Bernard Cornwell: O Último Reino

Já faz algum tempo que venho lendo livros mais densos. Entenda por "densos" aqueles livros que te levam a refletir em inúmeras coisas, que te acompanham com suas ideias durante o trânsito e durante o banho. Desde a morte de Saramago prometi dar um tempo a mim mesmo e prometi que iria procurar livros buscando tão somente entretenimento. Sou apaixonado pela época onde as coisas se resolviam na espada e lembro que há uns 10 anos havia lido uma sequência de livros cuja narrativa me deixava tão perplexo, graças a habilidade do autor (e que descrevia tão bem os eventos de sua história), que quis novamente sentir aquele frenesi nos tempos atuais.

O conjunto de livros era uma trilogia conhecida como As Crônicas de Arthur, constituído pelos livros "O Rei do Inverno", "O Inimigo de Deus" e "Excalibur". O autor da façanha é um inglês chamado Bernard Cornwell. Desta vez, depois de tanto tempo, resolvi experimentar o primeiro livro de sua nova saga, chamada de As Crônicas Saxônicas, cujo autor não sabe quando irá acabar, porém até agora temos 5 livros publicados.

Este primeiro de chama O Último Reino é extremamente interessante. Eu, que só queria passar o tempo, aprendi uma série de coisas sobre a história da Inglaterra, sobre o modo de vida dos Vikings e sobre como Alfredo, o Grande, se tornou rei. Não há como não se sentir tentado a aprender mais sobre as civilizações descritas no livro, como os dinamarqueses e os saxões, logo me encontrei no Wikipedia pesquisando sobre o tema.

Fiquei surpreso ao saber que mesmo algumas personagens vikings mencionada no livro, com papéis fundamentais para o desenvolvimento da trama, realmente existiram, como o caso de Guthrum (o Sem-Sorte), Ivar (O Sem-Ossos) e Ubba Ragnarsson. Também é interessante observar detalhes da vida de Alfredo e sua relação com a fé, assim como a influência da Igreja Católica entre os governantes. Paralelamente, temos também a superstição dos dinamarqueses e a fúria de um ataque viking.

Em nenhum momento Cornwell deixa a peteca cair. O ritmo do livro é excelente e proporciona muitas horas agradáveis aos seus leitores. Quanto a história, ela é narrada em primeira pessoa por Uthred, um príncipe que quando criança vislumbrou os saxões invadiram o reinado de seu pai, assassinando a todos e lhe tomando como prisioneiro. Uthred é criado pelos vikings dinamarqueses e assim aprende a cultura, suas técnicas de combate e mesmo a sua língua. Uthred passa a gostar do modo de vida dinamarquês e tem mais afeição à eles do que ao seu reino natal, embora ele sempre se sinta dividido entre reconquistar as suas terras natal ou permanecer como um estrangeiro entre os dinamarqueses.

Alfredo, visto que Uthred tem sangue nobre, pede para sequestrarem Uthred e trazê-lo de volta para o seu lado, porém Uthred resiste, visto que nem o cristianismo e nem Alfredo lhe agrada. Logo, na primeira oportunidade, Uthred foge novamente para um acampamento dinamarquês. No decorrer da trama, após inúmeras conquistas, os dinamarqueses sofrem uma emboscada e aqueles que protegem Uthred são assassinados. Logo ele é obrigado a voltar a ficar do lado de Alfredo, que não satisfeito com o comportamento de Uthred, força situações que sirvam de castigo para o jovem. Lhe arranja um casamento forçado - que acaba por dar certo -, tentar tornar Uthred cristão de todas as maneiras (o que não acontece até então) e o coloca na linha de frente de missões perigosíssimas.

Uthred, entretanto, se torna um grande guerreiro. Logo, ele é o mal necessário nos planos de Alfredo. Seu potencial é tão grande que no romance ele derrota Ivar (O Sem-Ossos) numa batalha que se desenrola nas páginas finais do livro. Mas do lado do rei Alfredo, é interessante notar que Uthred se mantém fiel à aqueles que lhe criaram. Embora todos tenham sido assassinados, ele sempre mantém uma trégua com Ragnar (o filho), um jovem comandante dinamarquês filho de Ragnar (o pai), que sequestrou e também criou Uthred como se fosse seu próprio filho. Ou seja, Uthred e Ragnar se respeitam como irmãos, mesmo estando de lados opostos.

Pena que o livro tenha acabado. Agora preciso arranjar um espaço para colocar o segundo volume em minha fila de leituras. Enfim, quem quiser se divertir com uma excelente trama, que traz consigo uma carga enorme de história e muito entretenimento, certamente encontrará nesta saga a medida exata para o que procura.