sábado, 10 de abril de 2010
O Arquiteto Divino
Há uma série de pessoas que são descrentes em relação ao criacionismo, mas acreditam que uma força metafísica deu início ao universo como o conhecemos hoje. Estas pessoas negam os textos religiosos para explicar o surgimento da vida, mas tão pouco acreditam que o nosso surgimento é meramente graças a um acidente cósmico.
A ideia é que exista ou existiu uma espécie de força maior que criou a matéria, seja por casualidade ou proposital, e dai por diante as coisas foram acontecendo conforme o próprio andamento do universo.
Embora seja uma teoria válida, utilizada por grandes nomes da filosofia, como Aristóteles ao afirmar o Primeiro Motor - que diferente de todas as outras coisas é causa de si mesmo, pensamento de pensamento, aquele que iniciou o tempo e o movimento, o chamado Ato Puro e Imóvel -, ela possui muitas implicações. O que abre um leque de reflexões imenso.
Para acreditarmos na teoria de um primeiro movimento que origina todos os outros precisaríamos adotar o único caminho que parece razoável: este primeiro movimento precisaria ser consciente de tal modo que permitisse dar origem a si mesmo. Se ele tem consciência, também precisa ter vontade própria para mover o "estado de vazio total" para o "estado de alguma coisa".
Além disto, esta força originadora precisaria migrar de um elemento transcendente para ser causa de um elemento material. Independente de como isto supostamente poderia ocorrer, o fato é que o elemento primário precisaria de vontade para ser causa de um elemento secundário. E a vontade implica em uma consciência ativa.
Se entendermos que o primeiro movimento ocorreu de forma consciente, algo pretendia mudar/criar alguma coisa. Ou seja, era uma consciência inteligente, assim podemos chamá-la de Arquiteto Divino, pois se trata de uma força que inicia o tempo de forma intencionada de que algo poderia acontecer dado o primeiro movimento.
Mas o papel do arquiteto não é modelar as coisas? Sim. Pressupondo que as coisas aconteceram como nesta reflexão, entendo que com o primeiro movimento inicia-se uma série de outros movimentos com causa em algum outro, que no espaço se encontram e dão origem e que passam a possibilitar a existência de novos fenômenos. Só o tempo sozinho não consegue se chocar consigo mesmo, então há de existir uma partícula física elemental que possam dar origem a outras coisas no espaço. Para existir esta partícula, é necessário que esta consciência primeira de alguma forma crie isto no tempo ou simultaneamente com o movimento primeiro. Novamente temos evidências de alguma inteligência com algum propósito (desde que os pressupostos colocados sejam aceitos).
Com estas partículas no tempo, temos possibilidades de acidentes cósmicos que podem originar uma série de efeitos que possuem uma causas particulares nos diferentes cenários. Deste modo temos algo desordenado e aleatório acontecendo de forma linear no infinito espaço e tempo. Há teorias que dizem que desta forma a vida poderia surgir, uma vez que se as combinações de causalidade são infinitas, em algum momento a complexa combinação que possibilita a vida teria que acontecer.
Porém nesta linha de pronto enfrento dois problemas para resolver:
1) Se a partir de um primeiro movimento considerarmos que o tempo e o espaço são infinitos então tudo já aconteceu, acontece e acontecerá no tempo por infinitas vezes. Isto implica numa teoria de absurdo desproposital, uma vez que a eterna repetição traria o fim e o nada, sendo que a partir deste nada o inicio aconteceria novamente a partir de um movimento primeiro - que já não pode ser primeiro por que ele já ocorreu infinitas vezes no passado e ocorrerão infinitas vezes no futuro. O próprio enunciado já apresenta um problema de referência circular da qual não há saída aparente. A solução seria substituir o conceito de movimento primeiro para um movimento orquestrado por uma inteligência maior que atua num modelo criacionista de tentativa e erro. Ainda assim haveria o problema do infinito para resolver, visto que em algum momento no tempo a criação atingiria a perfeição, mas mesmo assim fadada a um fim para dar lugar ao nada novamente. Por isto reitero que partir por este caminho é um tanto quanto dificultoso, visto que temos problemas insolúveis pela frente.
2) O mais provável é que em meio ao caos desordenado antes mesmo que houvesse um evento que possibilitasse a vida ocorreria uma lógica de desvio que aniquilaria infinitamente qualquer chance de estarmos vivos. Se numa via precisamos de uma combinação extremamente grandiosa, complexa e coincidente para gerar o universo como o conhecemos, na outra via nem precisamos de algo tão complexo assim para que a possibilidade de vida nunca pudesse acontecer. Antes que fosse processada a fórmula que dá origem a vida, seria processada uma fórmula que jamais permitiria que algo assim acontecesse no infinito, pois jamais conseguiria chegar lá. Uma das maneiras de resolver este problema seria pensar em um tempo que não fosse linear, pois o caos voltaria para trás e caminharia para frente até que o universo fosse ajustado como o conhecemos hoje. Mas isto também implica numa inteligência supranatural que permita decisões de quando o caos deve ir ou vir.
Como podemos acompanhar até agora através deste caminho, o caos acontece de uma maneira desordenada que não possibilita um acidente que possa causar algo que não seja algo proveniente do próprio caos. Isto implica em dizer que o caos gera ainda mais caos.
Se aceitarmos estas premissas, então podemos afirmar a existência de um arquiteto divino, pois além de impulsionar um movimento primeiro físico de um modo não físico, esta força também necessita ordenar o caos. Isto indica que temos fora do nível material uma consciência inteligente que dá ordem ao universo caótico que impulsionado pela mesma força que originou o início das coisas. Parece-me coerente e razoável pensar que a força de início e a força de ordenação representa uma única entidade justamente por que entendo que aqui há uma consciência primeira antes de qualquer coisa.
Neste caso, não temos uma dualidade, mas sim a primeira coisa que antecede a todas as outras e que, de fato, parece ter inteligência e vontade para iniciar e ordenar os eventos que levam a formação do universo. Então o caos mencionado anteriormente serve como matéria prima para a formação da natureza material, onde a combinação consciente permite a modelagem de sistemas complexos e arquiteturas que possibilitam a existência e habitação dos seres.
Portanto afirmar a crença que algo realmente teve ter iniciado o mundo implica que este algo teve consciência, inteligência e força para dar o primeiro movimento. Isto nos leva a concluir que neste caso esta tarefa só pode ser atribuída a uma entidade transcendente e superiora, imaterial - ainda que com propriedades de criar matéria. Esta entidade, este arquiteto divino, pode ser perfeitamente chamado de Deus, como é chamado por aqueles que creem nos textos sacros religiosos.
Só que afirmar a existência de um Deus nos traz mais uma série de outras reflexões e implicações como: qual é o propósito de sua criação? Este ser ainda está vivo? Qual é o seu real papel? Diante desta perspectiva, o que fazemos aqui?
Enfim, temos uma série de questões que não serão tratadas neste artigo por não fazer parte do escopo. A ideia é simplesmente discorrer sobre como a crença em qualquer coisa está intrinsecamente ligada a algo metafísico, como se acreditar fosse uma propriedade divina que carregamos em nosso interior. Ou seja, se você acredita que uma força exterior começou o mundo de alguma maneira você deve acreditar que um ser superior e inteligente começou tudo. Entretanto, como sempre afirmo, qualquer crença traz uma série de problemas existenciais que exigem a mais árdua reflexão. Até mesmo a crença de que tudo isto é uma mentira, pois em vias de possibilidade o infinito segue a nossa frente. Tudo pode ser verdadeiro, tudo pode ser falso. Inclusive uma outra teoria diz que todas as coisas sempre estiveram aí, no infinito, ou seja, nada foi criado, nem de uma maneira, nem de outra, visto que somente os seres vivos possuem corpos materiais que vivem e morrem, num ciclo constante. Mas isto também é assunto para outro artigo.
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cara, muito bom o teu blog, com exceção de alguns erros de português... nota 10
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