quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Sobre a Religião ao Longo do Tempo

No livro “Os Demônios da Loucura” (publicado também com o nome “Os Demônios de Loudoun”) Aldous Huxley, brilhantemente, nos coloca a par de como era uma sociedade dominada pela Igreja Católica no século XVII. Em nosso atual momento, onde cada vez mais o cristianismo vem perdendo força, tanto pela expansão do Islã como pela expansão do ateísmo, é díficil imaginar como passamos tanto tempo assombrados pelo regime totalitário em nome de Deus – sendo que a discussão aqui não é sobre a existência do Uno, mas sobre os crimes cometidos em seu nome.

De fato, Huxley nos sugere uma explicação bastante plausível e coerente: diferente de hoje, onde o individualismo prevalece numa relação íntima entre o sujeito e o objeto, naqueles tempos as pessoas deveriam necessariamente se relacionarem umas com as outras, tendo assim uma vida social extremamente ativa. A importância deste contraste entre a geração contemporânea e todas as outras se dá, principalmente, na fuga e na distração.

Se hoje temos televisores, MP3 players, carros e outros apetrechos sedutores que nos realizam psicologicamente – sendo que esta satisfação acontece numa relação direta entre indivíduo e objeto, sem a necessidade de um grupo – antes a única forma de distração possível para suportar as dificuldades da vida se realizavam no coletivo – com a exceção dos livros –, geralmente fora de casa, nos clubes, nas casas dos amigos, em festas onde todo um vilarejo era convidado, e, principalmente, na igreja.

Em vilas mais afastadas dos grandes centros, a igreja era muitas vezes a única forma de entretenimento possível: como numa espécie de efeito dominó, todos frequentavam as missas justamente porque todos estavam lá. Melhor lugar para socializar-se era impossível. Por isto afirmar que as pessoas iam até a igreja porque não havia outra coisa para fazer nem é algo algo tão ousado assim. A peble e os escravos, que precisavam trabalhar todos os dias e muitas vezes não conseguiam estabelecer-se num ciclo de amizades, tinha uma necessidade incrível de frequentar estes cultos por que era a única fonte de escape disponível.

Portanto a religião naqueles temos tinha mais a ver com diversão do que uma questão de fé, propriamente falando. Por este prisma, podemos concluir que a fé universal no divino não diminuiu, como rezam alguns, simplesmente as pessoas migraram sua fonte de entretenimento para uma nova diretriz, que é voltada ao nosso próprio tempo. Talvez a fé pura e verdadeira esteja mais presente nos religiosos de hoje do que nos de ontem, visto que que hoje temos outras opções safisfatórias fora da igreja.

Ademais, o papel dos líderes espirituais daquele tempo era o mais importante entre todos os outros desempenhados, inclusive do rei, porque eles tinham todas as pessoas nas mãos. Somente para ilustrar, um vigário de uma pequena igreja era o grande lider daquele vilarejo, visto que ele conhecia a todas as pessoas. E ele não conhecia apenas superficialmente, ele conhecia os mais íntimos segredos de todos – por vias da confissão – e isto lhe dava um poder indescretível: o poder da manipulação. Por exemplo: se o padre soubesse que o elemento A estava apaixonado pelo elemento B, ele poderia tanto unir sutilmente o casal, como destruí-lo de vez.

A partir do momento que conseguimos traçar uma linha onde igreja nem sempre representa a fé, isto pode explicar os diversos crimes cometidos pela igreja contra a ética, a moral e até mesmo a vida humana, visto que não foram todos os líderes espirituais que levaram a fé no Deus cristão a sério (ainda mais com o controle do poder, cuja a ganância humana faz com que este seja seu único propósito de vida).

Hoje, com a total transferência do poder para os políticos, com a cadeia imensa de erros assumidas pela própria igreja e consequente desconfiança, com a criação dos Estados laicos, com a globalização e consequente dissiminação de novas culturas, com a tecnologia e ciência avançada em comparação com época anteriores, a maioria das pessoas percebem que não há mais sentido em continuar frequentando a igreja. Por isto o número de adeptos cai ano após ano. Se isto é bom ou ruim entraremos numa outra discussão: evoluímos, permanecemos iguais ou entramos em ruptura?

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