quarta-feira, 2 de julho de 2008

O Eu por Eu Mesmo

A primeira impressão que temos a respeito deste título é um tanto quanto estranha. Afinal, quando falo de mim não estou falando essencialmente de mim? A minha descrição a meu respeito não é mais verdadeiro do que a minha descrição realizada por outras pessoas?

Para a fenomenologia a resposta é não.

Vamos compreender o porquê: para a fenomenologia, as coisas existem a partir da percepção, ou seja, as coisas só existem no momento que as percebemos e nós só existimos quando somos percebidos. Por isto mesmo é impossível separar o sujeito do objeto, sendo que esta relação é necessária para a existência.

E porque isto? Porque só podemos conhecer (sujeito) aquilo que pode ser conhecido (objeto). Isto parece um pouco óbvio demais, porém este raciocínio irá romper com o positivismo dominante do século XIX.

No empirismo, o conhecimento ocorre na experiência. Já na fenomenologia, ele ocorre na intuição, quando tomamos consciência. Toda a consciência é consciência de alguma coisa, sendo assim não é possível que a consciência seja uma substância ou algo uno. A consciência é uma atividade constituída de paixão, impressão, imaginação, desconfiança, especulação e sentimento.

Assim surgem os mais diversos fenômenos (que significa "aquilo que aparece"), que é diferente para cada um. Para exemplificar, vamos utilizar o próprio título deste artigo. Porque "O Eu por Eu Mesmo"? Justamente porque a minha opinião acerca de mim é apenas mais uma das muitas possíveis. Pois enquanto me analiso, eu apareço - fenômeno - para mim mesmo como um tipo de pessoa baseado na minha intuição (coisas que gosto e não gosto em mim, meu passado e o que espero de meu futuro). Porém a opinião de outras pessoas a respeito de mim também segue um mesmo processo: enquanto apareço - fenômeno - para elas, sou julgado internamente conforme às suas impressões (o que gostam e não gostam de mim, o meu passado segundo o que eles conhecem, etc).

Vamos tomar o exemplo de uma celebridade, por exemplo, Paris Hilton. Para quem a conhece pela mídia, conhecem de um jeito, seus amigos pessoas lhe conhecem de outra forma, seu namorado lhe enxerga de uma forma totalmente diferente assim como os seus pais devem lhe enxergar apenas como uma menina. Ademais, ela mesma se vê de um jeito totalmente diferente. O que há é o fenômeno, não há substância. As coisas existem enquanto elas aparecem, e elas podem aparecer de forma totalmente diferente.

A fenomenologia se preocupa justamente em reduzir ao máximo esta multiplicação de fenômenos para chegarmos a essência. Este processo é conhecido como Époche e visa isolar o mundo externo e se voltar para o interior para conhecer as operações realizadas consciência.

Como expoentes da fenomenologia contemporânea nós temos Husserl e Heidegger, velho conhecido deste blog.

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