Este é um resumo parágrafo-a-parágrafo do 3º capítulo do livro "A Consolação da Filosofia", escrita pelo pensador medieval Boécio, que vai do 1º ao 18º parágrafo.
Como introdução à este texto, sugiro que você leia este post que irá lhe situar melhor quanto ao contexto da obra.
1º
Neste diálogo que Bóecio estabece com a Filosofia, o autor sente-se revigorado e também acredita poder resistir à sedução da Fortuna, que está presente em âmbito da Aparência. Desta forma, se encontra sedento por adentrar os novos caminhos que lhe são apresentados por sua guia Filosofia, que não julgava que Boécio estivesse capacitado anteriormente para trilha-los, e faz um alerta: após tomar estes medicamentos que vêem da filosofia, haverá uma necessidade inicial de querer falar, mas é no silêncio que os efeitos se atenuarão. Então a Filosofia faz um convite para Boécio: lhe levar para conhecer a verdadeira felicidade, que está distante da Aparência.
2º Poema
Reflexão sobre a verdade
È preciso neutralizar todas as coisas para que você possa aprender novas sem ser contaminado por pré-julgamentos e pré-conceitos. Só assim será possíver reconhecer a verdade.
3º
A Filosofia diz que todos os homens desejam a felicidade de maneira igualitária, afinal, a felicidade é algo absoluto: só é felicidade se ela se realiza por inteiro. Este desejo faz com o homens procurem por ela de diferentes maneiras. Contanto, graças à ignorância do homem, ele se desvia nesta busca e acaba encontrando o que é mera aparência de felicidade em outros bens: riqueza, fama, poder. Também consideram felicidade quando estão alegres e sorridentes, como quando sentem prazer, como na bebida ou no ato sexual. Enfim, a idéia é que se extraia a felicidade e o prazer proporcionado por estes bens. Assim também ocorre quando uma pessoa cuida de sua condição física, seja para ficar mais bonito, seja para levar vantagem física: todas acreditam estarem buscando a felicidade. Cada um considera aquilo que busca como o bem maior, ou seja, o bem supremo, ou aquilo que deseja mais do que qualquer outra coisa. Epicuro dizia que o soberano seria o prazer, visto que todos os outros bens tendem para o prazer. Porém ele está errado, afinal não está claro que este tipo de pessoa, por mais que tenham estes bens, não se questiona que está errada? Que, de alguma forma, não estão se enganando?
Veja que é impossível que a felicidade resida nestes bens, pois a felicidade não conhece dor, nem tristeza, nem vergonha. A felicidade não pode residir no prazer temporário destes bens. Os homens, geralmente, buscam estes prazeres porque acabam por acreditar que eles o preencham. Ainda que diferente sejam os diversos caminhos, não há como negar que todos buscam o mesmo fim: a felicidade.
4º Poema
Em forma de poema, Boécio, através da figura mítica da Filosofia, exalta que todos os seres vivos buscam um caminho que te leva, novamente, para suas origens, sendo que estas origens é a forma natural do ser. Por mais que ele tente traçar outros caminhos, se iludir com falsas verdades ou falsas expectativas, prevalece a vontade de se livrar de tudo isto e se aproximar de sua própria condição natural: suas origens.
5º
A interlocutora Filosofia afirma, novamente, que a felicidade pode ser percebida, ainda que imprecisa, através da origem da própria felicidade. Afirma que o ser humano é naturalmente inclinado ao bem, porém sua cegueira o leva para outros caminhos. Pois a felicidade não é atingida com o acumulo de bens, se fosse ela seria a primeira a admiti-lá (Embora, neste caso, seja o Boécio que esteja falando). E visto que esta felicidade não é atingida através deste acúmulo de coisas, então elas são enganosas.
A Filosofia dialoga com Boécio justamente para saber se ele era feliz, visto que em sua vida ele teve tudo em abundância. E ele responde que parece que sempre faltou algo, de tal forma que apesar de ter tudo, ele ainda tinha preocupações. Ainda não são nos bens que se reside a felicidade, porque eles não bastam a si mesmo, por exemplo, no caso do dinheiro resta sempre uma necessidade a ser satisfeita, além de estarmos sempre dependente dele.
6º Poema
A Filosofia diz sobre os ricos amargurados, que tanta riqueza, não consegue diminuir sua angústia. Sua sentença: com a morte seus bens o abandonarão.
7º
Desta vez, a Filosofia faz um discurso sobre como as honras, os altos cargos e magistraturas não são sinônimos de felicidade. Geralmente estas virtudes não são absorvidas para neutralizar defeitos, mas, em contrapartida, os expõem, como no caso da corrupção, onde a indignação surge mediante tal crime. Quanto as pessoas sábias, não é possível dizer se são indignas de respeito ou da sabedoria que elas possuem. De tal forma que nenhuma honraria pode conter beleza ou dignidade.
Além disto, se o homem baixo não pode ser medido pelas pessoas que o desprezam, a honra, quando exposta para as pessoas (e qinda que não sirva para nada), irá tornar a situação do desprezado ainda mais grave.
Tanto a honra não serve para nada, que de que valerá as honras de um homem letrado ou com cargo político em terra de barbáros? Ou seja, a honra nunca é absoluta e varia conforme o olhar de quem a vê. Além de não proporcionar nada à pessoa a qual a honra é prestada, e quando manchada em pessoas desonestas, como pode ter algo de bom a ponto de ser desejada?
8º Poema
Através do exemplo de Nero, que era estravagante e detestado, a Filosofia questiona de que vale um título de senador vindo deste tipo de pessoa? Quem se sentiria honrado em receber este título? Quem iria ver com bons olhos?
9º
Na 9º parte, a Filosofia alerta sobre que felicidade é esta que o poder pode proporcionar para quem os detem? Afinal, o poder nunca é absoluto: ele é determinado por tempo, por território, ou seja, é limitado. Se o poder é felicidade, além de seus limites, encontra-se então, a infelicidade e o infortúnio. Quem tem o poder teme mais do que é temido. Tem que andar com seguranças, é odiado, e ele mesmo traz uma série de preocupações e angústias. Além disto, de que serve o poder, se muitas vezes ele só pode ser exercido mediante concessão de subordinados, e quando suas ordens dependem da aceitação de quem as executam. E de que servem os amigos que são adquiridos somente pela Fortuna e pelo poder, e não pela conquista e admiração?
10º Poema
Aqui, a Filosofia lembra que aquele que quer ser poderoso, deve acalmar as suas paixões, e enaltece a necessidade de ser humilde, pois o curso da Natureza continua seguindo e sendo o mesmo.
11º
Neste parágrafo, Boécio irá atacar a Glória, que segundo ele engana os homens. Muitas vezes a glória vem da opinião enganosa de muitos homens, neste caso, onde estaria a glória ao ouvir elogios que não condizem com a realidade? E mesmo que a opinião seja verdadeira, o sábio jamais deve se apeguar a opinião pública. Por fim, a Glória muitas vezes se estabelece apenas em um lugar, em outros locais as pessoas não reconheceem esta glória. Ou seja, isto não pode ser felicidade, visto que é limitada e delimitada por espaço.
12º Poema
Neste poema, Boécio questiona "Porque vangloriar-vos de vossa linhagem e de vossos ancestrais" se a origem do ser humano se resume apenas à Deus?
13º
Também diz que a felicidade não pode ser prazer sexual, visto que este sempre vem através de muita dor e angústia. Para isto, basta recordar as antigas paixões para descobrirmos o quanto sofremos. Se este prazer fosse felicidade haveríamos de reconhecer que os animais também são felizes e teríamos que reduzir a felicidade a uma necessidade física.
14º Poema
Boécio apenas lembra que a paixão é muito ingrata, pois da mesma forma que lhe traz o bem, desaparece deixando apenas corações feridos.
15º
Agora Boécio retoma todo o seu texto para reforçar a idéia que nenhuma das formas apresentadas até aqui pode trazer a felicidade. Mesmo os dotes físicos são superficiais pois não há como ultrapassar a força de um elefante e a velocidade de um tigre. Também surge a idéia de que tudo aquilo que é visto como belo, como as coisas que vemos na natureza, não é propriedade da coisa em si. A qualidade de enxergar o belo vem dos olhos que fazem o juizo.
16º Poema
Através deste poema, Boécio ironiza os homens, ao chama-los de "Pobres dos mortais", nesta busca inútil pela felicidade através dos objetos. Chega dizer algo como "Deixem eles, quando observarem que isto não trás felicidade alguma, poderão distinguir os verdadeiros bens".
17º
Neste diálogo com a Filosofia, ela irá dizer que estas falsas buscas acontecem porque o homem acaba por complicar as coisas mais simples. Tenta dividir o que é indivisível na natureza, transforma o verdadeiro no falso e o que é perfeito em imperfeição. Durante o percorrer deste parágrafo, Boécio vai dizer que a felicidade é uma coisa só e indivisível, e na ignorância do homem, ele tenta, inutilmente, pegar um pequena parte de um todo (sendo que neste todo, as coisas podem ter nomes diferentes, mas no fundo é a mesma substância). Então a Filosofia irá dizer que este todo, este uno, é Deus. É em Deus que o homem deve orientar a sua busca e é nele que encontrarão a felicidade.
18º Poema
Através de um canto, a Filosofia irá reverenciar Deus como uma forma perfeita e responsável por tudo o que há de bom e belo.
Valeu Evandro!
ResponderExcluirMuito obrigado pela visita e os elogios.
Gostei da tua caverna aqui.
Precisamos de mais blogs como o teu e um pouco menos de mesmice.
Abraços
http://nemvem-quenaotem.blogspot.com/