quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Será que Deus nos Ouve?

Vou colocar uma questão a respeito das religiões que ultimamente tem dominado parte das minhas atuais reflexões. Não pretendo criar polêmica, mas não vejo como tratar do tema sem que seja polêmico: A partir do pressuposto que Deus exista, como pode as mesmas orações serem o canal entre os homens e o divino? Para exemplificar, algumas religiões ensinam que as orações são a forma que temos de conversar com Deus – ainda que a conversa seja unilateral, ou seja, numa única direção – mas como meras palavras, que soam através do mundo físico, podem ecoar até a divindade? Ou ainda, porque Deus ficaria contente de ouvir sempre as mesmas coisas?

Seria uma espécie de senha? Neste caso, todas as vezes que rezasse um “Pai Nosso”, Deus iria sintonizar um canal entre Ele e aquele que ora? Ainda nesta linha, todas as vezes que louvamos ou cantamos ao Criador, Ele estaria nos ouvindo? Caso afirmativo, ao dizer que Deus nos ouve, o fato dele nos ouvir não evidencia uma entidade física – não espiritual? Pois qualquer ser que ouve precisa de um aparelho natural ou artificial físico em pleno funcionamento que lhe possibilite que as ondas propagadas por nossa voz seja interceptadas e compreendidas.

Se Deus rege o universo através do mundo espiritual, então não bastaria que apenas a nossa elevação espiritual fosse o suficiente para contatar o Divino? Algumas crenças dizem que os cânticos e as orações em voz alta e em grupo é que farão o ser elevar-se espiritualmente, porém entendo que o nível mais alto de desligamento do universo - que irá lhe possibilitar uma fuga do universo físico para que você consiga estabelecer uma olhar extramundano – ocorre de maneira individual. Neste caso o discurso mais plausível seria ensinar aqueles que creem em Deus como eles podem se iluminar individualmente, como ocorre, de certa maneira, no budismo.

Como já disse em posts anteriores, Deus é uma das possibilidades reais de explicar a origem do mundo, assim como o evolucionismo e a ideia de que o universo não teve um início, ele simplesmente sempre esteve aí e é uma entidade infinita em si mesma. Ou seja, meus questionamentos não pretendem ser irônicos, mas provocar uma reflexão acerca do tema, pois acredito que a linguagem empregada é um problema gravíssimo e que pode nos distanciar ainda mais da ideia de uma criação divina. Uma vez Wittgenstein fez entender-se que não há como falar de coisas absolutas pois precisaríamos relativiza-las. Assim jamais conseguiríamos falar da coisa em si com clareza, e nas incertezas das palavras correríamos um risco enorme de falarmos algo que não é como realmente é. Neste caso, a melhor coisa seria se calar.

Ao considerar a existência de múltiplas dimensões ou múltiplas realidades, fica mais fácil pensar que a dimensão X só consegue comunicar-se com os habitantes da dimensão X e a dimensão Y só consegue comunicar-se com os habitantes da dimensão Y. Neste caso, se Deus realmente criou a Terra ele precisou se converter em uma entidade física, e somente como entidade física ele poderia tomar consciência do mundo terrestre. A partir do momento que ele voltou a ser entidade espiritual, deixou de ter consciência do nosso mundo e convive numa outra dimensão. Se é para lá que vamos quando morrermos é outra discussão. O ponto é que talvez os rituais de oração e cantos estimulados pelas igrejas talvez não sejam eficientes em nada.

A única verdade nesta discussão toda é que jamais poderemos chegar a lugar algum, uma vez que convivemos em uma outra realidade, tudo não passa de alternativas e especulações que visam gerar dúvidas progressistas. Resta então, como Wittgenstein disse, nos calar.

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