segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Perdido

Há dias em que quase afoguei-me em uma gota d’água. Há algo que ficou entalado em minha garganta e que fez eu preender minha respiração e procurar o ar em vão. Enfim, não há nada, senão uma pequena parcela de toda a angústia presente na vida.

Eu desejei pegar o caminho inverso de casa para desencontrar-me. Por entre veredas escuras tropecei num mar de mentiras, submerso em todos os meus temores. É o caos e o naúfrago do homem em sua solidão. Os brinquedos não mais confortam a verdade que há por trás de cada esquina no bairro do esquecimento.

Batalhei na guerra do fim-do-mundo e fatalmente sobrevivi. Venho através das palavras balbuciar mais do mesmo, declarar a minha poesia de merda para a escória dos esgostos destes seres que convivem em meio aos ratos. O submundo das tristes almas que esqueceram de pedir perdão, assim sendo proibidas de subir a escada para o céu.

Acertaram-me no peito e o sangue que escorre não tem cor, não tem cheiro nem mesmo explicação. Desde o ‘desde os primórdios’, nada de novo aconteceu, assim a minha sina é uma lástima, o meu clamor é uma perdição. Quando as rosas não mais tem nome, surge o trovador para cantar os remendos de uma história não contada.

Perdido na simplicidade de ser o que se é me encontro, inevitavelmente, em situação de descontrole. De anti-vida. De anti-tudo. Meus dizeres já não dizem nada e eu mesmo não espero encontrar a piedade desta gente ingrata. Um mero obrigado basta para despertar a minha fúria em relação à decadência do mundo.

Por onde caminha a senhora das trevas? Porque diante de todo este mal as pessoas riem como se não fossem nada? Que o diabo espete seu tridente em cada coração distraido e que seus demônios tragam imensos espelhos para refletir toda a vergonha! Que querubins tragam-lhe novos olhos para que o mundo seja visto pela ótica de um sonhador!

Ainda procuro uma escola que me ensine a ser bôbo, incrédulo, egoísta e mesquinho, um perfeito idiota, para que assim aprenda a conviver num mundo de iguais, de seres falsos e de espíritos podres de hipocrisia. Quero apenas transceder a parede de minha residência, numa metamorfose me transformar em lixo ou marionete.

Que toda esta filosofia sirva para filosofar, que a ilusão da verdade escape por entre minhas mãos e que caia num mar onde beba aqueles que não querem entender. Estou tão confuso e tão cheio de mim que facilmente entraria na cachoeira da amnésia e faria valer cada uma das besteiras ditas por aí, sem reversão ideológica.

Que o seu ódio alente o meu tempero e que a sua piedade reflita a minha insensatez. A cada segundo, a cada instante, todos são responsáveis pela vagarosa e tortuosa morte de uma idéia que migra por entre camadas até que um dia possa sumir para nunca mais ser lembrada neste feixe de luz tão obscuro como os olhos enigmáticos da dúvida que paira.

Continuar este livro ou rasgar as páginas que não foram desenhadas? Quando, então, meu destino vingar todo o branco que ficou para trás irei, subitamente, sorrir para, posteriormente, gargalhar para, estridentemente, gritar todos os palavrões que estão em minha boca prestes a emplodir de tanta pressão.

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