quinta-feira, 26 de junho de 2008

O Objeto Dominador: Cenas de Hiperconsumo

Vamos analisar a letra da bélissima canção interpretada por Zeca Baleiro:

Você Só Pensa em Grana
Raimundo Fagner - 2002

Você só pensa em grana meu amor
Você só quer saber
Quanto custou a minha roupa
Custou a minha roupa

Você só quer saber quando que eu vou
Trocar meu carro novo
Por um novo carro novo
Um novo carro novo meu amor

Você rasga os poemas que eu te dou
Mas nunca vi você rasgar dinheiro
Você vai me jurar eterno amor
Se um dia eu comprar o mundo inteiro

Quando eu nasci um anjo só baixou
Falou que eu seria um executivo
E desde então eu vivo com meu banjo
Executando os rocks do meu livro
Pisando em falso com meus panos quentes
Enquanto você ri no seu conforto
Enquanto você me fala entre dentes
Poeta bom meu bem poeta morto.

Esta canção retrata com muita propriedade uma sociedade do consumo sobre influência da máquina. Temos, em primeiro lugar, o objeto como referência de felicidade, status e bem-estar. O objeto é colocado na frente do próprio homem, que se sujeita as condições do objeto.

Na relação entre sujeito (aquele que conhece) e objeto (aquele que é conhecido) percebemos uma influência direta no comportamento que exercem cada uma das partes, porém em nossa sociedade contemporânea o que podemos observar é um novo modelo onde o sujeito se transforma, num processo de corrupção, devido à influência do objeto. Desta vez temos o objeto no controle nas relações de poder.

Na música temos a humanidade trocada pelo conforto que os objetos proporcionam. Neste caso, temos o dinheiro acima de qualquer coisa, como única meta e com singular relevância. O quanto uma pessoa pode lhe amar pode ser medido através da quantidade de riquezas adquiridas. Logo, quanto mais dinheiro e mais novo o seu carro, mais você é amado.

O intelecto e a sensibilidade são artefatos desprovidos de significação na sociedade do consumo, justamente porque estes atributos não têm vez entre pessoas que enxergam no dinheiro o remédio para a cura de todos os males. Pois, como finaliza, a música "poeta bom é poeta morto".

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