quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A de Anarquia - O Movimento Libertário


Hoje, em nosso blog, é o “2° Dia Mundial da Consciência Anarquista”. A data é uma homenagem ao quadrinho V de Vingança, de Alan Moore, cujo personagem principal sussurrava em diversos momentos os seguintes dizeres: “Remember, remember / The 5th of November” (Lembrem-se, lembrem-se / o 5 de Novembro). Neste dia a personagem causou uma revolução através dos ideais anarquistas.

Mas, afinal, o que é o anarquismo? Qual a diferença entre anarquismo e socialismo? Quem foram os principais responsáveis? Qual é a influência deste movimento nos dias de hoje? Seria possível conviver numa sociedade anarquista? Vamos tentar responder a cada uma destas questões deste importante movimento que fez bastante barulho em outros tempos e que deixou uma grande herança para nós: a força da colaboração.

O anarquismo é um movimento ambicionista que visa, sobretudo, um mundo de iguais, justo e livre de qualquer força opressora. Num sistema anarquista, não haveriam governos, portanto, ele seria isento de leis e políticios. Também não haveria uma casta que seria detentora do poder para poder guiar os habitantes deste universo ideal, ou seja, você não teria chefe e nem a obrigação de reportar-se para alguém. É o fim da hierarquia.

Na prática, como isto funciona? Todos os indivíduos estariam acima do Estado, que desta forma perde toda sua força e não tem sentido em existir. Deste modo, o Estado é extinto e o que prevalece é a sociedade. A sociedade deveria estar comprometida em produzir e dividir as coisas produzidas entre si, ou seja, tudo aquilo que fosse produzido deveria ser compartilhada, tanto produtos duráveis, como não-duráveis, como conhecimento e ciência.

Desta forma, tudo fica em âmbito social. Porém, tendo consciência quanto à liberdade e a existência do próximo, cada um vive da forma que quiser, sem interferir na vida do outro e sem precisar obedecer um conjunto de regras obrigatórios. A consciência da divisão das coisas produzidas bastaria para conscientizar cada um do seu papel fundamental na sociedade, sendo que o prêmio para esta conduta é a liberdade máxima e uma justiça real.

Para que este nível de consciência seja atingido, é fundamental que o indíviduo respeite o direito à vida que todos os seres vivos possuem. Sendo assim, o indíviduo, além de não comer nenhuma espécie de carne, ainda deve proteger todos os animais e lutar pela existência das espécies. O homem que respeita outras formas de vida certamente respeitará sua própria espécie e será contra qualquer tipo de crime contra a existência.

De fato, o comunismo marxista se assemelha em algumas coisas ao anarquismo, porém eles também têm suas diferenças: para o alemão Karl Marx, os revolucionários deveriam tomar o poder e dividir as propriedades entre as pessoas (esta é a base do comunismo), porém estes revolucionários se manteriam no comando para garantir uma sociedade justa baseada no ideais socialistas.

Porém, para o francês Joseph Proudhon – que foi quem iniciou o movimento anarquista – não deveria haver divisão justamente porque não deveria haver propriedade! Além disto, Proudhon era contra qualquer tipo de governo, mesmo aquele conquistado pelos revolucionários, pois no fim toda espécie de liderança seria derivada do absolutismo. Proudhon era contra as idéias de Marx por inserir a sociedade num regime autoritário.

Visto que Proudhon havia rompido com os marxistas, o próximo passo seria construir uma sociedade libertária, que se daria na formação de federações – associações operárias – que através do coletivismo iriam estabelecer contratos profissionais, universais e individuais entre elas. Proudhon chegou até mesmo a se eleger como deputado para colocar suas idéias em prática, mas devido ao seu espírito rebelde e crítico acabou preso.

Porém o primeiro passo foi dado e a partir daí surgiriam diversas correntes anarquistas que se propagariam até os dias de hoje. O primeiro destes movimentos foi o chamado anarco-comunismo, encabeçado pelo radicalista russo Mikhail Bakunin e posteriormente pelo também russo Piotr Kropotkin. Pregavam uma economia coletivizada, onde a divisão das propriedades deveria ser feita por vontade do próprio povo conforme sua necessidade.

Para colocar o movimento em prática, valeu-se de duas táticas: ir até os trabalhadores e incentivá-los a adotar uma posição anarquista contrária a vingente – o que ficaria conhecido como movimento da esquerda, levado até os dias de hoje no momento da posição de um determinado partido político. A outra tática era montar pequenas colônias anarquistas onde a filosofia era praticada por solidários do movimento.

Um outro russo, chamado Sergei Nietchaiev, liderou uma outra corrente que iria determinar o modo como os anarquistas são vistos até os dias de hoje: bardeneiros e violentos. Ele pregava que qualquer atitude era válida na hora de atingir um objetivo libertário, inclusive o roubo, quando para financiar a causa, e o assassinato. Algumas destas atitudes ecoaram por todo o mundo numa espécie de justiça pelas próprias mãos.

Entre 1894 e 1914, anarquistas simpatizantes da violência explodiram casas de juízes, políticos, delegados. Entre as figuras da chamada anarquia revolucionária estão o rei Humberto da Itália, a imperatriz Elizabeth da Aústria, o presidente Sadi Carnot da França e o presidente William McKinley dos EUA. A partir daí, o idealismo anarquista foi rebaixado à uma atividade criminosa e qualquer que se dizia anarquista poderia ser perseguido e morto.

Embora devido a este movimento o anarquismo passaria a ser relacionado com o caos, a grande maioria das correntes anarquistas são totalmente pacifistas e denotam uma nova forma de viver a vida, como a anarquia verde, o anarco-individualismo, o anarco-sindicalismo e o anarco-capitalismo. Entre estes estão figuras influentes como Leon Tolstói, Michel Foucault e Henry D. Thoureau.

Entre a herança anarquista que resolvemos adotar no nosso dia-a-dia – ainda que sem saber que praticamos um ato de anarquismo – estão diversas conquistas importantes: a união do homem com a mulher sem matrimônio, seja na igreja, seja no cartório – o chamado amor livre; o vegetarianismo; a união entre meninos e meninas numa sala-de-aula; luta pelo direito de defesa dos animais; movimentos de resistência pacifista; isto somente para citar algumas.

Embora os ideais anarquistas sejam interessantes e justos, viver numa sociedade assim é praticamente impossível. Primeiro porque as pessoas não sabem viver se alguém não dizer como elas devem agir. Segundo que o anarquismo traçou um objetivo final, porém não como chegar lá: por isto mesmo há uma infinidade de correntes que tentam colocar em prática alguma coisa que vise a liberdade e a igualdade entre os homens.

Tem mais um agravante: as pessoas não querem ser iguais umas as outras, elas querem ser superioras. Elas necessitam de destaque, sendo que somente o necessário não basta. As pessoas preferem se adornar de prazeres falsos do que viver uma vida autêntica baseada em igualdade. Elas preferem acumular dinheiro do que dividir os seus ganhos com uma comunidade que garante que nada irá faltar para ninguém. O anarquismo vira utopia.

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