"Todos pensam em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo." - Léon Tolstói
De tempos em tempos surgem homens que são coroados com a glória e adentram na sala da eternidade. Há algum tempo, de forma misteriosa e fascinante, houve um levante russo na literatura mundial que abriu as portas para que alguns gênios gravassem os seus nomes para sempre em nossa memória. Dentre estes nomes se encontram Fiódor Dostoiévski (1821-1881), Máximo Gorki (1868-1936), Anton Tchékhov (1860-1904) e Lev Nikoláievich Tolstói – ou simplesmente Léon Tolstói.
Tolstói, nascido no dia 9 de Setembro de 1828 e falecido no dia 20 de Novembro de 1910, poderia muito bem ser lembrado apenas por sua obra (entre as quais destacamos seus principais romances: Anna Karenina e o grandioso – em todos os sentidos – Guerra e Paz), porém ele foi adiante e se tornou um grande pacifista em atividade, cujas ideias refletiram em nada mais nada menos do que o indiano Mahatma Gandhi.
O próprio Tolstói divide sua vida em quatro períodos, onde na velhice irá repudiar diversos momentos (como a juventude, onde o precoce escritor se deliciava com muita bebida, prostitutas e jogatinas). Na primeira fase, observamos um Tolstói que não conhece pai e mãe - as quais morreram muito cedo - sendo, então, educado por preceptores franceses. Logo Tolstói irá ser influenciado pela cultura de seus preceptores. Como todo grande gênio, Tolstói era um homem perturbado e diversas questões colocavam a sua existência em xeque. Portanto ele irá se dedicar à estudar os filósofos em busca de alento para sua alma. Um dos filósofos mais estudos foi Jean-Jacques Rousseau, que escreveu o Contrato Social, livro que influenciou os jacobinos durantes a revolução francesa, principal tema do romance Guerra e Paz.
Sofrendo pela questão existencial, cuja morte faria parte de seus pensamentos até o fim de sua vida (tema discutido profundamente no conto A Morte de Ivan Ilitch), Tolstói obteve o repouso que sua mente necessitava ao se dedicar a vida matrimonial com Sônia Bers, com qual teve 13 filhos. Foi durante os primeiros 15 anos de calmaria que ele conseguiu escrever seus dois longos e principais romances: primeiramente Guerra e Paz e na sequência Anna Karenina.
Nesta época ele já era mundialmente conhecido pelos seus escritos, porém ele ganharia status de “celebridade” por suas atitudes fora da literatura, que acabaram por repercutir de forma única em todo globo terrestre.
Tolstói foi conhecido por sua atitude anarquista em relação as organizações sociais. Numa viagem à Europa, chegou a visitar o criador do anarquismo Piérre-Joseph Proudhon. Ele era vegetariano (pensava que devíamos respeitar todas as formas de vida e que enquanto isto não acontecesse, jamais iríamos parar de nos confrontarmos), era contra qualquer tipo de governo, repudiava o consumo de bebidas alcóolicas, era contra as excessivas regras e contra qualquer tipo de punição. Achava que jamais o mal poderia ser combatido fazendo qualquer forma de mal, portanto qualquer tipo de violência era injustificável perante um discurso de paz.
O escritor russo chegou a fundar uma escola para os filhos de camponeses – a qual admirava profundamente o estilo de vida (considerava como o mais correto entre todas as formas de viver): na escola os alunos não eram obrigados a ir, pois o aprendizado deveria ser espontâneo e consensual. Também era contra o alistamento militar obrigatório: para Tolstói, o homem deveria fazer somente aquilo que bem entendesse, o que reflete em sua posição de uma liberdade incondicionada.
Léon Tolstói também foi conhecido por seu ideal cristão: rejeitava todos os dogmas da igreja, dizia que Jesus foi o principal difulsor das ideais divinas, porém ele era apenas um homem, e jamais poderia ser Deus. Rejeitava as orações dentro da igreja, visto que Deus estava em todos os lugares e que o próprio Jesus havia ensinado a rezar em silêncio. Acreditava que a igreja beneficiava a si mesma enquanto condicionava os homens a realizarem os seus próprios desejos. Este tipo de ideia levou a Igreja Ortodoxa Russa à excomungar Léon Tolstói.
Como suas ideias não condiziam com seu estilo de vida, de certa maneira luxuoso e cômodo, Tolstói se sentia imensamente perturbado: para ele não deveria haver distinção entre pensamento e prática. Portanto abriu mão dos vencimentos referente as vendas de seus livros, começou a viver como um camponês, limpar os seus aposentos, se vestir com roupas simples e feitas por ele mesmo. Passou a escrever diversos textos e panfletos criticando a sociedade e os artistas estéreis, cujas obras eram mais adornadas do que objetivas (tanto é que neste período ele rejeitou muitos textos que ele mesmo havia escrito anteriormente). Enfim, Tolstói fez um barulho imenso naquela época: só não foi preso porque ele era Tolstói, um símbolo de inspiração universal.
Além disto, uma legião de seguidores começou a seguir a sua doutrina e se auto-intitularam tolstoianos. Toda esta virada fez com que sua família achasse que ele estava ficando louco. Tolstói começou a esboçar um plano para deixar a casa e viver a vida em simplicidade a qual acreditava.
Então, com avançados 82 anos de idade, Tolstói foge com sua filha mais nova – a única que compartilhava dos ideais do pai. Na insistência em viajar com a classe mais baixa, Tolstói contrai uma pneumonia, graças ao frio e a inalação de fumaça provocada pela locomotiva. Dizem que milhares de pessoas foram receber o corpo de Tolstói na estação de trem, assim como dizem que o seu caixão foi carregado por inúmeras pessoas.
Em todas as fases de sua vida, Tolstói nunca abandonou a escrita. Portanto podemos acompanhar os diversos Tolstóis em seus escritos, que vão desde peças e contos, até tratados e cartas. Hoje Tolstói é retratado no cinema e é referência para qualquer apreciador da literatura. Ícone da cultura russa, Tolstói é um tipo único que faz falta até os dias de hoje.
Nenhum comentário:
Postar um comentário