Este post faz parte da iniciativa Blog Action Day 2008 onde neste ano o tema a ser discorrido é a pobreza mundial. Até o dia que eu me inscrevi, já havia quase 8000 blogs inscritos como participantes deste evento que a cada ano movimenta a blogoesfera para a conscientização de problemas sociais gravíssimos.
A camada mundial que vive em condização de extrema miséria é um fato. São milhares de pessoas que dormem em locais inapropriados e que acordam sem ter o que comer. Pior é que esta faixa não tem nenhuma expectativa de melhora em sua qualidade de vida. Pessoas morrem de frio e de fome. Enfim, o cenário é apocaliptico e cruel. Mas isto não deve ser nenhuma novidade para você, não é mesmo?
Sendo assim a questão é: como podemos nos manter indifirentes, côncios que estes fatos são verdadeiros? Como podemos elaborar piadas com a casta mais marginal existente na face da Terra? Como pode um cachorro ter um tratamento infinitamente superior à de um homem, enquanto pessoas vivem como animais na selva?
Quando passamos a analisar as questões, podemos entender que convivemos bem com isto justamente por parecer que esta “realidade” está bem distante da nossa. É como se fosse um filme a qual conhecemos a história, nos emocionamos, debatemos a respeito da mensagem, porém não faz parte do nosso dia-a-dia. Alguns, covardemente, se isentam de culpa ao pensar que não podem fazer nada, pois não são responsável pelo mundo como ele é. Desta maneira, condenar o governo ou fatores externos representa um alívio na consciência destas pessoas.
De fato, isto acontece justamente porque abandonamos a vida social para mergulhamos definitivamente numa vida individualista, egoísta e egocêntrica. Desta forma cada ser no universo cria uma realidade única para si, onde há somente uma história onde este ser é o único protagonista e todo o resto são meros coadjuvantes. Não mais compartilhamos uma única realidade. Agora temos milhares e milhares de realidades presentes num conjunto a qual eu chamo de hiper-realidade.
Hiper-realidade não significa realidades falsas, porém infinitas realidades verdadeiras, de tal modo que se perde o referêncial de um real a qual todos os seres compartilham. Deste modo, simplesmente não conseguimos mais nos sensibilizar o suficiente com as pessoas que vivem em situações de miséria, justamente porque estes vivem em uma outra realidade, num outro universo.
A hiper-realidade surje paralelamente com o hiperconsumo, cuja máquina, geradora de padrões de comportamento e conforto, irá utilizar como artefato de conquista de poder e controle. Desta forma surgem centenas de objetos que irão atuar diretamente em nossa raiz animal e irá nos tornar seres pacatos, condicionados, distantes e aparentemente felizes.
Hiperconsumo é aquele consumo brutal que não tem razão de ser. A sua existência se deve apenas pela fome que as pessoas tem em consumir. Esta fome é gerada pela imagem que atua diretamente em nosso espírito, ou seja, através das propagandas vinculadas pelas mídias de massa. Vivemos em um mundo onde imagem é tudo. Contemplamos tudo aquilo que é belo aos nossos olhos. Definitivamente a máquina trabalha para embelezar os objetos de consumo, de modo que eles se tornam tão sedutores, que desejamos tê-lo a qualquer custo.
Quando possuímos estes adornos ficamos fascinados a ponto de chegar num nível tamanho de satisfação que atingimos um nível pleno de felicidade e bem estar. O objeto rege a vida na era da hiper-realidade. Um destes objetos é o telefone celular: ele foi criado com a finalidade de ser um telefone portátil. Mas como as pessoas podem trocar seus telefones celulares varias vezes ao ano se a sua função elementar está presente desde os primórdios? Justamente porque o objeto vem agregando valor as suas funcionalidades: câmera fotográfica, filmadora, gps, navegador de internet, jogos e bloco de notas, entre outros.
Além disto, esteticamente ele vem ficando cada vez mais bonito. Como dito anteriormente, imagem é tudo, portanto o objeto se torna sedutor e as pessoas se apaixonam por ele. Não há mais limites para o ser, a não ser adquirir o objeto de desejo do momento, mesmo que tenhámos um que seja equivalente em funcionalidades.
É atuando na área do prazer que estes objetos faz com que criemos focos de atenção específicos para a nossa realidade e deixemos de lado o que é importante para o mundo. Todo este hiperconsumo representa o alívio do ser quanto aos problemas de origem social.
Recentemente o IBGE divulgou o resultado do último censo, onde observamos que 90% das famílias no Brasil ganham menos de R$ 3000,00 por mês – isto num país onde um aparelho como o IPhone custa R$ 2000,00 e onde um carro popular, sem vidro elétrico, nem trava, nem direção hidráulica e nem ar-condicionado, custa em torno de R$ 30000,00 (sendo que ano após ano recorde de vendas são registrados).
Isto só faz a pobreza aumentar no mundo, visto que desejosos pelos objetos de prazer, as pessoas se entorpecem de dívidas por todo o canto e fatalmente cairão em desgraça em algum momento de sua vida. Pois a emoção não raciocina sobre o que acontecerá lá na frente. O importante é saciar a fome insaciável de consumo que toma conta dentro de nós.
Enquanto isto, movimentos como o MST e trabalhos de ONGs são ignorados por praticamente todos os cidadãos. Escandalos de corrupção entre os parlamentares e a justiça são flagados todos os dias. Pessoas morrem de fome no continente africano e em outros paises de terceiro mundo que se desenvolvem com base na exploração da classe mais miserável. Onde homens e mulheres trabalham em canaviais até 14 horas por dias para ganhar um mísero salário.
Mesmo com tudo isto, basta um telefone celular para que fiquemos felizes. Basta um MP3 player, uma televisão de 50 polegadas ou um carro novo. Basta para silenciarmos aos problemas do mundo, tão mesquinhos e prostituidos nós somos.
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