sábado, 11 de junho de 2011

Coração Valente


Vamos trocar, momentaneamente, o título deste clássico para Coração Despedaçado para que assim fique mais condizente com a proposta do meu olhar perante a melancólica - belamente melancólica - jornada do guerreiro Willian Wallace, traído de sua infância até a sua morte.

Neste caso também poderíamos intitular a obra como Coração Traído que o entendimento seria o mesmo. De fato, Coração Valente é um filme épico, bem filmado, bem dirigido, com uma história muito marcante do tempo em que as coisas se resolviam na espada, onde o mais forte e mais corajoso levava vantagem sobre o mais fraco e mais covarde.

Entretanto estas qualidades não são exclusivas de Coração Valente. Então o que faz que adoremos tanto este filme a ponto de torná-lo único? Creio que é a nossa identificação com o protagonista. Assim como ele, somos parte de um povo traído e reprimido, vivendo sob a batuta de uns poucos magistrados detentores do poder, pessoas que elegemos e que insistem em nos decepcionar.

Somos explorados por esta classe nojenta, que não possui ética, honra ou qualquer valor moral. Seus valores são os inversos, aqueles que nos trazem mal estar e repulsa. Somos um pouco de Willian Wallace por estarmos cansados de tanto miséria em nome de nada. A atitude de Willian Wallace, ao unir o povo em busca de sua liberdade, é a mesma atitude imaginário que temos - buscar uma resistência contra o sistema ou aguardar um herói que estoure o estopim.

Além disto somos traídos também por nossos amigos e colegas, pessoas próximas a qual depositamos total confiança e depois somos arrasados mediante o erro de nosso julgamento. Willian Wallace também é uma destas pessoas. E, tanto para ele quanto para nós, a vida precisa seguir. A diferença é que Willian Wallace não deixa nada para lá - ele é valente, como diz o título original, logo irá aplicar uma lição naqueles que lhe traíram. Mais uma vez ele serve como um avatar para os nossos desejos mais íntimos.

Willian Wallace ultrapassa as barreiras do nosso imaginário. Enquanto apenas desejamos fazer justiça pelo mal sofrido, temendo as leis e o não contradizendo o "bom" senso, Willian Wallace vai lá e faz - estamos vingados através de seu personagem. Além disto, consegue ser sanguinário e justo, violento e honrado - se posicionando exatamente no limiar das ações que permeiam a nossa mente sem que aja transgressão.

Além disto, Willian Wallace é um exemplo de superação. Mesmo após quedas que deixariam qualquer um no fundo do poço pelo resto da vida, Willian Wallace levanta a cabeça e segue adiante, com graça e radiante de esperança. Nossa vida é um fardo de constantes superações. Como dito no popular, matamos um leão por dia e vivemos um dia de cada vez. Não temos espada, mas somos igualmente guerreiros. Logo, histórias de superação alimentam e purificam nossa alma e a identificação é imediata.

Por fim, os últimos momentos de Willian Wallace são semelhantes aos momentos finais de Jesus Cristo. É traído, julgado com a opção de recusar os seus ideais, ofendido pela multidão, torturado e assassinado em público. Entretanto sua morte representa a salvação. Willian Wallace agora é Yeshu: seus seguidores continuam o trabalho de libertação de todo povo sob o seu nome.

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