Li este livro no segundo semestre de 2003 de forma despretenciosa. A verdade é que não havia gostado do seu maior best-seller, Estação Carandirú, e então não fiquei interessado em ler outra obra do autor. Porém ganhei o livro, o tema me chamou a atenção e resolvi conferir. Resultado: excelente leitura, muito reflexiva e um dos livros que fico feliz por ter descoberto a tempo.
O tema trata da experiencia pré-morte, ou seja, daquelas pessoas que estão em estado terminal e que sabem que vão morrer em breve. Varella é um médico conceituado em São Paulo, especialista em oncologia, e durante toda a execução de sua vida profissional lidou de perto com este assunto, tornando assim os relatos de seus antigos pacientes ainda mais vivos e precisos .
No livro temos uma série de relatos. Os pacientes são diagnosticados com uma doença num estágio onde a cura tem mais a ver com milagre do que com as possibilidades reais da medicina. Diante do fato, Varella menciona casos que vão desde o desespero a aceitação, tanto do paciente, quanto da familia. Durante o tratamento para prolongar a vida, temos pessoas que simplesmente reaprendem a viver com extrema intensidade até mesmo aquele que fica resguardado em sua tristeza a espera do seu ultimo dia. Entretanto, a serenidade acaba por trazer-lhes uma espécie de sabedoria que está além do entendimento de uma pessoa que está no vigor de sua vida.

Enfim, este é um livro rápido, curto e gostoso de ler. O que poderíamos aprender com estas pessoas? Muito. Ao refletirmos sobre a nossa morte, também aprendemos que temos um tempo indeterminado para viver. Conscientes que nem sempre estaremos aqui, talvez podereos antecipar aqueles planos que sempre ficam para amanhã: ler aquele livro que sempre lhe chamou a atenção, ver aquele filme que sempre ficou para um final-de-semana que nunca veio, fazer a viagem para o exterior que você havia prometido a si na última férias, escrever suas palavras num pedaço de papel, plantar uma árvore, se reencontrar com velhos amigos, participar de atitude comunitária, dizer o quanto você ama os teus pais e o quanto eles são importantes em sua vida, levar os teus filhos no parque da Xuxa e no parque da Mônica, trabalhar menos, assistir menos o telejornal, nadar pelado em uma praia e tantas outras coisas que não cabe citar aqui.
É preciso planejar a sua morte. É preciso pensar que você nem sempre estará aqui. Chore agora, enquanto você tem um bom tempo para viver, para então você aceitar que este é o destino de todos e que a vida é assim mesmo, com seus mistérios indecifráveis. Só tomando consciência da morte saberemos o que é viver, pois enquanto isto não acontece estamos tão distraídos com fatores mundamos e superficiais que esquecemos ainda hoje poderemos morrer. Embora pareça que este é um pensamento mórbido, afirmo que não é. Muito pelo contrário é uma forma de você não deixar as coisas para amanhã e que assim que nascemos as areias do tempo começam a descer pela ampulheta.
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