terça-feira, 8 de julho de 2008

"Palmada Não é Remédio Mas Faz Milagres"

Esta frase é de meu avô e serve para elucidar o pensamento de uma época. Recentemente um amigo publicou um post em seu blog pessoal para defender sua posição que bater numa criança - as famosas "palmadas inofensivas" - não ajudam na educação. Concordo, afinal o que irá definir as diretrizes da educação são outros fatores que vão numa direção oposta a este tipo de comportamento.

Porém, outros pontos de seu texto me fizeram refletir em algumas questões, dentre as quais irei me ater em três: 1) Qual é a intenção do agressor? 2) O ser-humano é, naturalmente, um ser violento? 3) Os filhos são reflexos de seus pais?

Primeiramente, acredito que o agressor em nenhum momento deve esperar educar num ato de violência, seja em menor ou maior escala. Porém a agressão, seja física ou psicológica (como no caso de uma ameaça, ou mesmo ao assustar uma criança com "fantasmas imaginários" - ou bichos-papões), servirá com eficiência para outro propósito: demonstrar autoridade, punir - através da repressão - e estabelecer um nível de hierarquia que, forçosamente, será respeitado. Possivelmente este tipo de experiência não irá "traumatizar" ou deixar "sequelas" numa criança para a posterioridade, ao contrário, irá lhe fornecer um artifício para sobreviver no mundo-cão que aguarda dali a alguns anos: vigiar e punir.

O que ocorre nesta relação de vigilância e punição entre pais e filhos é a representação infíma de um macro-sistema que se repete no desdobramento da vida: quando vamos para a escola se repete, numa escala maior, a mesma coisa - a privação de nossa liberdade, o respeito à hierarquia, o condicionamento de idéias e, novamente, a punição. Só que desta vez não são mais as reguadas na mão, ou uma chinelada nas pernas. Desta vez, a sua nota final é exposta para toda a classe, para que seus colegas possam zombar num processo de infinita concorrência e agressão psicológica. Aos poucos temos a metamorfose do "homem" em "objeto de utilidade".

Então, finalmente na vida adulta, somos reprimidos pelo sistema político. Punidos por violação de leis que não concordamos. Obrigados a aceitar condições sociais e econômicas de um sistema podre e corrupto.

Aprendemos, enfim, que bater, gritar e punir vale mais a pena do que tentar resolver as coisas pelos meios pacíficos. Para sobreviver num sistema que visa a concorrência, é mister que dominemos para não sermos dominados. Nem de longe isto me parece correto, mas esta é a caótica e infeliz realidade, onde tudo indica que fomos jogados numa roda que gira infinitamente em torno do nada e não possibilita nenhuma espécie de saída.

Vamos para a segunda questão: o ser-humano é naturalmente violento? Pode ser. Percebo que uma criança, mesmo que nunca tenha apanhado antes, ou visto alguém bater em outra pessoa - seja na televisão ou na vida real -, para conseguir algo se valerá de tudo. Irá gritar, espernear, chorar e, como medida extrema, irá bater. Mesmo após bater, e mesmo sem ganhar o que gostaria, a criança tornará a bater em outra situação. E assim será até ela entender que caso agrida ela será castigada. Compare com a vida adulta e novamente veremos que não há tanta diferença assim.

E no caso da criança que não foi agressora, e por isto mesmo nunca precisou ser punida? Conheço algumas pessoas assim, e quase todas cometiam algum ato violento contra alguma coisa que não eram passíveis de punição por seus pais: uns matavam insetos, outros maltratavam animais como cachorros e gatos e alguns destruiam todos os brinquedos que ganhavam. De certo, parece que todas as pessoas são seres orientados para a violência.

Ultimo ponto: Os filhos são reflexos de seus pais? Este é o pensamento corrente ainda hoje. Observamos várias pessoas dizer que educação vem de casa. Porém aquele ditado que diz "me diga com quem andas e eu te direi quem és" tem muito mais a ver conosco do que aprendemos em nosso lar. Isto explica muita coisa: como pode dois irmãos com diferença de menos de um ano de idade serem criados da mesma forma (no caso de total imparcialidade dos pais) e crescerem com tantas diferenças, seja de personalidade, seja de atitudes? Pude acompanhar um caso de dois irmãos que cresceram num ambiente tumuado, onde o pai era alcoólatra e batia na mãe. Posteriormente, um foi preso por caminhar na vida do crime. O outro era um advogado bem sucedido. Quando questionado ao primeiro porque ele havia virado bandido justificou com a vida difícil que teve quando era criança, com tantas agressões, e que por isto mesmo ele não tinha nada a perder e que era reflexo de seu próprio pai. Já o segundo irmão disse que ele havia optado por ser advogado justamente porque ele não queria ser igual ao pai e prometeu a si mesmo que seria um vencedor e que superaria tanto sofrimento.

É mais fácil prever como se forma um adulto através de seus amigos do que com as lições que ele aprende com os seus pais. Por isto mesmo os pais se chocam tanto quando um de seus filhos caminha na direção errada, pois com certeza eles deram a melhor educação possível. Por isto mesmo não devem ser julgados e culpados. Neste contexto, não é correto afirmar que os filhos são reflexos de seus pais, se assim fosse seria tudo muito previsível. Os modelos aleatórios da vida é que irão moldar todo o comportamento futuro num emocionante - e talvez injusto - jogo de surpresas, seja para o bem ou seja para o mal.

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