segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sobre a Incerteza do Mundo

Há muito tempo que dois tipos de problemas tomam conta de minha mente em âmbito filosófico:

1) A fenomenologia, o existencialismo e o absurdo de viver, principalmente na sociedade da informação, onde o ser cada vez mais se distância da realidade para estabelecer um sem números de hiper-realidades, onde a vida se torna uma espécie de parque de diversões e os problemas sociais estão cada vez mais minimizados por homens condicionados em seus brinquedos (vide IPhone) – ainda que os mesmos se multipliquem diariamente.

2) A problemática da linguagem, teoria do conhecimento e lógica análitica. Este é o campo que vale-se do raciocínio lógico – não necessariamente da razão – para colocar a prova uma série de juízos ditos como verdadeiros. Neste caso, a idéia é valer-se de argumentos que possam negar todo o tipo de resposta possível (quando não negarmos também as questões).

É neste segundo tipo de problema que pretendo me ater um pouco neste post. Não me valerei de outros pensadores que já percorreram este caminho, assim, caso seja capaz, tentarei motivar algumas questões cujas resposta talvez não existam. Mas o que é o filosofar, senão a busca por um conhecimento que jamais iremos adquirir? Senão iremos adquirir, do que vale filosofar? Filosofar serve, sobretudo, para desacreditar as coisas e para duvidar dos fatos, visto que até hoje nenhuma forma de conhecimento se mostrou segura o suficiente para se manter estável por muito tempo.

O que mais me incomoda neste princípio de século XXI é este monte de coisas que temos hoje ao nosso redor para “facilitar” a nossa vida. Da mesma forma, este monte de remédios para curar doenças que “graças ao progresso da ciência hoje temos conhecimento suficiente para descobri-las e evitá-las”. Eis que ao desacreditar de um deus criacionista passamos a depositar a nossa fé numa deusa ciência tão criacionista quanto. Nunca tivemos tantos teoremas para explicar as coisas de tal forma que vibramos e dizemos: “finalmente o mundo vai sendo desvelado”. O fato é que estão dando uma importância fora-do-comum para coisas que não vão além do que simplesmente são: teorias e teoremas. A divindade destes cálculos e hipóteses se assemelham aos santos de outrora. Existe uma fé cega, surda e muda em que a ciência irá salvar a humanidade, sendo que a tendência clara é que ela nos destrua.

Esta tendência pode ser observada na evolução dos armamentos químicos, na indústria das armas, na indústria farmacêutica (onde se movimenta bilhões todos os anos na comercialização da saúde), nos laboratórios de clonagem (onde logo você poderá comprar um orgão a preços exorbitantes), na comunicação globalizada e nos negócios gerados pelo domínio dos maiores – a chamada monopolização (você ainda se recorda do mercadinho da esquina?), na utilização dos recursos naturais (cansamos de ouvir que mãe-natureza pede ajude urgente) e em tantas outras coisas que precisaria criar um livro apenas para demonstrá-las com fatos mais concretos. Porém eis o nossa deusa traiçoeira agindo, e eis o povo louvando-a como se a segunda vinda do messias acontecesse neste momento.

Temos tantos absurdos nesta corrente que algumas coisas engraçadas podem ser observadas: uma delas é que a negação da existência de Deus se tornou uma religião organizada – o ateísmo. O que era para ser um movimento muito bem estruturado e fundamentado se tornou crença. Para confirmar o que estou dizendo, basta ver que quando perguntamos para as pessoas que fazem parte desta célula qual é sua religião logo eles dizem: “sou ateu”, quando o correto seria dizer “não tenho”.

Este monte de teoremas que temos hoje são formulados com base em postulados e axiomas, ou seja, partem da premissa que algo seja concreto e verdadeiro. Por assim dizer, todos os cálculos provenientes da física partem de certas verdades “inquestionáveis” (se não fosse assim, entraríamos num conceito chamado Regressão Infinita de Justificativas, ou seja, iremos explicado infinitamente até que o nosso argumento fosse esgotado e teríamos que assumir a nossa ignorância – algo que a vaidosa ciência jamais fará). Não é somente assim com a física, mas com todas as outras ciências.

O próprio átomo é apenas um conceito “provável” e é utilizado como base para explicar infinitas coisas. Quando entramos no conceito das probabilidades e das diversas possibilidades, temos um problema dialético. Ou seja, um problema cuja persuassão irá resolver. Enfim, diversas teorias cientificas podem explicar um mesmo problema por se basearem em diferentes premissas.

Concluindo, é preciso “acreditar” na teoria. É preciso “acreditar” no discurso cientifico para que ele tenha validade. É preciso crer que o avanço proporciona a descoberta de novas doenças e os consecultivos remédios, ao invés de acreditar que as doenças foram criadas a partir do desenvolvimento dos remédios, pois a deusa-ciência tem que ser necessariamente boa para que ela continue.

Sendo que uma teoria pressupõe certos postulados, que nível de confiança podemos depositar em algo que não consegue explicar essencialmente a sua origem? Como podemos confiar tanto nos resultados de uma linguagem onde não é possível chegar em lugar algum numa simples divisão de 9 por 3? Cuja racionalidade não permite fisicamente chegarmos até o outro lado da parede (visto que para percorrer dois pontos, ou seja, de A até B, precisamos percorrer a metade do percurso. Só que para chegar a metade de A e B, precisamos percorrer também a sua metade. Então precisaremos percorrer a metade da metade da metade de A e B, e assim infinitamente sem chegar ao ponto B)?

Talvez porque insistimos em formular as questões erradas. A nossa alma curiosa e investigativa não permite simplesmente aceitarmos as coisas com são e somos orientados a tentar explicar as coisas. O discurso que mais ouço falar entre os sacerdotes da ciência é que em nenhum outro momento da história estivemos tão próximo de certas verdades, graças aos avanços tecnológicos que nos permite chegar aonde nunca estivemos. Sim, eles estão corretos, mas continuam, como crianças mimadas, procurando explicações para questões sem sentido. Até mesmo porque qualquer “verdade” que surja agora será provisória. Daqui à mil anos virão com um outro discurso muito mais elaborado que irá substituir o corrente. Sempre foi assim na história, e sempre será.

Não há verdade que sobreviva para sempre. Logo, não há verdades. Se quando solto uma laranja e ela cai no chão por causa da lei da gravidade ou porque Deus quis ou qualquer outra coisa que eu queira dizer para explicar, o fato é que a laranja cai e pronto. Se foi Deus que criou o homem ou somos criaturas que fomos evoluindo desde o principio, o fato é que aqui estamos e aqui estaremos independente de teorias. Ou seja, tudo se resume a aceitação das coisas simples.

Assim como não podemos ter concretude ao dividir 9 por 3, também formulamos juizos errados a respeito das coisas. Talvez este seja simplesmente um problema de linguagem, como já disseram alguns pensadores – como Wittgenstein. Talvez realmente estamos formulando questões erradas graças a erros gramaticais que permitem pensarmos coisas absurdas. Uma vez que pensamos estas coisas sem sentido, buscamos desesperadamente uma resposta. O mais certo é que esta resposta desprovida de dúvidas jamais virá.

Visto que não conhecemos o início das coisas, se é que há um início, sempre partiremos de pressupostos, o que não é nada confiável. Se você disser que o mundo tem 10 mil anos, terá que acreditar que antes disso não havia nada e que tudo começa a partir deste ponto 0. Se for 45 bilhões de anos, terá que ter a mesma fé. Independente da crença, você estará limitando o tempo e o espaço. Se houve um início, não há infinito.

Pode ser também que o conceito infinito seja um absurdo, pois como é possível pensar o infinito? Não há referencial para pensar este tipo de coisa, portanto me parece que aí temos um erro de linguagem, assim como nomear algo como finito. As coisas são o que são. Mais do que isto, tudo é apenas especulação. Especulando, você estará persuadindo ou sendo persuadido – cai no discurso retórico mencionado anteriormente.

Para concluir este ensaio, todo este meu texto está apenas exposto, porém não fundamentado. Espero desenvolver os fundamentos em algo escrito em breve.

2 comentários:

  1. "Pouco importa que eu tenha nascido ou não, que eu tenha vivido ou não, que eu esteja morto ou apenas moribundo, vou fazer do jeito que sempre fiz, na ignorância do que faço, de quem sou, donde estou, se é que sou."

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  2. Samuel Beckett, Malone Morre.

    Assim deveria ser pois, essencialmente, a vida reside nas coisas simples (aquelas que simplesmente são).

    O homem é que tenta complicar tudo.

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