quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Sobre as Palavras e a Ignorância

Há muito tempo a sabedoria popular diz que a palavra tem poder, o que é indiscutivelmente verdadeiro e pode ser colocado a prova diversas vezes: pegue alguém que você ama muito e diga um monte de desaforos. Com certeza a pessoa se sentirá lesada e ofendida (muito embora aquilo que você disse não representa exatamente aquilo que você sente). Posteriormente não adianta você falar que tudo fazia parte de uma experiência ou de um gracejo: as palavras foram ditas e elas tem um poder imenso - tanto para a construção como para a destruição.

Uma vez que você entenda qual é o poderio das palavras, é necessário que você as utilize com moderação e cuidado. A palavra não é um adorno ou um artefato para ser utilizado com indiferença. A palavra representa um estado de espírito, antes mesmo de uma opinião. As palavras denotam uma mensagem que representa o elo entre o ser interior com o mundo exterior - para que fique claro, quando digo palavras digo qualquer forma de comunicação que possa traduzir idéias.

Neste contexto, as palavras são traiçoeiras. Uma vez que você não pode conhecer as coisas em si, você conhece apenas a sua descrição proveniente das palavras. Num diálogo você conhece alguém somente por aquilo que ela diz, e não existe lei alguma que obrigue esta pessoa a dizer somente verdades a respeito de si e das coisas. Logo, toda a mentira é baseada num discurso ideológico falso. Enfim, a mentira só existe enquanto existem palavras, sendo que o discernimento é quem dirá aquilo que você aceita como verdadeiro ou falso.

Para o discernimento não há uma regra comum, sendo que cada pessoa estabelece o seu conforme sua experiência de vida. Se o discernimento pode ser diferente entre as pessoas, então as vias do conhecimento também são diferentes. Então, se uma pessoa conhece algo a partir de um conjunto de palavras, outra pessoa por conhecer algo diferente utilizando o mesmo conjunto de palavras.

Por isto mesmo é comum ouvirmos que "a minha verdade é diferente da sua". Chegamos numa linha de impasse. Enfim, a experiência de cada um é o que vai proporcionar um leque maior de possibilidades de conhecer as coisas, ou então restringir esta linha de conhecimento - isto é o que eu chamo de ignorância. Ignorantes são aquelas pessoas que não aceitam outras interpretações a não ser as suas próprias. Estas pessoas são especialistas em distorcer significados, visto que as palavras e as sentenças permitem entendimentos diferentes do enunciado.

Desta forma é necessário um cuidado especializar ao analisar as palavras alheias, para sermos justos na avaliação do enunciado e não cometermos toda espécie de crime antecipado. É preciso combater a ignorância para ampliarmos os nossos horizontes, visto que não há verdades absolutas em nada do que temos ao nosso redor. Ainda assim, há sentimentos sinceros que não podem ser deformados pela livre interpretação de um ser que não tem conhecimento de causa.

Portanto temos que ter cuidado para não nos trairmos com nossos desvarios, nossa indiferença e nossos demônios, uma coisa é a mentira e a falta de autenticidade, outra coisa são os erros de interpretação. Embora a linha seja muito tênue, acima de tudo vem o respeito pelas palavras dos outros e a consciência de que tudo aquilo que você diz pode ecoar positiva ou negativamente no mundo.

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