Este artigo faz parte de uma série que visa analisar a obra Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski. Para conhecer todos os outros textos que já foram públicados sobre este assunto neste blog, clique aqui.
Conforme as próprias palavras de Dostoévski, Aliena Ivánovna era “uma velhota pequerrucha, descarnada, de uns sessenta anos, olhos penetrantes e maus, nariz pontiaguda e cabeça descoberta. Os cabelos de um louro desbotado(...) O pescoço fino e longo como um pé-de-galinha(...)”
Nem precisamos ter a imaginação tão apurada assim para logo associarmos a imagem de uma bruxa com a descrição de Aliena Ivánovna. De fato, Dostoiévski apresenta a velha usurária como uma pessoa má e que aproveita da condição desesperada e miserável do ser para enriquecer sem o menor constrangimento.
Aliena Ivánovna é uma espécie de agiota de nossos tempos. As pessoas vão até ela e penhoram os seus bens como garantia de pagamento de um empréstimo, cujo valor irá variar dependendo do objeto penhorado. Os juros cobrados por ela são astronômicos e em nenhum momento ela sente piedade por um de seus devedores, muito embora entenda que aqueles que vem até ela enxergam na velha a ultima possibilidade de se obter algum dinheiro.
São almas malditas que, quase beirando a insanidade, não vislumbram outra alternativa a não ser entrar num empréstimo destes, onde a propabilidade de pagamento é quase nula. Mesmo nesta condição quase animal, Aliena Ivánovna consegue ser fria, rígida e ver com total indiferença toda a situação, o que faz com que todos os seus clientes passem a odiá-la.
Ainda assim a velha aproveita da vergonha e humilhação de homens que não tiveram a sorte que a vida nos exige, ou que não souberam aproveitar a oportunidade que tiveram, para ficar sempre acima e manter o poder sobre eles. De certo, Aliena Ivánovna gosta de torturam psicologicamente as pessoas porque esta é uma forma de justificar para si mesmo que ela não é como eles. Que ela se enquadra num nível superior ao destes seres. Então, na miséria destes homens ela encontra um caminho para tentar ser feliz, ainda que de forma egoísta.
Raskólnikov é um destes clientes humilhados. A sua revolta é tanta com o tratamento recebido que ele decide que a usurária é um mal que precisa ser eliminado do mundo para que este se torne um lugar melhor para viver. Logo no princípio de Crime e Castigo, Raskólnikov planeja assassinar esta mulher em pró de um bem maior. Ele atinge o seu objetivo, porém a sua consciência oscila nos dias pós-crime.
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