sábado, 5 de janeiro de 2008

Klass e a questão da morte

Tive a felicidade de assistir aquele que talvez seja o melhor filme produzido em 2007. Se trata de Klass, uma produção da Estônia, país que não tem tradição no cinema mas que merece ser respeitado desde já.

A película fala sobre a história de dois garotos que são extremamente humilhados e torturados por seus colegas de classe até que acendem o estopim. Não suportando mais serem agredidos eles entram no pátio da escola e chacinam diversos alunos. No fim se suicidam.

De certa maneira o filme repete os fatos do episódio conhecido como o "Massacre de Columbine", porém o foco está presente nos dois assassinos, na angústia, na tortura fisica e psicológica, e nos seus temores de estudar em um colégio onde os alunos estão mais preocupados em formar gangues e organizar festas do que realmente aprender alguma coisa.

O filme pode ser polêmico pois, ao seu término, dizemos em nosso íntimo: "toda esta turma merecia coisa muito pior do que morrer" e "é uma pena que eles tenham cometido suicídio". Pois é, o diretor sabe como transitar o nosso sentimento através do decorrer da história e dá um motivo compreensível para a execução da chacina.

Mesmo não sendo esta a intenção (creio que a intenção maior seja um alerta para pensarmos na consequência de nossos atos - afinal jamais aqueles jovens imaginavam que as suas brincadeiras levariam-os até a morte), o filme levanta algumas perguntas importantes para a nossa reflexão: mesmo sendo contra a lei, será que realmente é errado matar em qualquer tipo de ocasião? Será que tem gente que não merece morrer? O mundo não seria melhor se certas pessoas simplesmente deixassem de existir?

Não conheço tão a fundo as motivações da duas pessoas que cometaram a "Chacina de Columbine" para fazer qualquer julgamento de suas atitudes, muito menos daqueles que foram assassinados (me baseio somente pelo filme) porém temos alguns outros exemplos mais próximos e que podemos aplicar os mesmos questionamentos: o bandido Champinha e o do Francisco de Assis Pereira, conhecido como o "Maniaco do Parque".

A única motivação dos dois para cometer crimes é o prazer de torturar e assassinar pessoas. Não há mais nada em jogo. Para este perfil de pessoa, não seria mais justo finalizar a sua existência do que prolongar a sua vida atrás das grades (isto quando não estão livres)?

Eu entenderia muito bem se os parentes das vitimas resolvem agir por si mesmos e resolvessem acabar com a vida destes dois exemplos, pois justiça - neste país principalmente - é apenas uma palavra sem significado concreto. Ou seja, nada mais justo do que aplicarmos o nosso senso de justiça nestes casos extremos.

Também vejo desta forma para alguns políticos que se enriqueceram a base do dinheiro do povo trabalhador: ora, isto é roubo e deveria ser punido. Como a palavra "crime político" não existe, nada - absolutamente nada - acontece. Pois bem, um cara que está nadando em dinheiro que não é dele poderia muito bem morrer por um atentado, para que ficasse de exemplo para os próximos que resolvessem fazer o mesmo. Para mim isto não está errado.

Bem, não vou me alongar muito para não ficar muito nervoso ou muito revoltado, afinal o dia está apenas começando e não quero que a minha alma fique congestionada pelo senso de injustiça que permeia nossa sociedade.

Mas que é um bom filme é, sem sombra de dúvida.

6 comentários:

  1. Acabo de assistir o filme e sinto-me inundado de pensamentos e sentimentos revoltosos. Sem dúvida concordo com suas palavras.
    A pergunta que me fiz ao final do filme foi, "Como aqueles garotos demoraram tanto para revidar?". Simplesmente não vejo seus atos como vingança, mas como uma ação natural, como quem levanta a mão pra se proteger por reflexo.

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  2. Eu tb assisti o filme ontem, e comecei a procurar desesperadamente algum site que contasse a estória real, e achei esse blog, fiquei consternado com o filme estou meio que em estado de reflexão permanente desde o fim do filme. Estou meio que com um ódio infundado dentro de mim que não passa! Fazia tempo que um filme não me causava tanta revolta.

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  3. Prezados

    O filme é um alerta para uma violência velada presente em todas as escolas: o bullying. Essa maldade está na raiz do desrespeito ao outro. Confirma o projeto que desenvolvemos com o intuito de conscientizar e dar ferramentas para que as escolas enfrentem esse problema.
    www.diganaoaobullying.com.br

    att.

    Mário Felizardo

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  4. Caro Mário Felizardo,

    Parabéns pela iniciativa! Fico extremamente feliz de vislumbrar projetos como este em desenvolvimento nas escolas.

    Ficarei honrado em colocar um link permanente neste blog, como forma de ajudar a divulgar a ação desta iniciativa contra o bullying.

    Aproveito para recomendar o filme Ondskan - Evil: Raízes do Mal, cujo comentário pode ser também encontrado neste blog.

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  5. O Filme é excelente, talvez há muita negligencia das escolas em resolver esses conflitos, pode-se notar que todos percebiam o que estava acontecendo, mas ninguém queria se meter, deixar duas pessoas angustiadas resolverem por si próprios foi o correto a ser feito? Não sei como eles aguentaram tanto tempo sendo surrados e maltratados, não discordo da atitude tomada ao final do filme pelos dois colegas de classe.

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  6. Pois é, meu caro. Para situações extremas, atitudes extremas. Quando o homem perde a sua dignidade e sua moral é intensamente ferida, ele fica desnudo e o que sobra é somente sua parte animalesca.
    Só podia dar no que deu. Como você mesmo disse, talvez se algumas providências tivessem sido tomadas de antemão, as coisas não chegaram a tanto.

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