Em grandes corporações e algumas empresas de porte menor organizam, anualmente, um evento chamado "Dia do Voluntário". Neste dia, os funcionários são convidados a ajudar uma instituição de caridade (geralmente escolhida por critérios obscuros que muitas vezes não chegam ao restante da empresa) com serviços que vão desde pintura até jardinagem. Eu trabalho numa destas empresas e recentemente me questionaram se eu iria participar e eu disse que não. Este post trata do meu argumento para não participar deste tipo de evento.
Aparentemente, a idéia que toda ajuda é válida parece uma coisa boa. Essencialmente a sentença é verdadeira, o problema reside na superfície deste ato organizado. Vamos lá: o Dia do Voluntário denota a idéia em que um dia do ano você será incentivado a fazer uma ação caridosa que visa alentar o espírito, de forma a obter a consciência de que somos responsáveis por mundo melhor. Desta forma, o Dia do Voluntário representaria uma espécie de despertar onde o homem passaria a estar cônscio que sua ajuda é necessária para o desenvolvimento positivo de seu ambiente social. Se este realmente fosse o propósito da ação, não haveria a necessidade de que outros dias do voluntário fossem organizados.
Porém o que eu vejo é bem diferente: as empresas valem-se deste dia para promoverem para o mercado a idéia que elas se preocupam com as pessoas desamparadas - a tal da responsabilidade social. Aquilo que deveria ser uma doação passa a ser uma troca: eu te ajudo, você fortalece a minha marca. Assim, a medida vira uma data fixa do calendário da empresa e próximo a este dia elas geralmente fazem um estardalhaço: banners espalhados para todos os lados, panfletos, destaque na intranet/internet e, claro, imprensa envolvida para cobrir o evento. Ou seja, por trás de um sentido ideológico surge uma farsa: o gênio mal se passa por bom mocinho.
Alguns fatos estão de acordo com o que digo: numa das edições, fiquei sabendo que o trabalho de reforma que a empresa organizou como trabalho voluntário estava praticamente pronto por uma equipe de profissionais contratadas para por a mão na massa antes de chegar o levante de funcionários. Depois que eles chegaram mal precisaram se esforçar para fazer a reforma. Enfim, fica evidente que o objetivo era apenas a promoção do evento.
Também vejo outros tipos de problemas inerentes a empresa: as pessoas, depois de uma dia como este, compram a idéia que fizeram sua parte por um mundo melhor e descansam os outros 364 dias com a consciência tranqüila. Fora que estas ações voluntárias, que em parte deveriam ser motivada por um espírito político, são uma fachada apenas para a diversão egoísta do ser que participa, objetivada para conhecer novas pessoas num ciclo onde a convivência é diária, e até mesmo para se promoverem como boas pessoas diante dos outros - numa espécie de constrangimento involuntário.
Ficaria muito feliz se as pessoas se contentassem somente com a alegria proveniente do ajudar, do ceder e do contribuir, pois assim não haveria somente um dia do voluntário por ano. O problema é que isto não é motivação suficiente para fazer com que elas se movam num dia qualquer e optem por fazer uma ação voluntária. O mais correto seria agir por iniciativa própria e se satisfazer com o sorriso de quem recebe a nossa ajuda. Realizados, repetiríamos o gesto tantas e tantas vezes que uma data como esta seria comemorada como: "hoje é meu dia, um cidadão que contribui ativamente por um mundo melhor".
Nenhum comentário:
Postar um comentário