“Colha a flor quando florescer; não espere até não haver mais flores, só galhos a serem quebrados” – provérbio chinês
Em 1774, o jovem J. W. Goethe iniciou uma revolução das almas perdidas sem saber que era o líder deste movimento de “libertação” desastrada e catastrófica: através da publicação de Werther, uma avalanche de suicídios se inicia na Alemanha e logo irá se espalhar por toda a Europa. Logo, Werther entra para a lista dos livros proibidos e Goethe se vê aflito por causar tantas mortes através de um livro fictício. Será?
É certo que Goethe se apaixonou por uma tal de Charlotte Buff, cujo em seus escritos ele deixou registrado “Era uma dessas mulheres que, sem inspirar paixão violenta, exercia invencível encanto sobre cada um dos que a rodeavam”. Era uma paixão avalassadora, sem espectativas de seguir adiante, afinal a moça era casada e isto um fator determinante e proibitivo, principalmente naquela época.
Werther é um jovem que se suícida com um tiro na cabeça justamente por viver uma paixão sem esperança. Em seu leito, uma série de cartas descrevem seus sentimentos e suas angústias, e é somente através destas cartas que conhecemos a história, os detalhes da vida e a premeditação de um fim anunciado. As convenções sociais assassinaram mais um homem. Temos, então, os sofrimentos do jovem Werther descrito nos papéis banhados em lágrimas entristecidas.
Assim como Goethe, Werther também se apaixona por uma mulher comprometida, que coincidências a parte, também se chama Charlotte. Sabe que esta paixão não irá evoluir, uma vez que as regras da época inserem a mulher num contexto submisso e domesticado ao homem, então ela não tem muita escolha a não ser aceitar o seu destino. Porém, um gracejo da vida faz com que Charlotte, dividida entre sua vida doméstica, e também cheia de desejo por Werther, acabe por não sustentar a sua renúncia e acaba nos braços do protagonista. Porém logo se arrepende, encerra toda a sua relação com o jovem e diz que nunca mais gostaria de vê-lo novamente.
“Ambos sentem o próprio infortúnio, no destino daqueles heróis; sentem-no e suas lágrimas se confundem(...). Pareceu a Carlota que o pressentimento de um mau desígnio lhe atravessara a alma; seus sentidos deliravam. Apertou-lhe as mãos e ele premiu as dela contra o peito (...) Inclinou-se sobre Werther, com uma emoção dolorosa, e as faces escaldantes de ambos se tocaram. O mundo deixou de existir.Werther enlaçou-a com os braços, apertou-a ao coração e cobriu de beijos furiosos seus lábios trêmulos e balbuciantes. ‘É a ultima vez, Werther!’ (...) ‘Você não me verá mais!’ E, lançando sobre o infeliz um olhar apaixonado, fugiu para o quarto vizinho e trancou-se por dentro”.
Para Werther, que estava contaminado por uma paixão patológica, todo o objetivo de sua vida havia sido cumprido: foi amado, ainda que por instantes, por sua amada. Era a realização de um sonho. A vida residia naqueles segundos eternos. A meta foi atingida. Agora bastava por fim em sua vida, uma vez que era melhor morrer com aquele sentimento de plenitude máxima do que continuar vivendo sob uma angústia mórbida e dolorosa.
“Ela ama-me! Ela ama-me! (...) Bem sabia que você me amava!”
Werther estava tão feliz por ter superado uma barreira quase intransponível, que para ele nada mais importava. De fato, estava bem consciente que Charlotte amava a si, e não ao seu noivo, de modo que ele ironiza o fator casamento. Se durante a vida, ela se casaria com o outro, a paixão que envolve os dois era para toda a eternidade.
“A mim, que importa que Alberto seja seu marido? Seu marido!... O casamento só vale para este mundo, e é só neste mundo que cometo um pecado, amando-a(...) Desde aquele momento, você ficou sendo minha, minha, ó Carlota! Eu a antecipo, indo para meu Pai (...) Ele me consolará até que você venha. Então voarei ao seu encontro, enlaçando-a, e ficaremos em face do Eterno unidos por um beijos sem fim.”
Através de um suícidio triunfal, Werther não está para este mundo. Ele possui asas e não pode ser confinado as repressões da vida cotidiana. Werther é uma ave que esta disposta a voar para bem longe, porém o mundo é finito para sua alma sem extensão.
A natureza do homem é ser livre. Quando ele é enjaulado ou quando a mesquinhez da vida obriga-lhe a ser vendido para alguém, como se as pessoas pudessem simplesmente assinar acordos para entregar-se como uma propriedade para outras pessoas, acontece isto: frustação, melancolia e repressão.
Não foi sem motivo que centenas de pessoas, identificando-se com Werther, passaram a se suicidar de forma semelhante: no íntimo, suas vidas eram semelhantes, as desgraças eram as mesmas e Werther era um herói. Era preciso seguir o exemplo desta figura, como uma espécie de protesto à um mundo de desiguais, de falsas promessas e de ilusões.
Werther está além de seu tempo. Está, inclusive, para além do meu tempo onde as pessoas adotam uma falsa moral para não decepcionar uma sociedade que valoriza as aparências. A lição que fica é, como diria o famoso Horácio, Carpe Diem, aproveite o momento e alcance o prazer imediato. De certo temos somente esta vida, se houver outras é mera especulação, então se apaixone, aproveite intensamente e se um dia acabar, não se engane mantendo algo que não existe mais.
Um dos melhores livros que eu jah li...
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