quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

O Sistema das Aparências

Há de chegar um momento que não haverá como as coisas ficarem piores. Mesmo que surjam mais e mais hiper-realidades, as aparências serão desmascaradas e surgirá, enfim, somente o real. E você, certamente, não irá querer que este dia chegue.

É dificil negar a sensação de aparente "liberdade" que a máquina proporciona. Desde a expansão do capitalismo e abolição da escravidão, parece que estamos livres para fazer o que bem entender. Parece, finalmente, que temos a oportunidade de ficarmos ricos e usufruirmos de uma vida de conforto e luxúria.

O dinheiro é a máquina. O sistema capitalista é a máquina. O consumo exagerado é a máquina.

Alguns até conseguem ficar ricos, porém o preço que a maioria paga é muito alto. Ao invés de termos um mundo equilibrado, a corrida pelo dinheiro gera uma concorrência desleal. A balança está muito desnivelada. Só conseguimos suportar porque existe a aparência de que as coisas irão melhorar, o que não é verdade. Nada está evoluindo. Ao contrário, a balança está pendendo cada vez mais para um único lado.

Se houve um dia em que estava assim "-", hoje ela está assim "/" e logo ficará assim "|". E quando este dia chegar, o que irá acontecer? Guerra civil. O instinto animal do homem virá a tona e as massas irão agir sem raciocinar. Afinal ele terá que sobreviver e para isto só restará lutar. É aí que a máquina tende a se engasgar nela mesma. Pois só pensa em reduzir custos, assim como os salários e o número de funcionários nas empresas, enquanto a população aumenta, assim como o preço de qualquer objeto que está a venda.

E será que veremos este dia chegar sem fazer nada? Provavelmente sim, graças ao sistema das aparências. Quando o litro do álcool custava R$ 0,50 todos achavam barato. Depois houve um aumento para R$ 0,80 e assim foi indo até que chegou em R$ 1,20 e todos achavam um absurdo. O preço foi subindo até que ultrapassou R$ 1,50, um nível inaceitável. Então o preço caiu para R$ 1,20 novamente e os humandróides estão todos felizes, afinal temos a sensação de que agora está barato.

É mais ou menos isto que acontece no sistema das aparências. Uma realidade é substítuida por outra e se cria uma hiper-realidade, algo em que vivemos como real, quando a realidade se encontra na camada de baixo, encoberta por acronismos e obscuridade.

Como outro exemplo podemos citar que há pouco tempo atrás uma familia de classe média tinha um renda aproximada de R$ 3000,00 em uma época em que um carro popular 0km custava em torno de R$ 8000,00. Hoje a renda é de aproximadamente R$ 5500,00 e o mesmo carro custa R$ 30000,00. Ou seja a idéia que a renda aumentou é falsa quando comparada proporcionalmente ao aumento do custo de vida, esta idéia de que parece que ganhamos mais é consequência da hiper-realidade que foi criada.

A máquina irá se engasgar por um motivo que cada vez fica mais evidente: o consumo de recursos. Ela consome e desgasta todo o tipo de recurso vivo, seja em âmbito ambiental, animal ou humano. Com todos os recursos consumidos a máquina irá explodir, mas pode ser que os danos sejam irrersíveis e a vida nunca mais seja a mesma. Primeiro que os seres humanos serão dizimados por fome e doenças, assim restarão poucos para se organizarem. Segundo que sem os recursos naturais, dificilmente teremos alguma qualidade e espectativa de uma vida normal.

Mas, como sabemos, a máquina começa a ficar preocupada com isto. Ela sabe que pode estar cometendo suicídio. Por isto mesmo, invade nossas casas e diz: "Você é o culpado por isto! Se virá ou as coisas ficarão piores para vocês!". Outras vezes ela, quando há oportunidade de lucrar, ela cria uma nova realidade: assume a culpa e convida pessoas para perdoá-la fazendo desta forma - e desculpem o linguajar que irei utilizar: se antes um pé-de-alface cultivado com bosta custava R$ 0,30, passaram a vender um pé-de-alface com agrotóxicos a R$ 0,70: o pretexto é simples - agora vocês poderão comprar verduras mais bonitas, que duram mais, mais saborosas e não infectadas por vermes e bactérias e, claro, estes remédios têm um preço. Só que agora a máquina vestiu a camisa "Salvem a natureza, seus merdas, quem mandou vocês a destruirem?" e lançou a campanha "alimento orgânico". O pé-de-alface orgânico, ou seja, cultivado com bosta, custa R$ 1,30.

Assim todos salvamos a natureza e a máquina fica mais gorda. Todos felizes?

2 comentários:

  1. Amigo..
    na minha modesta opinião a Guerra Civil começou faz tempo... o caos da cidade grande... os acidentes de trânsito, por exemplo, culpa do exagero da indústria automobílistica. Sem contar a violência... favelas.. falta de segurança. A tecnologia distanciou mto as pessoas. Afinal, a presença de corpo não é mais requerida.
    Nosso fim será triste.
    bjsss

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  2. Você tem razão. O problema está, justamente, em acreditar que o caos da cidade grande é de nossa inteira responsabilidade, pois se cria uma hiper-realidade onde passamos a acreditar que temos o controle da situação, visto que para causadores de problemas basta moderação e cuidado. Por exemplo, no caso da violência(crime) saímos de nossa residência e passamos a morar em apartamentos(prisões) e colocar grade nas janelas. Aí criamos uma realidade onde a violência não chegará até nós, porém certamente esta atitude não diminuiu a violência, pois é preferível fugir da realidade do que encara-la de frente. Então fica a "aparência" que está tudo bem. Quando digo "guerra civil" acredito que chegará um dia em que a verdade será desvelada para todos, nada mais ficará aparente, e as pessoas agirão como berserkers enfurecidos.
    Num post futuro irei falar sobre as implicações desta mania de querer desvelar tudo, de querer ilimitar o limitado ser humano, o que o acaba deixando com tantas possibilidades que ele fica sem uma direção e sem a capacidade de acreditar, o que inibe a mudança e favorece o condicionamento.
    Quanto a tecnologia, também acredito que deixou as pessoas mais individualistas e distantes. Claro que há inumeras coisas boas, mas que é um facilitador de isolamento e solidão, não há o que discutir.

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