quarta-feira, 29 de abril de 2009
Sobre a Traição Conjugal
O ato de trair se configura como uma ação que visa ferir moralmente o próximo através de uma quebra de contrato virtual de forma consciente. Ou seja, trair é ir contra o próprio discurso anunciado pelas palavras e fazer no escuro aquilo que jamais admitiria fazer sob a luz.
Portanto a traição se encontra na categoria de ações do submundo, marginalizada e condenada por aqueles que decidiram cumprir com o contrato ético e moral, realizado entre ambas as partes, até o fim. Em rodas de amigos é comum observamos o quão a traição é vista com más olhos, porém o discurso parece não convergir com a prática, visto que estamos numa era onde a traição conjugal parece ser o levante de uma moda dos novos tempos.
De fato, uma vez ganhei um livro chamado "O Convite", da autoria de Oriah Mountain Dreamer, que dizia justamente que era impossível escapar de uma traição quando a tentação batia em suas portas: ou você trairia o seu cônjuge ou você trairia os seus desejos. Num texto que enfatiza o indivíduo o significado está claro: faça o que quiser! Quer trair, faça sem peso na consciência.
A traição ganha, vagarosamente, status de algo bom proveniente de uma revolução sexual iniciada nos anos 70 e que ostenta em seu mastro a bandeira de liberdade acima de tudo. Moralmente temos uma inversão de conceitos: se o mundo é uma verdadeira festa, porque não participar desta orgia?
Existem alguns pormenores que devem ser avaliados. Com a revolução iniciada com os hippies, cuja placa dourada estampava o slogan "Paz e Amor": uma vez que a liberdade é conquistada com o desapego nas relações sociais, não havia contrato entre as partes que se envolviam. Neste contexto o homem e a mulher que se envolvem neste tipo de relação não esperam outra coisa a não ser o prazer imediato. Não há outro tipo de interesse, a não ser o movimento pelo movimento. Portanto, este tipo de relacionamento é válido. Afinal isto não é traição.
Traição não é se apaixonar por outras pessoas que não seja aquela cujo prometemos amor eterno. Trair não é negar um contrato social. Ao contrário, devemos procurar sempre aquilo que é melhor para nós, assim não vivemos em estado de constante angústia. Então como devemos proceder? A resposta pode ser um pouco ampla, mas se resume a algo: é possível ser autêntico, fazer tudo aquilo que está em sua mente sem ser desleal. Basta romper com o acordo moral que você firmou com a outra pessoa.
Se você jurou fidelidade e não pode mais cumprir com sua parte, diga isto para a outra parte e quebre os vínculos para que você possa se manter íntegro e honesto consigo mesmo. Ainda assim porque isto parece tão difícil? Porque as pessoas continuam a enganar os seus cônjuges?
Ao que parece, transgredir é algo que está na moda: pequenos delitos são cometidos com certa excitação (na lista encontramos infrações de trânsito, golpes financeiros, consumo exagerado de bebida alcoólica, competições desleais no ambiente de trabalho, entre outros), criado por um efeito dominó onde aquele que comete a infração se sente bem e acaba por contagiar os demais quando menciona o seu ato. Se sentem bem porque estão impunes, logo podemos concluir que o ser humano possui uma raiz maquiavélica, onde naturalmente ele se inspira em fazer o que é errado, convencionalmente falando, pois o difícil mesmo é dizer que estes atos são errados quando tudo indica que seus participantes estão felizes com os seus crimes.
Mas existe alguma linha que permita dizer que aquilo que estas pessoas fazem são coisas erradas, uma vez que todos ficam bem? Sim: o fato delas saberem que aquilo que estão fazendo está errado. Isto configura o ato como algo ruim. Existe uma direção que vai dizer que as pessoas se excitam justamente por terem ciência que estão na contramão do que é esperado delas. Portanto, é a certeza de estar fazendo algo ruim que os levam a cometer estes delitos. Enfim, está errado e ponto.
Outro ponto para fortalecer este argumento: enquanto ser que trai está tudo bem, enquanto ser que é traído está tudo mal, sendo que ambos podem ser a mesma pessoa em momentos distintos e experimentar os dois lados da moeda. Neste caso, nenhuma das partes ganhará coisa alguma.
Por fim, é preciso parar de incentivar este tipo de prática - principalmente nas mídias de massa - justamente por se tratar de algo que trás a tona aquilo que há de mais podre nos seres (ainda que seja algo natural), que envolve a má índole, o mal caráter e o fim da convivência social harmônica.
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a traição como descumprir com algo previamente tratado(?) é pura má índole, concordo com voce. só quero compartilhar um comentário.
ResponderExcluira traição é tão torturante porque as pessoas vêm seu parceiro como propriedade. e é daí que surge todo o sofrimento, dessa dependencia que muitos têm de sentirem os únicos proprietários, quando na verdade não tem controle nem sobre si mesmos.
é realmente desleal fazer esse 'contrato' e saí por aí traindo e argumentando de todas as formas. mas quem se aliena da possibilidade de que isto aconteça e se veste de ilusões só intensifica o peso que carrega.