Este artigo faz parte de uma série que visa analisar a obra Crime e Castigo, de Fiódor Dostoiévski. Para conhecer todos os outros textos que já foram públicados sobre este assunto neste blog, clique aqui.
Raskólnikov é o jovem protagonista de Crime e Castigo. Ex-estudante, vive em condições de extrema pobreza num cúbiculo em São Petesburgo. O pagamento de seu aluguel está atrasado, também não foi possível continuar com seus estudos por falta de recursos financeiros. Porém sua miséria é tão grande quanto sua inteligência. Se não fosse por suas condições, provavelmente ele teria uma carreira universitária de sucesso. Quando estava na universidade, escreveu uma teoria a respeito de criminologia que posteriormente seria publicado em uma revista.
A precariedade de sua vida, além da ideologia, torna sua mente sombria e atormentada. Posteriormente este estado fará com que Raskólnikov cometa um crime planejado com antecedência: o assassinato da velha agiota, Aliena Ivánovna. Acredita estar fazendo um bem para a humanidade, pois elimina da face da terra uma pessoa que trás tantos sofrimentos as outras. Porém, durante a execução de seu plano, surge inesperadamente Lisavieta, irmã de Aliena, e Raskólnikov, contra a sua ideologia, também se vê obrigado a matar-lhe.
Após o crime, Raskólnikov se torna ainda mais confuso e perturbado, assumindo uma postura de culpa e inocência duelando para ver quem é que vence. Seus pensamentos são desconvexos e muitas vezes beiram à vontade de não estar mais ali. Todo o tempo, Raskólnikov inicia uma fuga de seus demônios que não permitem que sua consciência fique trânquila. Mais de uma vez pensa em se suicidar ou se entregar para a polícia. Até mesmo arquiteta e inicia a execução de alguns destes planos, porém o seu intímo resiste devido a teoria em que ele acreditava.
Durante todo o percurso de Raskólnikov, vemos um homem num labirinto em direção à loucura. Ele sofre de mania de perseguição: começa a achar que todos que estão próximos a ele devem saber ou desconfiar que ele seria o assassino de Aliena Ivánovna, que começou a repercutir em seu meio como um crime a ser resolvido, onde cada pessoa tentava concluir a sua maneira e discutia as possibilidades com os outros.
Do ponto-de-vista da obra dostoiévskiana, onde o tema central é "ultrapassar os limites", Raskólnikov está justamente atrás da parede que representa o limite: ou ele rompe com sua finitude ou ele aceita que não há como romper. Entretanto, tanto tempo esmurrando o muro irá fazer com que sua saúde e sua sanidade passem a ser altamente prejudicadas.
Logo uma série de personagens aparecem para aumentar ainda mais seu sofrimento ou aliviar um pouco as suas angústias, e assim arremessam os seus sentimentos para extremos cada vez mais torturosos. Apenas o fato de viver causa à Raskólnikov uma sensação de rompimento com a própria realidade: ele deseja, constantemente, colocar um basta em tudo, terminar logo com tudo aquilo. Porém o processo não é simples porque a vida não permite que seja assim.
Entretanto, uma prostituta chamada Sonia irá trazer uma significação para sua vida, baseada nos ensinamentos da Igreja Ortodoxa, o que faz com quê Raskólnikov passe a viver uma vida inautêntica, porém livre de sofrimentos.
Seria, então, a vida quando vivida em seu real estado uma série de angústias e tormentos? Estaria o homem condenado a viver uma vida distraída para que ela seja suportável? Enfim, estas são duas questões que inevitavelmente questionamos ao nosso interior após a leitura de Crime e Castigo.
Parabéns ao autor pela complexidade dos personagens e ao rapaz que escreveu este texto.
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