segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Cebolinha ao Revés: O "R" Pelo "L"

Na edição 131 da revista Caros Amigos (Fevereiro de 2008), uma deliciosa entrevista com Marcos Bagno, um linguísta alternativo (se assim podemos dizer), explicava algumas coisas a respeito de nossa língua portuguesa que achei muito interessante e gostaria de compartilhar neste blog – uma vez que também sou apaixonado pela filosofia da linguagem.

Na entrevista ele bate bastante no ponto de ser contra a cobrança da língua portuguesa formal – norma culta – na elaboração de textos e no preconceito a respeito do português marginal, ou seja, daquele português que falamos. Ele tem razão em dizer que o português que escrevemos é um e o português que falamos é outro, quando os dois deveriam ser um só, e que no final o que vale mesmo é a função comunicativa. Neste caso, dizer ‘nós vamos’ equivale a dizer ‘nós vai’, pois visto que o sentido não muda, não seria correto dizer qual é a forma correta de dizer tal sentença.

Achei extremamente interessante esta abordagem de Marcos Bagno, pois uma línguagem perfeita não deveria nem ao menos permitir que taís enunciados fossem formulados com ambiguidade, visto que o sentido é um só, mas uma uma vez que temos esta ‘falha’ ele resolve o assunto ao afirmar que os dois argumentos são igualmente válidos. Perfeito! Pois se é errado falar ‘nós vai’, como nós conseguimos entender exatamente o que a pessoa quis dizer com isto? É algo que eu nunca havia pensado e que me deixou admirado. Ao invés de proibir o uso por convenção, ele optou por ampliar as possibilidades.

Outro ponto que ele aborda na entrevista, é que as línguas se transformam, o que também é correto. Lembro que quando era mais novo, me diziam que era incorreto dizer ‘a gente’ – quando o certo era dizer ‘nós’ – pois hoje é comum não só falar ‘a gente’ como até mesmo escrever desta forma. Ou seja, aquilo que consideramos errado hoje, poderá ser o correto amanhã. Um exemplo que ele coloca é o tal do ‘menas’ e do ‘meia’, utilizado até mesmo por Camões e Machado de Assis, como na frase “Filomena era muito bonita, porém meia triste”. Muitos consideram errados, mas pode ser que daqui a alguns anos, não seja mais errado. Como no caso do ‘é difícil de se fazer’, cujo o correto seria ‘é difícil de fazer’, porém ninguém mais dá bola para este ‘se’ intruso nas sentenças.

Agora o ponto que eu achei o mais radical e mais lógico, simultaneamente, é a tendência de substituirmos a letra L pela R em diversas palavras – principalmente na pronúncia – como no caso de probrema (problema), chicrete (chiclete) e grobo (globo). Esta tendência seria tão natural que negá-la seria contradizer sua origem portuguesa. Muitas palavras, inclusive, provam o que Marcos Bagno está falando ao observar a origem das etimologias portuguesas: palavras que no original, ou seja, no latim ou no espanhol, eram com L ficaram com R em nossa língua pátria: blanco é branco, plata é prata, esclavo é escravo. Ou seja, a tendência é milenar! Ele inclusive cita que nos Lusíadas, de Camões, existem várias palavras escritas assim, justamente porque na época em que o poema foi escríto, era possível utilizar as duas formas para escrever. Palavras que temos nos Lusíadas: ingrês, pubricar, pruma e frauta.

Enfim, talvez num futuro próximo nem vamos estranhar mais o tal do probrema, afinal pode ser eu ou você que estaremos falando assim. E o melhor é que ninguém irá tirar um sarro!

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