quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Fuerza Bruta: Delírio ou Liberdade?

São Paulo, 08/10/2008. Parque Villa-Lobos. É uma noite fria onde o vento, impiedoso, corta o ar como uma lâmina rente. Estou ancioso para assistir um dos espetáculos mais falados dos ultimos tempos: a produção argentina Fuerza Bruta, criada pelo diretor artístico Diqui James e diretor musical Garby Kerpel, que fazem parte do espetáculo De La Guarda - que já passou pelo Brasil anteriormente (engraçado como a cultura argentina vem tomando conta de mim nos ultimos tempos – Jorge Luis Borges, La Antena, Ernesto Sabato, Epitáfios, só para citar alguns).

Conforme consta no site oficial, Fuerza Bruta foi uma das produções mais assistidas da Broadway neste ano. De fato, não é difícil de imaginar porquê após ter assistido a montagem. Simplesmente estamos diante do belo demonstrado diante de si. Falar sobre a experiência com meras palavras, seria naufragar no seco.

Mas o que faz de Fuerza Bruta tão especial assim? Afinal, o que é Fuerza Bruta?

Imagine a magia do circo, mais o encanto do teatro aliado a muita música eletrônica – techno tribal – e um texto totalmente nonsense. Isto é Fuerza Bruta.

Imagine um palco percorrendo por entre o público, sendo que muitas vezes precisamos seguir um orientador para acompanhar a direção do espetáculo. Isto é Fuerza Bruta.

Agora tente imaginar uma piscina acima de sua cabeça, onde diversas pessoas nadam com movimentos ora sutis, ora agressivos, sendo que esta piscina desce vagarosamente para perto de si, de modo que você consegue toca-lá. Isto é Fuerza Bruta.

Você é parte da apresentação. As vezes a cena acontece na platéia e você é convidado a participar do evento. As composições eletrizantes aliadas ao jogo de luz não permitem que você fique parado um só instante. Fuerza Bruta é uma experiência poética. Pena que dura somente 60 minutos. A impressão que eu tenho é que ficaria um dia inteiro sem me dar conta preso ao mundo criado pelos idealizadores da obra.

Fuerza Bruta é o sonho do homem contemporâneo sufocado por seu universo de coisas pequenas. É o delírio causado pela doença das grandes capitais. É um grito contra a pressão exercida pelo mundo corporativo. Enfim, é vontade de se libertar agindo no subconsciente do ser.

Ao término os atores descem do palco e vão para a “pista” junto com o público, dançar embaixo de muita água e música eletrônica. Este carisma que geralmente não encontramos no circuito broadway nas peças caríssimas e bem montadas do Teatro Abril faz com que os espectadores ovacionem as cenas com urros e gritos de libertação.

No fim, estamos todos livres! Viva Fuerza Bruta!


O espetáculo fica somente até o dia 09 de Novembro nas tendas montadas no Parque Villa Lobos em São Paulo. Bilheteria no local e através do site Ticketmaster.

Ingressos de R$ 120,00 à R$ 150,00 (inteira) e R$ 60,00 à R$ 75,00 (meia).

Um comentário:

  1. Eu não tive bem a impressão de que foi um "homem se libertando" do mundo... a sensação que me deu foi de alguém que não pára por nada: nem por uma barreira de pedras, nem por uma porta fechada. Alguém que é testado, assassinado e maltratado por ser persistente, por querer ir além, viver enfim. Diferentes interpretações cabem no espetáculo, é verdade. Afinal, se parece mesmo com um sonho, o que é muito subjetivo!

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