Um Estranho

Talvez a vida seja mesmo bonita, serena,
Os raios de sol, o caminhar das nuvens,
Toda beatitude exposto aos olhos cegos, toda paixão.
Sei que a verdade ultrapassa os meros limites da visão.

Acredito que nada é assim tão lívido... Tantas cores...
O sabor não é tão insípido... Afinal, tantos amores...
Os pássaros cantam liberdades... Doce canção...
O espetáculo é verdadeiro, lustroso... Toda composição...

Talvez os homens não sejam assim tão ruins,
Tanto suor, tantos sorrisos, tanta luta, tantas lágrimas,
O carinho das mães, a dedicação dos pais, vitórias e derrotas,
A inocência das crianças, o beijo dos apaixonados, todos na mesma barca.

Acredito que nada é assim tão cruel... Tanta volúpia...
Nada é assim tão melancólico... Afinal, tanto êxtase...
Tanta euforia, tantas loucuras, tanto calor, tantas alegrias...
Tantas saudades, tanto carinho, tanta coragem, tantas famílias...

Talvez este mundo tão bel não tenha sido feito para mim,
Talvez não seja digno de absorver tantas coisas boas e bonitas,
Talvez eu seja um estranho num paraíso de portas fechadas,
Talvez eu seja uma aberração num lugar de tantas coisas lindas...

Acredito que para mim tudo é um sonho... Tanta pressão...
Sou julgado por cada passo meu... Afinal, tanta solidão...
O beijo não dado, o abraço no sentido, o carinho não manifestado,
Tornou a vida sem graça, o corpo retalhado, o amor recusado...