quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Radiohead: Climbing Up The Wall

Nesta música lenta, com o vocal distorcido, o Radiohead divaga sobre um assunto frequente em nossa atual sociedade: a violência e o crime.

A letra retrata uma invasão a residência, todos os passos frios e cruéis do lado do agressor e o retrato da frieza e crueldade de quem já fez do ato uma profissão.

Para nós, resta apenas o medo: "Quinze golpes atrás de minha cabeça. Quinze golpes em minha mente". Esta sentença soa como "Quem bate não se recorda, mas quem apanha nunca se esquece".

"Não berre ou toque o alarme, somos amigos até morrermos" / "E tanto faz onde você for, eu estarei ali, abrindo seu crânio"

Nós, quando vítimas ou espectadores, ficamos sem entender porque as coisas são assim. Porque nos esforçamos tanto para ter as coisas para depois alguém, covardemente - e toda a covardia é cruel, tomar de nós de forma brutal e inconsequente. Aqui estão vidas que jamais serão as mesmas novamente, afinal uma cicatriz foi aberta para jamais ser fechada: o medo do próprio homem, animal da mesma espécie.

Mas porque o Radiohead ressalta uma temática tão abrangente num album que diz sobre os perigos da tecnologia, da alienação e do condicionamento? Obviamente o roubo e o furto não são doenças que surgiram em nosso tempo, há registros de incidentes desta natureza há milhares de anos. Porém, em nosso tempo, surge um certo prazer em fazer o mal.

Antes, o criminoso roubava para suprir uma necessidade monetária, matava para cumprir um objetivo. Hoje estas práticas são quase que um esporte. Há pessoas que gostam de torturar, de testar os limites do homem, de romper com a mais ínfima dignidade presente no coração mais negro possível. Eles matam por prazer. Sabendo disto temos medo, pois o perigo de morte nunca foi mais real. Estamos fragilizados pela brutalidade do homem.

Mais uma montagem de fãs

Mas quais são os sintomas para que este tipo de patologia exista em nossa sociedade? Esta questão é muito complexa e deixar a questão em aberto bastaria para que fizéssemos justiça à intenção do compositor, mas podemos arriscar algumas coisas mais evidentes.

Primeiro que o nosso sistema é baseado na exploração de recursos, ou seja, na humilhação e subordinação do homem como ser jogado no mundo. Somos escravos de um sistema impune e indestrutível. Não há muito o que fazer, a não ser levar cada dia de uma única vez. O sentimento de humilhação e exploração pode levar algumas camadas mais miseráveis da sociedade (ainda que não seja exclusividade de uma classe social) a romper com os seus limites e despertar um sentimento insano de vingança. De certa maneira, a agressão à alguém de uma classe mais elevada, pode representar uma figuração em dar o troco para toda a injustiça - ainda que nesta atitude, por não ser racional, também represente uma injustiça com o agredido.

Segundo, a própria evolução tecnológica levou a criação de armas de fogo cada vez mais precisas por um menor custo. Quem é portador de uma arma de fogo tem o controle total em uma situação de agressão, pois basta um disparo para eliminar qualquer risco que ele poderia ter numa ação de crime. Na outra mão, temos uma outra pessoa que não tem a menor chance de se defender, totalmente refem da circunstância.

Terceiro, o condicionamento das massas levou as pessoas a terem medo das coisas. As mídias insistem, ininterruptamente, em noticiar casos de sequestros, assaltos, assassinatos, estupros e outras formas de agressão, de modo que com o pânico gerado, nos tornamos cada vez mais frágeis e os criminosos cada vez mais encorajados ao saber do estado de nosso espírito.

Poderíamos elencar uma série de outros fatos, porém estes bastam para saber porque tamanha crueldade tem uma relação especial com a temática do album. Quanto mais "evoluímos", mais nos tornamos escravos das coisas.

I am the key to the lock in your house, that keeps your toys in the basement
Eu sou as chaves para as fechaduras de sua casa, que mantém seus brinquedos no porão
And if you get too far inside, youll only see my reflection
E se for muito para o fundo, verá somente o meu reflexo
Its always best when the light is off, I am the pick in the ice
É sempre melhor quando a luz está apagada, eu sou a essência do gelo
Do not cry out or hit the alarm, were friends till we die
Não berre ou toque o alarme, somos amigos até morrermos

And either way you turn, Ill be there, open up your skull
E tanto faz onde você for, eu estarei ali, abrindo seu crânio
Ill be there, climbing up the walls
Eu estarei ali, escalando as paredes

Its always best when the light is off, its always better on the outside
É sempre melhor quando a luz está apagada, é sempre melhor do lado de fora
Fifteen blows to the back of my head, fifteen blows to your mind
Quinze golpes atrás de minha cabeça, Quinze golpes para sua mente
So tuck the kids in safe tonight, shut the eyes in the cupboard
Então mantenha os garotos a salvo hoje a noite, feche os olhos no armário
So not cry out or hit the alarm, youll get the loneliest feeling
Então não berre ou dispare o alarme, você sentirá o mais solitário sentimento
That either way you turn, Ill be there, open up your skull
Que onde quer que você esteja, eu estarei ali, abrindo seu crânio
Ill be there, climbing up the walls
Eu estarei ali, escalando as paredes.

A seguir, No Surprises.

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