
Travessuras da Menina Má se enquadra nesta segunda categoria: é daqueles livros gostosos, sem vocabulários muito complexos, com trama simples e envolvente, que você se apega com gosto de modo que não se satisfaz enquanto não chega ao seu final. É uma história direta e conclusiva, não ambiciona atrair o leitor para dentro da trama para que ele resolva um quebra-cabeça para que tente elucidar, através de teorias, todos os pontos: Llosa não deixa nada em aberto. Tudo está muito bem fechado e construído.
Certamente este livro irá agradar tanto o leitor ocasional, que pretende apenas encontrar um bom entretenimento, como aqueles mais sedentos e exigentes, pois embora não seja técnico e não permita uma análise mais aprofundada - até porque a história é rasa - o livro está repleto de referências que podem levar leitores mais experientes e cultos para a total nostalgia: a história se passa em diversas épocas e diversos lugares, como na Paris dos anos 60, na Inglaterra dos anos 70, na Tókio dos anos 80 e mesmo em Madri. Também há menções de Freud, Lacan, Turgueniev, Tchecov e outros célebres pensadores e romancista. Isto devido a enorme experiência de Llosa, que ele esbanja com competência de primeira categoria.
A história, sem grandes segredos, é a história de toda uma vida e é contada em primeira pessoa por Ricardo, um peruano que consegue realizar o seu sonho de adolescência ao morar em Paris, graças ao seu trabalho de tradutor e interpréte. Em Paris ele irá se reencontrar com uma paixão ardente e juvenil remanescente dos tempos que ainda residia no Peru. Esta paixão irá se reascender de forma que toda a sua vida irá se concentrar unicamente em realizar os seus desejos mais calorosos, porém, a malicia da "menina má" irá sempre lhe deixar na mão.
Ao longo do tempo, ele sempre a reencontra, cada vez num lugar, casada com um homem diferente e com um novo nome: No Peru, se chamava Lily. Na França camarada Arlette, e logo depois madame Robert Arnoux. Na Inglaterra, Mrs. Richardson. No Japão, Mitsuko. Afinal, quem é está garota que está sempre dando golpes e fugindo? Que destino é este que faz com que a menina má sempre cruze o seu caminho? Porque ele nunca consegue esquecê-lá e na medida que se sente mais humilhado também fica mais apaixonado? O que seria esta insana relação de amor e ódio?
É dentro destas questões que Llosa irá convidar o leitor para observar a história de Ricardo e a menina má, que mesmo sabendo ser a algoz do bom menino, sabe que é nele que encontra a única pessoa que realmente se importa com ela. É uma espécie de jogo de gato e rato, de sublimição e intimação, uma constante perseguição em busca do amor.
Mario Vargas Llosa, sabe mais do que ninguém, que na vida sempre temos opções para escolhermos. O "bom menino" e a "menina má", a todo instante, tomam suas próprias decisões, que, consequentemente, irão refletir na vida de ambos, seja no presente ou seja no futuro. Recomendadíssimo!
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