sábado, 16 de agosto de 2008

A Menina Má e O Bom Menino

Há poucos dias fui agraciado com uma leitura voluptosa, emocionante, leve e excitante - uma grata surpresa. Se trata do romance Travessuras da Menina Má do excelente escritor peruano Mario Vargas Llosa, livro que ficou em 3º lugar na lista dos 100 romances mais notáveis de 2007, segundo o jornal New York Times. Lembro que havia um professor que sempre frisava que há duas espécies de livros: os que são feitos para serem lidos durante o dia e aqueles que são feitos para serem lidos durante a noite. Se você pegar um livro feito para o dia e resolver lê-lo a noite, você poderá ter o seu sono seriamente comprometido (como os livros de Nietzche, Kant e Wittgenstein). Já os livros da noite têm efeito terapeutico: ajudam a relaxar de tal maneira, que se forem lidos durante o dia, você corre o risco de adormecer em plena luz do sol.

Travessuras da Menina Má se enquadra nesta segunda categoria: é daqueles livros gostosos, sem vocabulários muito complexos, com trama simples e envolvente, que você se apega com gosto de modo que não se satisfaz enquanto não chega ao seu final. É uma história direta e conclusiva, não ambiciona atrair o leitor para dentro da trama para que ele resolva um quebra-cabeça para que tente elucidar, através de teorias, todos os pontos: Llosa não deixa nada em aberto. Tudo está muito bem fechado e construído.

Certamente este livro irá agradar tanto o leitor ocasional, que pretende apenas encontrar um bom entretenimento, como aqueles mais sedentos e exigentes, pois embora não seja técnico e não permita uma análise mais aprofundada - até porque a história é rasa - o livro está repleto de referências que podem levar leitores mais experientes e cultos para a total nostalgia: a história se passa em diversas épocas e diversos lugares, como na Paris dos anos 60, na Inglaterra dos anos 70, na Tókio dos anos 80 e mesmo em Madri. Também há menções de Freud, Lacan, Turgueniev, Tchecov e outros célebres pensadores e romancista. Isto devido a enorme experiência de Llosa, que ele esbanja com competência de primeira categoria.

A história, sem grandes segredos, é a história de toda uma vida e é contada em primeira pessoa por Ricardo, um peruano que consegue realizar o seu sonho de adolescência ao morar em Paris, graças ao seu trabalho de tradutor e interpréte. Em Paris ele irá se reencontrar com uma paixão ardente e juvenil remanescente dos tempos que ainda residia no Peru. Esta paixão irá se reascender de forma que toda a sua vida irá se concentrar unicamente em realizar os seus desejos mais calorosos, porém, a malicia da "menina má" irá sempre lhe deixar na mão.

Ao longo do tempo, ele sempre a reencontra, cada vez num lugar, casada com um homem diferente e com um novo nome: No Peru, se chamava Lily. Na França camarada Arlette, e logo depois madame Robert Arnoux. Na Inglaterra, Mrs. Richardson. No Japão, Mitsuko. Afinal, quem é está garota que está sempre dando golpes e fugindo? Que destino é este que faz com que a menina má sempre cruze o seu caminho? Porque ele nunca consegue esquecê-lá e na medida que se sente mais humilhado também fica mais apaixonado? O que seria esta insana relação de amor e ódio?

É dentro destas questões que Llosa irá convidar o leitor para observar a história de Ricardo e a menina má, que mesmo sabendo ser a algoz do bom menino, sabe que é nele que encontra a única pessoa que realmente se importa com ela. É uma espécie de jogo de gato e rato, de sublimição e intimação, uma constante perseguição em busca do amor.

Mario Vargas Llosa, sabe mais do que ninguém, que na vida sempre temos opções para escolhermos. O "bom menino" e a "menina má", a todo instante, tomam suas próprias decisões, que, consequentemente, irão refletir na vida de ambos, seja no presente ou seja no futuro. Recomendadíssimo!

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