quinta-feira, 25 de junho de 2009

Por que Agnóstico, e não Religioso?


Se, ao disser que sou agnóstico, assumir que esta é minha religião, então que fique claro que a entidade máxima desta crença é a dúvida.

Se tiver que prestar culto para algo será para o ponto de interrogação, afinal me considero pequeno diante da imensidão do mundo para explicar ou mesmo entender tantas coisas complexas que temos ao nosso redor.

Neste caso, o que me resta é apenas aceitar a vida como ela se apresenta, com todos os seus mistérios indecifráveis. O homem, naturalmente, é um animal bastante curioso. Ele tem necessidade de conhecimento, graças à necessidade de controlar - que fatalmente lhe levará ao poder, que é a necessidade maior presente dentro de si.

Desta maneira, explicar é preciso. E a melhor forma de explicar alguma coisa é pelo começo. E nada melhor do que as religiões para trazer uma grande reflexão quando o assunto é o princípio da vida.

A religião resolve grande parte das questões existenciais que nos imperam. Através de figuras míticas, temos o esclarecimento para todas as dúvidas que perpetuam na metafísica. Neste caso, não é difícil participar de alguma, visto que elas servem como alimento para o nosso espírito faminto de conhecimento.

Quem adota uma religião está satisfeita com ela, independente de qual seja. Qualquer uma tem seu próprio estatuto, história, ética, moral e princípios, a qual absorvemos para dentro de nós. Porém quando decidimos fazer um exame mais minucioso destas crendices, iremos nos deparar com uma série de problemas para resolver (como problemas de continuidade, cronologia, conflitos éticos e contrariedades, além de problemas enfrentados por textos indecifráveis, fragmentados, mal traduzidos, ou mesmo perdidos).

Além do quesito principal: história. Quanto tempo uma religião perdura ao longo dos séculos e milênios? O que observamos é que conforme a humanidade envelhece, seus dogmas são substituidos gradativamente. Algumas crenças remendam o seu texto e o contextualizam com os dias atuais, o que significa uma grande perda de fidelidade do original, o que faz com que surjam ainda mais crenças, pois a difícil interpretação de boa parte das mensagens geram discórdias e pontos de divergência, o que faz com que muitas pessoas passem a seguir as religiões que mais lhes convém.

Quando esta religião não existe, é possível criar uma ou adaptar uma já existente para a nossa condição cultural e social. Hoje é o que vemos na prática com a segmentação das massas em diversos grupos sócio-econômicos, e daí por diante uma segmentação ainda maior (temos religiões específicas para um determinado tipo de grupo: temos divisões da igreja protestante, por exemplo, para os hippies e metaleiros e temos outra divisão para pessoas mais rígidas).

Ou seja, temos uma grande torre de babel cujo intuito não é trazer um caminho espiritual, mas alguns padrões de como conviver em harmonia socialmente. O problema é que como cada crença traz consigo seu próprio código de ética e moral, aquilo que foi pensado como correto é visto como motivos de contenda - basta rever as chamadas "Guerras Santas" ao longo da história, e que persistem até os dias atuais, principalmente na região do Oriente-Médio.

Além disto estas instituições vão de encontro com uma das prerrogativas bases para um mundo harmônico: a liberdade. As religiões, de modo geral, não toleram outras crendices que não sejam elas mesmas. Algumas, inclusives, chamam os membros de outras crenças de inimigos e incentivam no combate destes. Além disto trabalham ativamente no espírito humano ao querer estampar verdades inquestionáveis, ao invés da estimular a investigação de dúvidas, e muitas vezes abusam do bom senso dos homens.

Na prática, observamos este comportamento quando deixamos de escolher o que é o bem ou o mal para nós ao aceitarmos as premissas do que é bom ou ruim proveniente destas religiões, sendo que muitas vezes o que não é bom para a crença poderia ser bom para a pessoa e vice-versa (as vezes temos casos absurdos como a mutilação da genitália feminina, aceitação de gravidez proveniente de abuso sexual e mesmo crianças sendo enterradas vivas).

Acredito que Deus, se ele existir, não ficaria feliz de ver tantas pessoas agindo em seu nome de maneira tão mesquinha e arrogante, visando não a elevação da alma, mas somente a luxúria e conveniência dos próprios homens.

Por isto sou agnóstico, e não religioso. Pode ser que Deus exista, mas não pode ser este descritos nos livros sagrados, este pregado nas igrejas ou descrito por sábios antigos. Se Deus existir, ele deverá ser uma espécie composta de uma substância diferente da nossa, portanto isto explicaria a falta de evidências para comprová-lo, talvez seja por isto que ele não atue em nosso universo (por tratar-se de algo que não está no campo da ação).

Não sei. Entretanto fico com o meu não saber do que um saber que me trás dúvidas.

4 comentários:

  1. Estou acompanhando seu blog sempre que posso, como havia mencionado antes, e vez ou outra me sinto tentado a deixar comentários. Na verdade isso acontece sempre, mas as vezes me abstenho. Quando leio algum posicionamento seu perante questões extremamente pertinentes e interessantes, o que é o caso dessa série sobre o agnosticismo, no entanto, tenho que me expressar.

    Tive uma educação católica, das mais tradicionais, com catequeze aos sábados, missa aos domingos, confissões indesejadas e tudo mais. Mas isso tudo foi há muito tempo, quando não tinha uma opinião desenvolvida para com o assunto e apenas seguia o que me era instruido. Hoje estou há anos afastado de qualquer religião, por não conseguir acreditar no todo que é transmitido e pregado por quaisquer instituições que tenha conhecido e, arrisco a dizer, que venha a conhecer. Porém nunca pensei em definir se creio em algo ou não mas, se tivesse de o fazer, diria que sim, sou agnóstico.

    Parabéns pelos argumentos sempre muito embasados Evandro! Ah! Aproveitando, obrigado pelos comentários sobre meus textos.

    Abraços!!

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  2. Olá Conrado! Tudo bem?

    Sempre que quiser, sinta-se extremamente a vontade para comentar, criticar, opinar ou abrir um novo leque de possibilidades, afinal este blogue não trata de evidências e provas, mas de especulações, análises e dúvidas que surgem quanto aos mais diversos assuntos.

    Assim como você, passei pelos mesmos estágios da educação religiosa. Talvez tenha ido um pouco mais adiante, uma vez que me envolvi também na cultura protestante e participei de alguns eventos (como espectador) promovidos pelas igrejas.

    É justamente por desconfiar dos escritos religiosos, ainda que não duvide que o divino possa tanto existir como não existir, que mantenho esta posição agnóstica.

    Abraços!

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  3. "Acredito que Deus, se ele existir, não ficaria feliz de ver tantas pessoas agindo em seu nome de maneira tão mesquinha e arrogante, visando não a elevação da alma, mas somente a luxúria e conveniência dos próprios homens."

    Quanto a esta questão concordo plenamente, você deveria saber (ao menos os seus textos mostram isso) que o ser humano sempre buscou a manipulação da massa para atingir fins próprios. Temos aí centenas, milhares de igrejas embasadas em um ideal extremamente calvinista onde o indivíduo que anda com Deus necessariamente terá prosperidade material. A questão aqui é não generalizar. Tenho um amigo agnóstico e respeito a opinião de cada um de acreditar no que quiser, desde que isso não influencie negativamente na vida de terceiros. A questão a ser tratada é a seguinte: Deus, assim como a bíblia, é uma questão racional e sua existência pode ser confirmada por meios lógicos. Um estudo mais aprofundado das profecias de Daniel podem relatar uma série de acontecimentos que aconteceram centenas de anos após, fielmente ( já li textos que indicavam que o próprio Isaac Newton era um estudioso dessas profecias). Como poderia alguém prever coisas do tipo se não através da interferência de um poder maior. A bíblia, como um todo, é um livro interligado e bastante lógico e racional, nada dessas baboseiras de gritarias e linguagens bizarras, basta analisar os discursos de Paulo, o cara era um intelectual e seus discursos são recheados de argumentos válidos. O que de fato acontece é uma questão de hermenêutica, pura má interpretação. Como sempre o homem distorce o que for preciso para seus fins, vemos distorções em prol de guerras e em prol de lucro$$. É claro que tem coisas que, realmente, não consigo compreender (e não são poucas), mas a veracidade e racionalidade apresentada pro ela me dá a certeza de que se trata realmente da vontade de Deus. E só pra finalizar, acho imcompreensível acreditar que não exista Deus, ou "algo maior", como dizer. Há de ter um ser maior do que tudo isso que deu início ao mundo mesmo sem ser criado, do contrário não há outra explicação.
    Desculpa pelo texto enorme, me empolguei =D

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  4. Olá, Rafa! Bem-vindo novamente!

    Em primeiro lugar, você tem razão em quase todo o seu texto e entendeu perfeitamente aquilo que eu disse.

    Embora as sensações provenham da emoção, entendo - assim como você - que também é possível pensar Deus racionalmente (assim como propôs Agostinho e tantos outros).

    De fato, tanto o ateu quanto o crente dependem de fé para estabelecer a sua filosofia. Mesmo a ciência, ao longo dos anos, nas raízes de suas teorias valem-se de postulados e axiomas para validarem os seus cálculos e experiências.

    A diferença é que eles valem de um pensamento racional, coisa que a maior parte dos religiosos não estão dispostos a encarar. No momento, leio um livro sobre evidências científicas da existência divina. Leio com olhar cético, porém o autor trás argumentos muito interessantes que trarei para este blog assim que finalizar a leitura. Uma coisa que de cara me chamou a atenção é que a própria crendice afastou a ciência de seu núcleo ao longo dos tempos - um dos motivos que levam os cientistas atuais a zombarem das religiões - porém se os religiosos quiserem (pois a maioria não quer) poderão valer-se da ciência para validarem as questões divinas, pois ambas as coisas - segundo a opinião do autor - são provenientes da mesma fonte. Portanto não há dualismo.

    Agora falando por mim mesmo, ainda não me convenci diante de nenhum texto sagrado, de nenhuma crença que eu tenha conhecido. Alguns dos motivos estão citados nos posts sobre agnosticismo. Os outros desenvolverei na medida do possível. Entretanto confesso que isto não invalida a questão Deus. Porém, como pode ser concluído, também não valida).

    Logo falaremos mais sobre isto! Aguardo novas visitas!

    Abraços!

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