofistas se consideravam detentores do conhecimento.

Também podemos ver algo semelhante entre eles logo de início: tanto os Sofistas como Sócrates se pronunciavam de forma inteligente e convincente, tornando se referências para as pessoas que conviviam com os mesmos naquela época.

Também podemos observar que Sócrates buscava a verdade através de diálogos públicos com os mais variados tipos de pessoas. Como característica, a sua filosofia em forma de diálogo sempre buscava, essencialmente, a verdade sem nenhum interesse adicional ao seu objetivo. Se alguns dos envolvidos em seus diálogos eram simplesmente expostos ao ridículo, era justamente por conseqüência de não conseguirem sustentar um argumento que consideravam verdadeiros.

Já os Sofistas jamais buscavam a verdade, porém tinham respostas para todas as questões baseadas simplesmente na retórica e na persuasão. Ao invés de questionar, sempre respondiam. Eram teóricos e orientavam aqueles que buscavam os seus ensinos para que os mesmos se sobressaíssem aos demais. O pensamento dos Sofistas era inquestionável, não havia espaço para discussões ou debates a respeito das coisas. Podemos observar nesta frase do texto O Pensamento Antigo: “É natural que uma pessoa se transforme em sua maneira de agir de forma semelhante à do companheiro com que convive diuturnamente”. É uma explicação direta sobre a educação, não passível de questionamento e sentencia uma direção a ser ou não tomada.

Para os Sofistas tudo surge por convenção, inclusive a virtude, sendo assim tudo pode ser ensinado. Por isto mesmo podemos observar que os Sofistas ensinam o máximo de virtudes possíveis, explicando a origem da sociedade, origem das leis, como se portar, a importância da educação, a importância dos exercícios físicos entre outras coisas. Numa linguagem mais moderna, podemos dizer que os Sofistas são especialistas em condicionar homens. De ensinar como eles devem se portar diante da sociedade e de como eles devem desenvolver sua vida social. Ensinam o mesmo como a falar bem, como defender argumentos contrários sempre.

Além disto, os Sofistas sempre estão a cobrar por seu conhecimento, algo que Sócrates refuta e condena porque acredita que o homem é descaracterizado e perde a sua autonomia, passando a agir contra a sua vontade para viver a vontade de outros, já que eles estão à venda ao cobrar pelo ensino. Além disto, para Sócrates, a virtude não pode ser ensinada.

Sendo assim podemos estabelecer uma pequena tabela comparativa com alguns conceitos semelhantes entre Sócrates e os Sofistas:

+ Sócrates: Era contra o pagamento pelos ensinamentos;
- Sofistas: Não só eram a favor, como era a sua principal característica
+ Sócrates: A virtude não podia ser ensinada;
- Sofistas: A virtude era ensinada em suas aulas
+ Sócrates: Considerava-se um ignorante a respeito das coisas;
- Sofistas: Consideravam-se sábios
+ Sócrates: Estava preocupado em descobrir a verdade a respeito das coisas;
- Sofistas: Estavam preocupados apenas a rebater qualquer argumento
+ Sócrates: Sua filosofia era baseada em diálogos;
- Sofistas: Eles ensinavam sempre sem contra-argumentações por parte de seus alunos
+ Sócrates: Seus discípulos se reuniam em locais públicos com Sócrates;
- Sofistas: Os discípulos dos Sofistas dialogavam em locais fechados

Enfim, estas são apenas algumas diferenças grosseiras, mas o importante é salientar que tanto os Sofistas como Sócrates, falavam sobre coisas do homem, quase sempre relacionado às suas virtudes.

Por isto mesmo é que podemos fazer uma comparação entre os seus pensamentos, pois aqueles que atuam no mesmo campo podem ser, de certa forma, considerados adversários.

É assim que Sócrates, seus seguidores e seus contemporâneos, se mantém tão atuais, proporcionando discussões profundamente relevantes para a concepção do pensamento, esta ferramenta tão diferenciada nos seres humanos que nos permite um grau tão elevado de análise, que talvez só tenha alcançado o seu status e a sua importância em nosso desenvolvimento cultural e científico graças à estas discussões em plena Pólis, forçando assim a desenvolvemos um raciocínio analítico e lógico.

3 comentários:

  1. Perfeito... apesar de encontrar algumas contradições com relação, aos locais de ensino dos sofistas (também era nas praças afim de atrair novos clientes).

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