quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Veronika Decide Morrer



Não são todos os dias em que vemos a história de um autor brasileiro ser adaptada para o cinema internacional. De fato, isto por si só já deveria ser um grande atrativo para o público das terras tupiniquins irem ao cinema: você incentiva ao mesmo tempo que é incentivado a ingressar neste mercado. Fora este detalhe, estamos falando da adaptação de uma obra de Paulo Coelho, um dos escritores brasileiros mais bem sucedidos na literatura mundial - embora admita que ele não figura na lista dos meus prediletos, seu talento é inegável e reflete no número de exemplares vendidos em cada um de seus romances.

Como adendo, temos, em minha singela opinião, a adaptação da melhor obra de Paulo Coelho dentro os livros que li (O Alquimista, Diário de um Mago, O Demônio e a Srta. Prym e esta a qual estamos resenhando). Verônica Decide Morrer é um belo livro onde, embora curto demais por sua dinâmica, temos uma história muito agradável de ser apreciada. Como os demais livros do autor, o texto foi escrito para o público geral, e não especificamente para os ecumênicos dos ciclos cultos e eruditos - a qual erroneamente insiste em dizer que o autor carioca não é digno de representar o Brasil no cenário internacional.

Verônika é uma jovem bem sucedida: tem um bom emprego, uma boa família e um bom lugar para morar. Sua vida é perfeita exceto um simples detalhe: Verônika não se sente como parte de seu mundo. A estrutura de sua vida não lhe sustenta e nada mais parece fazer sentido. Onde será que reside o sentido de viver para Verônika? Se não existe uma razão, talvez não exista vida. Se não há vida, o que estou fazendo aqui?

Verônika, cansada de si mesma, decide morrer. Planeja o fim de todo o seu tormento ao desligar-se para sempre do universo. Para isto, faz um coquetel de remédios e se autointoxica. Porém não consegue chegar para a eterna escuridão. Uma hora abre o olho e se encontra internada num quarto em Villete, uma espécie de casa para tratar pessoas com distúrbios mentais (vulgo manicômio). Logo alguém vem lhe explicar que seu suicídio foi mal sucedido. Uma mistura de decepção - nem isto eu consegui? - com um provável alívio de continuar ali toma conta do rosto de Verônika.

O desenvolver da história mostra a relação de Verônika em Villete e de seus frustrados tratamentos, uma vez que a garota continua propícia ao suicídio. Um tratamento alternativo é colocado em paralelo pelo responsável por Villete: dizer a Verônika que a intoxicação afetou partes de si que fatalmente lhe levariam a morte a qualquer momento. Com a certeza de morte ao invés da possibilidade gerada por si, Verônika reaprende a viver com aqueles que tanto quanto ela estão deslocados em um mundo que não lhes pertencem. Com a certeza que cada dia poderá ser o seu ultimo dia, Verônika passa a viver intensamente cada momento. O tratamento experimental é dado como certeiro.

O filme está bem fiel ao que encontramos nas linhas do livro. Além disto, temos algo a mais na película: a presença de Sarah Michelle Gellar - a eterna Buffy, a caça-vampiros - que neste filme dá uma aula de atuação, com cenas muito marcantes. Todo o filme é retrato como se fosse o ápice, com cenas muito bem trabalhadas e que merecem muita comemoração por parte dos envolvidos. A trilha sonora está impecável e condiz perfeitamente com o clima do filme. O time inteiro trabalha bem e o resultado não poderia ser melhor.

Verônika Decide Morrer é um ótimo exercício de reflexão em torno da questão sobre qual o valor e qual é o nosso papel diante da vida, sendo que o grande presente do universo é que ele está disponível para nós e o grande problema é que procuramos tanto que esquecemos que tudo está diante de nossa face. Belíssimo drama que não deveria ser negado por quem gosta de um bom cinema.

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