Depois de introduzir diversos conceitos, além de traduzir algumas partes do wikipedia relevantes ao nosso estudo, vamos iniciar a leitura da obra Simulacres et Simulation ("Simulacros e Simulações"), publicado originalmente em 1981. Este é o projeto mais conhecido de Baudrillard e que lhe projetou como uma das grandes celebridades intelectuais de nosso tempo.
A edição que tenho em mãos foi publicada pela editora Relógio D'Água e foi traduzida por Maria João da Costa Pereira. A edição é de Portugal e, ao menos por enquanto, não há previsão de ser lançada no Brasil, portanto é necessário importar o livro (facilmente encontrado em livrarias como a Cultura).
O início da leitura se dá com o capítulo A Precessão dos Simulacros que irá abordar os seguintes tópicos:
- A Irreferência Divina das Imagens;
- Ramsés ou A Ressurreição Cor-De-Rosa;
- Hiper-real e Imaginário;
- O Encantamento Político;
- A Negatividade em Espiral - Moebius;
- A Estratégia do Real;
- O Fim do Panóptico;
- O Orbital e O Nuclear;
Baudrillard introduz este capítulo com uma fábula de Borges, que conta que uma vez os cartógrafos do Império desenham um mapa, que de tão detalhado acaba por cobrir toda a extensão do território, sendo que ele mesmo não pode mais ser reconhecido. Porém com a queda do Império, o mapa se fragmenta de tal modo que restam apenas alguns vestígios, que podem ser encontrados nos desertos.
Esta fábula, da forma que está, pode ser discretamente inserida como um simulacro de segunda categoria¹. Veja que, neste caso, é possível abstrair o conceito de "território" a partir do conceito de "mapa". Ou seja, o território precede, necessariamente, o mapa, sendo impossível que o mapa exista sem ele. De certo, há um relacionamento entre os dois, porém é possível distinguirmos um do outro, de tal maneira que sabemos o que é um e o que é outro. Se formos abstrair ainda mais, podemos chegar ao solo, que é a substância do território.
Porém, em nosso tempo a coisa acontece de maneira diferente. Há uma inversão dos papéis. Se antes o território precedia o mapa, hoje é o mapa que precede o território. Isto porque a simulação perdeu a sua referência - ela não simula alguma coisa a partir de outra. A simulação agora acontece em modelos de geração de um real sem origem, e visto que este real simulado não tem origem, não há exatamente uma realidade, o que há é o que Baudrillard chama de hiper-real - ou seja, não é que a coisa seja falsa, mas é o que o real nunca mais poderá ser produzido novamente.
Observe que aquilo que precede o mapa não é mais o território, mas sim o simulacro. É o simulacro que "cria" o território que satisfaça ao mapa, cubrindo, aos poucos, os ultimos fragmentos do real. Os vestigíos do real ainda subsistem no deserto, que não é mais o deserto do Império, mas o nosso deserto. O deserto do próprio real².
Desta forma a fábula não pode ser mais utilizada. Perceba que os simuladores coincidem o real com os seus modelos de simulação de tal maneira que não conseguimos mais perceber as diferenças. A diferença, que antes permitia a abstração das coisas, já não existe. É o fim da coexistência imaginária. Segundo Baudrillard, a simulação é indivisível, ou seja, não coexistência simulada. O real é produzido a partir de memórias, matrizes e de modelos de comando. A partir daí, pode ser reproduzido infinitamente.
Estes modelos combinatórios são o próprio hiper-real. Todos os seres referenciais são exterminados, não há real, nem uma única verdade, além da volta do sistema de signos, são características do início da era da simulação.
Os signos, que podem ser medidos e calculados, inseridos em sistemas binários e modelos de álgebras, são utilizados em modelos combinatórios para substituir e dissuadir o seu sentido real pelo seu duplo equivalente, ,ou seja, aquilo o signo também poderia representar, além do próprio real. Enfim, há uma substituição do significado real do signo para um outro significado e isto acontece de forma programática, como se fosses modelos gerados através de máquinas e computadores, onde o real de um signo vai sendo substituido pelo seu equivalente, e quando isto acontece o real é destruído para nunca mais ser recuperado.
A seguir, A Irreferência Divina das Imagens.
¹ Ver As Três Categorias de Simulacros
² BAUDRILLARD, J. Simulacros e Simulações. Ed. Relógio D'Água. 1991. Pg 8.
Obrigada, muito útil.
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