domingo, 4 de maio de 2008

Kuhn: A Invisibilidade das Revoluções

Este artigo é um singelo comentário do 10° capítulo, intitulado "A Invisibilidade das Revoluções", do livro "A Estrutura das Revoluções Científicas" da autoria de Thomas S. Kuhn. Caso você deseje ler outros artigos sobre Thomas Khun clique aqui.

Neste capítulo, Thomas Kuhn está preocupado em demonstrar com clareza a existência das revoluções científicas para o leitor. Isto se dá justamente porque a revolução quase nunca é percebida pelos leigos, visto que há interesses em manter a revolução invisível à percepção das pessoas: A impressão que fica é que a ciência está em constante processo de evolução, e que todo o seu histórico é válido em âmbito de ter contribuido com a ciência da contemporaneidade.

Para Kuhn, os principais responsáveis pela divulgação destas impressões são os manuais científicos, os textos de divulgação e as obras filosóficas desenvolvidas para afirmar o que está sendo divulgado, sendo que cada uma destas três atinge niveis diferentes de público: do técnico para o mais popular. O problema é que nenhuma das três tem a obrigação de mostrar, essencialmente, o modo pelo qual as suas bases foram reconhecidas.

Como sabemos, o conhecimento ciêntifico, assim como em outras áreas, é adquirido através da utilização dos manuais que contém teorias e descobertas de sua contemporaneidade. Após uma revolução ciêntifica, o ideal seria que que todos os manuais fossem reescritos e redistribuidos apenas contendo os descobrimentos da ultima revolução e anulando inteiramente todas as descobertas anteriores. Como isto não é possível, visto que alguém conheceu ou vivenciou a revolução anterior, surge um problema que precisa ser resolvido para que se aceite a revolução corrente: enquadrar todo o conhecimento anterior dentro do conhecimento corrente (e daí surge esta impressão de que a ciência evolui).

Isto acontece porque a ciência não pode simplesmente negar tudo o que foi descoberto até então. Isto seria colocar em dúvida até mesmo a descoberta mais recente, por mais consistente que fosse, pois, afinal, quanto tempo iria durar até que ela fosse totalmente anulada por um novo descobrimento? Seria impossível acreditar em qualquer afirmação da ciência, e daí o seu interesse em demonstrar que ela é evolutiva.

Para validar o seu argumento, Thomas Kuhn irá se valer de alguns exemplos e irá ilustrar certos caminhos que podem ser observados num papel de historiador. Primeiramente ele afirma que todos os manuais científicos fazem questão de ressaltar apenas as descobertas que se encaixam na revolução científica mais recente, se atendo apenas naquilo que pode contribuir para construir uma historiedade que condiza com os interesses atuais. Para isto vale de tudo: desde alterar o enunciado dos problemas resolvidos na ultima revolução - de tal modo que seja possível fazer uma aproximação das soluções anteriores com a solução mais recente - até alterar o enunciado dos problemas das revoluções anteriores - nesta caso, é o passado que passa a relacionar com o presente científico.

Um dos exemplos citados é o que segue:
"Newton escreveu que Galileu descobrira que a força constante da gravidade produz um movimento proporcional ao quadrado do tempo[...] Mas Galileu não afirmou nada deste gênero[...] Sua discussão não alude a uma força gravitacional uniforme que causasse a queda dos corpos."¹

Nesta caso, o que Newton faz é justamente isto: disfarçar uma revolução científica através de uma alteração na intepretação de um conceito, que até poderia se enquadrar nos conceitos dinâmicos de Newton, de Galileu para transmitir esta revolução apenas como uma evolução.

De fato, não há uma evolução gradativa do conhecimento científico. A ciência criada ao longo da história resolvia os problemas de uma determinada época. Hoje, a nossa ciência resolve os problemas de nosso tempo. Na tradição revolucionária anterior, a relação entre o homem e natureza, que era obtida através do conhecimento, não é a mesma relação que tem a contemporaneidade. Porém, o que se percebe é que através desta forma pedagógica que não aponta uma revolução, e que adapta a história ao tempo atual, é que determina a nossa imagem a respeito da ciência como algo que está sempre em constante evolução.


1. T. S. KUHN, "A Estrutura das Revoluções Científicas", Ed. Perspectiva, São Paulo, 2007, p. 149

Nenhum comentário:

Postar um comentário