De fato, a vida é um acontecimento complexo. De muitas maneiras, tentamos (quase sempre em vão) racionalizar certas atitudes, criar um código de ética e moral, obedecemos as leis, temos fé que algum plano exterior nos aguardará ao término de nossa jornada e afins. Outras vezes vamos adiante, substituimos algumas crenças, apostamos na ciência, nos tornarmos seres cultos, outras vezes vestimos roupas de luxo, gastamos horas em frente a televisão, vamos ao restaurante comer exatamente o que temos dentro de casa, resgatamos o luxo e fazemos viagens para locais que não nos pertence.
Tantas coisas e chega o dia em que tudo isto não importará: o tenebroso dia em que a morte baterá em nossas portas. A morte é o estado que temos consciência desde cedo e que mesmo assim ignoramos que ela esteja ao nosso redor durante todo o viver. Estamos tão apegados ao nosso cotidiano que não queremos deixar que tudo simplesmente acabe. Para boa parte da sociedade, a vida continua num plano superior, o que é reconfortante – embora não menos assustador. E para quem não crê na existência sobrenatural, o que resta?
Uma parte se converte, a outra fica angústiada. A situação é tão crônica que a impressão que temos é que a vida é uma espécie de gracejo sem razão de ser. Nesta ótica, viver é uma doença e morrer é a cura deste mal. Uma boa parte da filosofia oriental irá se concentrar em como fazer com que o homem consiga apartar o medo de morrer e, consequentemente, aprender a viver sem dor. Irão enfatizar que é necessário ampliar a consciência do mundo a partir do autoconhecimento. Uma das máximas de Nietzche, pensador influenciado por esta cultura, diz “Conhece-te a ti mesmo”. No budismo clássico, através do equilíbrio da mente e do corpo alcançamos o autocontrole, onde cada vez que meditamos observamos a vida passar sem que nada nos cause aflição.
Ainda nesta direção, o que faz com que a vida se torne sofrida e que a morte se torne algo temido é a imensa relação que temos com o nosso mundo: pessoas, objetos e pensamentos. É preciso desapegar-se destas relações para que tudo se torne suportável. Ainda nesta linha, você é o seu melhor companheiro e você deve estar acima de todas as coisas do universo.
A técnica parece funcionar. Você entra num estado semelhante ao dormir, embora acordado, e depois de algum tempo desperta numa sensação boa e com a mente limpa para começar tudo novamente. Quando más ideias surgem em sua mente, você pode novamente meditar e certamente sua mente irá esvaziar seus pensamentos novamente. Porém qual seria diferença entre meditar e se embebedar ou mesmo se drogar? O próposito é o mesmo: fugir da vida como ela é, onde existir e deixar de existir são processos dolorosos.
Realmente estas técnicas te aliviam temporariamente, mas o preço a pagar é alto. Do que adianta deixar de se apegar aos objetos e as pessoas se são estes que causam prazer? Schopenhauer disse que a vida consiste num ciclo infinito entre desejar, realizar e se frustar. Parece que ele tem razão, mas se viver é sofrer, porque fazer diferente disto? De que adianta viver isolado de tudo, de olhos fechados para as relações entre o eu e os outros, de forma que a vida passe sem dor, porém sem lhe proporcionar emoções como sorrir ou chorar?
Algo está na caminha cabeça à algum tempo: a razão é da razão e a emoção é da emoção. Cada um no seu campo, não vamos misturá-las. Não vamos tentar racionalizar o amor, a saudade, o desejo, o medo, a paixão, a angústia, a alegria, a fé, a esperança e a tristeza. Muitas vezes estas coisas vem e vão, nos arremessam para cima e para baixo como bonecos de fantoches, porém estes somos nós. Sim, sofremos muito com estas coisas, porém temos sentimos coisas boas que estão para além das palavras.
Sei que muitas vezes este estilo de vida pode parecer ignorante, porém como deixarmos se sermos humanos para nos transformarmos em robôs racionais? Onde reside a emoção também reside a vida e é preciso aceitar que há coisas que estão para além de nossas escolhas que fazem parte da empreitada do existir. Isto é deixar ser levado pela vida. Assim poderemos aproveitá-la muita mais intensamente e pararmos de nos preocupar como evitar o sofrimento, que é inevitável enquanto seres humanos.
Você se abster dos conceitos de desejos para viver uma vida sem emoção é uma escolha que talvez não vale a pena. Isto não significa necessariamente que você deve consumir para além das necessidades – o chamado hiperconsumo. Esta discussão é bem diferente daquela que eu iniciei no ano passado com a hiper-realidade e a ignorância condicionada do que acontece por baixo dos panos. Naquela os homens consomem para não conhecerem problemas de importância real e para se isentarem de suas responsabilidades perante o mundo. Aqui estamos falando do direito de sermos seres sensíveis, assumir nossas emoções e não nos envergonharmos das consequências.
Por ultimo eu tenho medo da morte. A parte boa é que se morre somente uma vez. Porém a vida é tão boa e tão gostosa que eu temo mesmo o dia em que a dona morte chegará em sua barca para me levar. Como posso me desapegar as boas lembranças, as ideias de querer mudar o mundo, as imagens de nossos filhos em todas as etapas de suas vidas, dos entes queridos, dos livros que eu li, das lembranças dóceis de meus avós, das piadas de uma roda de trabalho? Não, obrigado! Prefiro morrer com medo ao invés de abandonar tudo aquilo que me faz sentir V I V O !
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