terça-feira, 27 de maio de 2008

A Concepção do Homem para Karl Marx

Lembro que, há alguns anos atrás, eu tinha um amigo que trabalhava como operário em um fábrica de CDs. Lembro que houve uma vez que lhe fui visitar em sua residência e, ao entrar na sala, encontrei uma verdadeira gama de CDs de Heavy Metal. Uma vez lhe perguntei se ele tinha uma idéia de quantos CDs ele havia adquirido até então e ele me respondeu, prontamente e com o semblante orgulhoso, que girava em torno de seiscentas unidades. Demonstrei o meu real espanto e ele rapidamente se prontificou a justificar as suas aquisições me dizendo que no local onde trabalhava ele podia pegar os CDs com um bom desconto e os mesmos eram debitados de seu pagamento no fim do mês. Também me recordo de sua felicidade ao dizer que era feliz em seu trabalho justamente por consolidar o “útil” com o “agradável”.

Como podemos notar, a cena se repete nos mais variados segmentos e com os diferentes níveis culturais presentes em cada um dos seres humanos que vivem neste nossa época, dentro do sistema capitalista. É dentro deste sistema que encontramos o foco do pensamento de Karl Marx em sua principal obra, O Capital, cujo faremos uma breve análise sobre a concepção do homem a partir de sua teoria estruturada.

Para iniciar, é essencial dizer que o homem no capitalismo é o que é graças à realidade material a qual vive. É esta realidade de enriquecimento (de consumo) que faz com que o homem exista no capitalismo, sendo que é esta mesma realidade a responsável por ditar todas as diretrizes necessárias para viver neste grande jogo que é o capitalismo. É como uma grande simulação de uma verdadeira realidade que, assim como naqueles jogos de vídeo-game, nos faz pensar que temos o controle da situação, que temos o controle de nós mesmos e que podemos caminhar para onde quiser.

Em Karl Marx observamos uma inversão de conceitos ao perceber que em seu pensamento a realidade é responsável por gerar idéias, e não o contrário (ainda que exista uma certa correlação entre ambas). No caso citado no início do texto, é a realidade de um operário, que acredita que ao comprar CDs por um preço mais barato do que os praticados no mercado em geral, está de certa forma levando vantagem ao acumular valores, ainda que o mesmo seja colecionador e esta aparente vantagem é algo que está enraizado apenas dentro dele. Neste caso comprovamos que é a realidade, a qual estamos situados, que gera as idéias.

Mas o mais absurdo, neste caso, é detectarmos um homem que se julga racional e sensato sendo atraído por todo o charme do consumismo capitalista. É absurdo pensarmos em um homem que vende seu conhecimento e sua mão de obra na fabricação de um material, que ajudou um burguês a ficar ainda mais rico, acabe sendo recompensado com uma pequena parte da própria mercadoria que ele fabricou.

Por isto é correta a afirmação que diz que o homem é um animal social. De certa maneira, Karl Marx tenta mostrar que o homem no capitalismo é totalmente desfigurado, descaracterizado de sua própria essência humana e subordinado ao capital. Realmente o homem é manipulado pelo sistema capitalista como um animal, onde o que lhe move é uma enganadora realidade onde as coisas se apresentam extremamente sedutoras e ele é pressionado a adentrar neste sistema para poder se socializar com os demais homens.

No capitalismo a humanização é proposta ao homem através da venda de seu trabalho, ou melhor dizendo, de sua força de trabalho, termo utilizado pelo próprio Karl Marx, que assim o define:

“Por força de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto das faculdades físicas e mentais existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie.” (MARX, K. Como o dinheiro se transforma em capital. In:_____.O Capital – Crítica da Economia Política, Livro 1 – Volume 1. 23º ed. Rio de Janeiro : Civilização Brasileira, 2006. p.197.)

E aqui observamos o homem se tornando um animal social uma vez mais, vendendo não só o seu conhecimento, mas também o seu corpo físico, cujo sistema pede que seja saudável e em plenas condições de exercer uma atividade a qual possa produzir em benefício do comprador (ou do detentor de dinheiro) desta sua força de trabalho. Por certo aqui já temos um problema, visto a existência de pessoas com deficiências que as impedem de trabalhar. A priori o sistema capitalista os exclui da sociedade. Mais recentemente estas mãos de obra também são exploradas de forma ainda mais acentuada, já que o salário está abaixo do que uma pessoa em plenas condições físicas ganharia para produzir um mesmo produto.

Neste contexto, além de um animal inumano, podemos afirmar que o ser humano se transforma em uma simples mercadoria e que existe somente por ser uma extensão do capitalismo, que necessita comprar sua força de trabalho para produzir seus valores-de-uso.

A grande realidade é que o sistema do capital ganhou vida própria e tem o grande artifício de conduzir toda uma sociedade em pró de alguns poucos beneficiários. Esta sociedade é composta de homens que são objetivados pelo capitalismo a se tornarem homens-robôs, onde as idéias e a razão destes homens são exterminadas por regras impostas e pela sedução presente na falsa idéia de liberdade, que talvez seja apenas uma simulação de realidade.

A primeira verdade é o dinheiro, e com esta sentença podemos dizer que se o temos então estamos aptos a realmente existir, caso não o temos somos objetivados a adquiri-lo para então existirmos.

A segunda verdade é a força de trabalho proveniente do homem, sem o qual não existe sem exploração e, conseqüentemente, a circulação de capital deixa de acontecer. Sem o papel do homem não há possibilidades de concretizar o capitalismo e alguns conceitos, como o mais-valia, seria de difícil, senão impossível, compreensão.

Ou seja, no fim é como se um senhor chamado “O Capital” estivesse jogando The Sims - traduzindo para uma linguagem mais clara, seria algo como Os Proletários – num grande computador – que podemos chamar de planeta – e nos guiando de forma que ele seja o único vencedor (ou, para explicitar um pouco mais, os detentores do capital – conhecido por Karl Marx como burgueses).

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