quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Crítica a Uma Política Globalizada

Uma coisa é certa: com esta crise, tem muita gente que acordará bilionária quando tudo isto passar, assim como na época da chamada Grande Depressão. E isto é desumano e terrível, neste caso, gancho de direita da máquina: monopolização. Já disse por diversas vezes que sou contra a globalização e o discurso “todos somos uma só raça, numa só língua, numa mesma moeda, conectados por todo mundo e num único coração”. Tudo parece muito bonito mas eu vejo como muito perigoso.

Há pouco tempo atrás havia diversificação no capital: você comprava verduras em um local e frutas em outro (os dois eram amigos). Arroz e feijão no mercado, bebidas no bar. No barbeiro você fazia a barba e no cabeleleiro cortava o cabelo. Ia no cinema assistir um filme e comprava pipoca do pipoqueiro, que quando não ficava do lado de fora, era amigo do dono do cinema e pegava um espaço para comercializar o alimento. Naqueles tempos, a coisa era mais justa e quando você achava que o preço não estava de acordo com o que pretendia pagar, falava diretamente com o dono, que iria lhe propor um desconto. Caso contrário, você iria na loja do seu concorrente, porém a camaradagem era tão grande naqueles dias em que as pessoas eram mais próximas, que dificilmente isto acontecia. Era a tal da clientela: cada estabelecimento tinha a sua, geralmente um conglomerado de ruas, e as pessoas se chamavam pelo nome e amizades eram solidificadas.

Porém o Deus-Dinheiro, desde o princípio do mundo – arrisco dizer que ele é o único Deus e o único princípio deste inferno – falou mais alto. A própria “evolução” do tempo fez com a ganância do homem por cada vez mais – este que foi criado a imagem de seu superior –ascendesse o pávio de sua inveja: visto que o “amigo” do bar estava ganhando bastante dinheiro no verão, o mercado passou a vender, além do arroz e do feijão, a bebida. Assim ele passou a se chamar supermercado. Logo ele passou a agregar a função da feira: verdureiros e fruteiros foram para o espaço. Vendo que o negócio era rentável, ele trouxe para si serviços como cabeleiro, barbeiro e cinema num único recinto. Assim nasceu o hipermercado, que como um bom artefato do hiper-real, existe para além de suas necessidades: além de comprar arroz e feijão, você pode se produzir, jogar boliche, assistir um filme e se divertir! Hoje não é tão incomum você pegar sua família passear no hipermercado no final-de-semana.

Consequência: com a variedade de serviços e produtos, o barbeiro foi extinto deste mundo centralizador. O cabeleiro da esquina foi procurar emprego num Soho. O mercadinho do Seu João agora dá lugar há um apartamento. Conclusão 1: desemprego. Conclusão 2: onde antes havia R$ 1000,00 por mês na mão de 1000 pessoas, sendo que todos viviam bem, agora se transforma em R$ 900.000,00 na mão de uma pessoa só, sendo que só ela vive bem. Os outros R$ 100.000,00 foram divididos entre as 1000 pessoas que ficaram desempregadas e foram contratadas, graças ao seu “know-how”: agora todas beiram a miséria com os seus míseros R$ 100,00 por mês e precisam fazer malabares para sobreviver.

Todos estes números são fictícios e servem apenas para ilustrar nossa breve história. O fato é que esta política centralizadora quebrou todos os pequenos. Quanto aos médios, eles viram-se forçados a fazer acordos com estes peixes grandes e a maioria vem sendo compradas por eles. Um caso de um grande que vem abocanhando tudo é o próprio Google (inclusive este blog está hospedado num serviço que eles adquiriram há um tempo atrás, o blogspot): recentemente eles lançaram seu próprio aparelho celular. Segundo as estatíticas do Analytics (ferramenta da Google para analisar tráfego na Internet), 99% das pessoas que lêem esta notícia chegaram aqui através do mecanismo de buscas do Google.

Quando apenas os grandes prevalecerem, eles terão controle sobre tudo aquilo que podemos adquirir e qual o valor devemos pagar. É mais ou menos como acontece com o carro no Brasil: ou você paga absurdamente caro ou fique sem. Enquanto isto acontece com bens de consumo duráveis, dá para sobreviver, quando começar a acontecer com os commodities, iremos morrer de fome. O termômetro sempre será o bem de consumo durável: quando ninguém mais começar a comprar estes bens, a política terá que ser revista antes mesmo de chegar aos alimentos. Por mais normal que pareça, existe algo de podre no mundo que já está cheirando merda faz algum tempo: o monopólio na área de serviços. Em São Paulo, por exemplo, somos obrigados a contratar serviços da espanhola Telefônica e energia elétrica da Eletropaulo. Existe alguns concorrentes de fachada (eu disse fachada).

O fato é que cada vez menos empresas serão donas do mundo. Não haverá espaço para concorrência e o futuro se tornará cada vez mais assombroso, pois a geração vindoura não poderá entrar nos segmentos que já estão monopolizados e apenas alguns poucos irão brilhar com algumas idéias revolucionárias (que provavelmente serão compradas por algum dinossauro pioneiro que dará um jeito de aplicá-las ao seu negócio).

O que me assusta nesta atual crise econômica é esta sensação de monopólio que pretende se instaurar: na época da Grande Depressão, diversos banqueiros enriqueceram tanto que hoje são as figuras mais importantes do império capitalista, isto as custas de muita miséria. Hoje estes banqueiros são donos da Federal Reserve, uma espécie de Banco Central, porém, diferente do Brasil, é uma instituição privada, ou seja, o dinheiro tem, literalmente, dono.

Agora pasmem: uma das empresas que mais estão ganhando dinheiro com a atual crise econômica norte-americana é o banco G.P. Morgan – detalhe: eles são um dos principais donos da Federal Reserve (a mesma que há pouco tempo negou um pacote de dinheiro monstruoso que iria equilibrar o mercado de ações e aliviar a crise, fazendo assim centenas de empresas decretarem falência). Além de lucrar, eles estão condicionando outros bancos a sua mercê: o quarto maior banco do EUA acaba de falir (Lehman Brothers), um concorrente a menos.

Cada vez mais o mundo sente as dores de crises de outros países justamente porque temos tantos negócios com eles que, caso um deles afundem, os outros afundam na sequência – o chamado efeito dominó, pois se criou uma interdependência para que não tívessemos que competir com estes dinossauros (no caso dos hipermercados, entenda-se Wal-Mart e Carrefour, no caso de veículos nem temos uma empresa brasileira e os estrangeiros competem entre si em terras tupiniquins).

Todavia, por mais que a minha tese se confirme, vejo tudo isto com bons olhos, pois o que eu achei que ainda demoraria anos para se concretizar se antecipou a todas as minhas análises anteriores. Logo a guerra cívil que eu tanto espero irá se iniciar e o sistema cometerá suícidio, conforme todas as espectativas que eu tenho a respeito de nossa sociedade.

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